Pelo sexto ano consecutivo, o Iraque foi o país mais letal para a imprensa no mundo, segundo a análise de fim de ano do Comitê para a Proteção dos Jornalistas (CPJ). As 11 mortes documentadas no Iraque ao longo de 2008, um número bem inferior ao de anos anteriores, continuam figurando entre as mais altas cifras anuais registradas na história do CPJ.
O CPJ apurou que, em todo o mundo, 41 jornalistas foram mortos em decorrência de seu trabalho em 2008; no ano passado, foram 65. O CPJ continua investigando a morte de outros 22 jornalistas para determinar se estão vinculadas ao desempenho profissional.
A diminuição no número de jornalistas mortos em todo o mundo pode ser atribuída, em grande parte, ao Iraque, onde as fatalidades baixaram de um recorde de 32 mortes registradas em 2006 e em 2007. Jornalistas indicaram ao CPJ que o menor número de mortes coincide com uma melhoria geral nas condições de segurança no Iraque.
Durante as entrevistas com o CPJ, jornalistas e analistas destacaram uma variedade de fatores: o aumento de tropas norte-americanas desde 2007; o fato de líderes tribais sunitas rechaçarem a rede al-Qaida e outros combatentes estrangeiros na província de Anbar e em outros locais no oeste do Iraque; um cessar-fogo declarado pelo clérigo xiita independente Moqtada al-Sadr contra as forças da coalizão liderada pelos Estados Unidos; e a consolidação do controle sectário nos arredores. Jornalistas relataram ao CPJ que a presença menos numerosa de meios de comunicação ocidentais também contribuiu para a diminuição das mortes no Iraque.
Morte em bombardeio
Todos os jornalistas mortos em 2008 eram iraquianos que trabalhavam para meios de comunicação locais. Entre as vítimas está Shihab al-Tamimi, diretor do Sindicato dos Jornalistas iraquianos, que morreu em conseqüência de ferimentos sofridos em um atentado em Bagdá. Soran Mama Hama, repórter da revista Livin, foi baleado em frente à sua residência depois de ter informado sobre prostituição e corrupção em Kirkuk.
Dois trabalhadores de apoio à imprensa também morreram no Iraque durante este ano. Desde o início da guerra, em março de 2003, 136 jornalistas e 53 funcionários de meios de comunicação morreram no Iraque, convertendo este conflito no mais mortífero para a imprensa na história recente.
O número de mortes em 2008 reflete uma mudança nos pontos mais conflituosos ao redor do mundo, já que um alto número de fatalidades foi registrado em áreas agitadas da Ásia e no Cáucaso. Conflitos no Paquistão, Afeganistão, Índia e Sri Lanka, juntos, cobraram as vidas de 13 jornalistas, de acordo com o CPJ. Abdul Samad Rohani, que trabalhava como correspondente para a BBC e para a agência de notícias afegã Pajhwok, foi assassinado na província afegã de Helmand, localizada em uma perigosa área da fronteira com o Paquistão, depois de noticiar sobre o narcotráfico local.
Três repórteres morreram quando cobriam conflitos civis na Tailândia. Outros três morreram, em um período de apenas cinco dias, enquanto cobriam o conflito entre forças da Geórgia, Rússia e locais pelo controle da polêmica região da Ossétia do Sul. Stan Storimans, cinegrafista que trabalhava para a estação de televisão holandesa RTL Nieuws, morreu durante o bombardeio de Gori, cidade localizada na área central da Geórgia.
Baleado sob custódia da polícia
Mais de 90% dos repórteres que morreram em decorrência de seu trabalho eram jornalistas locais que trabalhavam para meios de comunicação locais, regionais e internacionais. Entre eles figurava Nasteh Dahir Farah, jornalista da Somália que trabalhava para vários meios de comunicação locais e internacionais, assassinado a tiros por insurgentes na cidade portuária de Kismayo.
O assassinato continua sendo o principal motivo das mortes relacionadas diretamente ao trabalho informativo: vinte e oito dos jornalistas mortos em 2008 foram alvo de ataques. Ivo Pukanic, proprietário do rigoroso semanário político Nacional, na Croácia, foi assassinado quando uma bomba explodiu sob seu veículo. O diretor de marketing da publicação, Niko Franjic, também morreu no atentado.
