O secretário da segurança do Maranhão, Aluísio Mendes, confirmou ao iG que o jornalista Décio Sá foi de fato executado emfunção da atividade que ele exercia em São Luís. Sá era repórter de política do jornal O Estado do Maranhão, de propriedade da família Sarney e tinha um blog.
O blog era o mais lido do Estado com 2,7 milhões de acessos únicos por ano. Ele morreu após ser alvejado com seis tiros na noite de segunda-feira. Três atingiram o jornalista.
Segundo informações de fontes ligadas à Secretaria de Segurança (SSP), existem pelo menos duas linhas de investigação. A Polícia, entretanto, não pretende divulgá-las para não atrapalhar a elucidação do crime. “Mas não existe dúvida de que o crime tem relação com a atividade que ele exercia no blog ou no jornal”, declarou Mendes.
Repercussão: Entidades condenam assassinato de jornalista no Maranhão
Durante a madrugada, internautas fizeram reverência a postagens que o jornalista fez denunciando crimes de pistolagem no Estado. Mendes ressaltou que esse crime não foi encomendado em menos de um dia. “Foi algo profissional”, ressaltou.
O crime foi planejado há vários dias, segundo a SSP. Sá foi morto quando estava em um restaurante na avenida Litorânea de São Luís, por volta das 23h30.
A polícia já tem algumas pistas sobre os autores do crime. Um retrato falado dos assassinos deve ser divulgado na quarta-feira (25) em São Luís. Ainda conforme a Secretaria da Segurança do Maranhão, foi montada uma frente com três delegados de política para elucidar o assassinato de Sá.
“É um crime de difícil elucidação, mas daremos respostas o mais rápido possível”, declarou. Nesta quarta-feira, um grupo de empresários do Maranhão ofereceu uma recompensa de R$ 100 mil para quem der pistas sobre o paradeiro dos assassinos.
O presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP) e sua filha, a governadora do Maranhão, Roseana Sarney (PMDB), divulgaram notas oficiais lamentando a morte do jornalista. Roseana disse que o governo do Estado em hipótese alguma ficará inerte diante de tamanha brutalidade.
Sarney afirmou que “Esse crime hediondo, brutal e cruel tem que ser desvendado para punir os culpados e despertar, cada vez mais, a consciência para a proteção e o respeito à liberdade de imprensa. Seu assassinato, além de uma atrocidade, é um atentado à democracia”.
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Entidades cobram rigor na apuração do crime do jornalista
Reproduzido do Globo.com, 24/4/2012
Entidades que representam jornalistas e órgãos de imprensa cobraram nesta terça-feira rigor nas investigações da morte de Décio Sá, e destacaram que ele foi o quarto jornalista assassinado no Brasil este ano e o quinto desde fevereiro de 2011. A Associação Brasileira de Imprensa (ABI) formalizará um pedido à presidente Dilma Rousseff e ao ministro da Justiça, Eduardo Cardozo, para que a Polícia Federal acompanhe a apuração do caso.
– A vítima fazia um jornalismo combativo, investigativo. Certamente, ganhou grandes inimigos interessados em silenciá-lo. É importante que as investigações sejam acompanhadas pela Polícia Federal, sem ferir a autonomia do estado do Maranhão. Essa participação é importante para que os criminosos sejam identificados e submetidos às penas previstas – disse o presidente da ABI, Maurício Azêdo.
Em nota, a Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) cobrou agilidade na apuração do caso. A Associação alertou que o Brasil é o 11º país com o pior índice de impunidade em crimes contra jornalistas.
“A Abraji vê com preocupação a escalada de violência contra jornalistas no Brasil e cobra agilidade das autoridades na solução do caso. Além de responsabilizar os culpados, a investigação deve esclarecer a motivação do crime e se ele teve relação ou não com o trabalho jornalístico. Crimes que visam calar um jornalista configuram um grave atentado à liberdade de expressão.”
Já a Associação Nacional de Jornais (ANJ) chamou a atenção para a impunidade.
“A ANJ assinala com grande preocupação que esse é o quarto assassinato de jornalista no Brasil apenas em 2012, o que demonstra o efeito pernicioso da impunidade nos casos de atentado à vida de profissionais que trabalham para melhor informar os cidadãos” – afirmou em nota.
O assassinato de Décio repercutiu no exterior. A Sociedad Interamericana de Prensa (SIP) divulgou reportagem sobre os crimes contra repórteres no Brasil, e ressaltou que a morte de Décio ocorreu um dia após a instituição alertar para os risco da profissão no país. A SIP ainda relacionou a ocorrência de oito agressões a comunicadores; uma prisão de jornalista; seis atentados e seis ameaças a profissionais de imprensa; além de seis casos de censura judicial.
A organização Repórteres sem Fronteiras pediu esforço para esclarecer o crime, ressaltando que a ação teria sido planejada. A instituição destacou em seu site que o Brasil caiu 41 posições no último ranking de liberdade de imprensa divulgado pela organização, ocupando a 99 colocação numa lista de 179 países. A entidade cobrou garantias para que os jornalistas trabalhem em segurança, inclusive em pautas sobre corrupção ou vários tipos de tráfico.