A imprensa paulistana não precisou meditar muito para deixar patente, sem adjetivar o noticiário, que as ações da Prefeitura e do Governo do Estado na principal cracolândia da cidade carregam o vício da preocupação com o marketing político em ano eleitoral.
As informações contidas em reportagens do Estado de S. Paulo foram usadas na sexta-feira (6/1) em editorial que, em lugar dos habituais apelos “à lei e à ordem”, questiona toda a lógica da operação de dispersão de usuários de crack.
E valoriza o raciocínio do vice-presidente da Comissão Nacional da Criança e do Adolescente da OAB, Ariel Castro Alves: a investigação da Polícia Civil é que poderia dificultar a ação de traficantes.
Faltou perguntar o que faz o Departamento de Narcóticos da Polícia Civil paulista além de fornecer notícias sobre denúncias de cobrança de “pedágio” por policiais a traficantes, roubo de cocaína apreendida, etc.
Elites abandonaram o Centro
A Folha de S. Paulo ainda concede à operação “Ação Integrada” o benefício da dúvida, mas com forte tintura de ceticismo.
Seu editorial comete uma injustiça quando atribui aos usuários de crack a deterioração daquela área urbana. A deterioração começou muito antes, quando a elite paulistana caiu fora do Centro e tentou erigir novos “centros”, caminhando em direção e ao longo do malcheiroso Rio Pinheiros: Paulista (sucesso relativo), Faria Lima (sucesso relativo, mas como enclave), Berrini (insucesso patético), e agora o prolongamento desta, atravessando a área ao lado do Shopping Morumbi.
A Folha está na Alameda Barão de Limeira desde a década de 50. Viu de perto tudo o que aconteceu na vizinhança antes que ela se tornasse uma cracolândia.