Dois jornalistas que trabalhavam para emissoras de rádio nas Filipinas, Denis Cuesta e Martin Roxas, foram assassinados em 2008 depois de informarem sobre assuntos controversos em suas regiões. As pesquisas do CPJ em 17 anos demonstram que as Filipinas e a Rússia figuram entre os países com maior número de jornalistas mortos por realizarem seu trabalho e estão entre os piores na resolução dos assassinatos.
Na Rússia foram registrados dois casos de jornalistas mortos em conseqüência de seu trabalho. Uma das vítimas foi Magomed Yevloyev, proprietário do popular site de notícias Ingushetiya, que foi baleado na cabeça quando estava sob custódia da polícia. O CPJ lançou uma campanha internacional em busca de justiça nos casos de jornalistas assassinados, com particular ênfase nas Filipinas e na Rússia.
Sete mexicanos desaparecidos
Sete jornalistas morreram em conseqüência de situações de combate. Fadel Shana, cinegrafista da agência Reuters, morreu atingido pelo projétil de um tanque israelense enquanto realizava filmagens na Faixa de Gaza. O tanque disparou contra Shana, causando a sua morte e a de outros oito transeuntes, apesar do cinegrafista estar vestindo uma jaqueta com a palavra press [imprensa] e ter descido de um veículo utilitário que ostentava a palavra TV. Os militares israelenses declararam que a tripulação do tanque agiu de forma apropriada.
Seis jornalistas morreram cobrindo situações perigosas, como distúrbios sociais e protestos de rua. Entre as vítimas está Javed Ahmed Mir, um cinegrafista da Índia que foi baleado por forças de segurança quando se preparava para cobrir um protesto em Srinagar.
Segundo o CPJ, um jornalista morreu em represália direta por seu trabalho no México. Indivíduos armados dispararam contra Alejandro Zenón Fonseca Estrada, apresentador de rádio que dirigia uma campanha contra a criminalidade, na principal avenida de Villahermosa, capital do estado de Tabasco. Quatro outros jornalistas mexicanos morreram sob circunstâncias ainda não esclarecidas em 2008; o CPJ continua apurando estes casos. Além disso, as investigações do CPJ mostram que ao menos sete jornalistas mexicanos desapareceram desde 2005. O México continua sendo um dos países mais perigosos para a imprensa na América Latina.
Listagem será divulgada em janeiro
A Bolívia e o Camboja também figuram na lista de países com jornalistas mortos por seu trabalho este ano.
O CPJ, fundado em 1981, compila e analisa as mortes de jornalistas a cada ano. A equipe do CPJ aplica um critério estrito para cada caso na lista anual de jornalistas mortos; os pesquisadores realizam entrevistas independentes e verificam as circunstâncias por trás de cada assassinato. O CPJ considera um caso relacionado com sua profissão somente quando a equipe possui certeza razoável de que um jornalista foi morto em represália direta por seu trabalho, em fogo cruzado, ou cumprindo uma tarefa de risco.
Se o motivo do crime ainda não está claro, mas existe a possibilidade de que o jornalista tenha sido morto em relação direta com seu trabalho, o CPJ classifica o caso como ‘não confirmado’ e continua investigando. A listagem do CPJ não inclui jornalistas que morreram por enfermidade ou em acidentes – como colisões ou acidentes aéreos – a menos que o acidente tenha sido provocado por uma ação hostil. Outras organizações de imprensa, que utilizam diferentes critérios, registram números maiores de jornalistas mortos que os do CPJ.
Uma relação dos jornalistas mortos por seu trabalho em 2008, com informações sobre cada caso, está disponível no site do CPJ. Além disso, há boxes informativos sobre cada um dos casos não confirmados que o CPJ continua investigando e sobre os trabalhadores de apoio aos meios de comunicação mortos. Uma listagem final dos jornalistas que morreram neste ano em decorrência de seu trabalho será divulgada no início de janeiro de 2009. [Nova York, 18 de dezembro de 2008]
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O CPJ é uma organização independente, sem fins lucrativos, sediada em Nova York, que se dedica a defender a liberdade de imprensa em todo o mundo