Monday, 25 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Jornalismo passa por fase bipolar

Depois de 15 anos como correspondente da grande mídia brasileira em Washington, vim parar no coração latino dos Estados Unidos, onde hoje leciono jornalismo online e reportagem na Universidade de Miami. A mídia mundial está numa fase de transformação e minha decisão veio da necessidade que vi de fazer parte integral dessa liderança acadêmica para contribuir para a formação da nova geração de jornalistas numa fase confusa, mas fascinante.

Estamos presenciando hoje uma era bipolar, em que um dia a mídia está depressiva, outro dia, maníaca.

Por um lado, a situação do jornal impresso está péssima. Os cortes de pessoal são assustadores. O Miami Herald anunciou faz pouco tempo a demissão de 250 funcionários, 17% da força de trabalho do diário norte-americano. Um novo estudo do Pew Research Center – Projeto de Excelência em Jornalismo (ver aqui) – publicado recentemente indica que 85% dos diários norte-americanos com mais de 100 mil exemplares diminuíram radicalmente o número de profissionais nas redações. Porém, o mesmo estudo mostra que, apesar das incertezas com o futuro do jornalismo, reina o otimismo. A maioria, 53% dos participantes, afirma que a qualidade do texto dos repórteres melhorou nos últimos três anos e 58% dizem que a reportagem em si está hoje também mais séria e sólida. Ainda segundo a pesquisa, 56% acreditam que a qualidade geral do jornal melhorou.

Otimismo nostálgico

O que isso quer dizer? O estudo, um dos mais respeitados nos Estados Unidos, comprova a tese de que a mídia está passando por uma fase bipolar. O futuro incerto e avanços tecnológicos, que por um lado ameaçam o jornalismo mundial, representam também uma esperança – o retorno – às raízes jornalísticas.

Curiosamente, o leitor, que no passado recente era desligado e até alienado, com a disponibilidade e livre acesso à notícia e informação hoje em dia está cada vez mais exigente. A chamada ‘nova mídia’ está, de fato, proporcionando à tradicional e grande imprensa a chance de se redimir, se refazer, se transformar através de novas idéias, ao mesmo tempo em que retoma os valores básicos da missão jornalística, de servir aos leitores – e não ao ego – de informar e de investigar. O jornalismo ‘colaborativo’ não é mais motivo de chacota do jornalista ‘formado’, mas sim uma ameaça e desafio. No mundo capitalista, a competição traz qualidade.

O caos da notícia excessiva trazido pela tecnologia na era do YouTube, Orkut e Facebook, no final será a salvação do velho jornalismo digno de respeito. No bipolarismo jornalístico que vivemos hoje, portanto, a confiança no futuro representa um otimismo nostálgico da volta ao passado.

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Jornalista, professora da Universidade de Miami