As autoridades bolivianas devem investigar a fundo e levar à justiça as pessoas responsáveis pela morte de Carlos Quispe Quispe, um jornalista que trabalhava para uma rádio governamental em Pucarani, declarou hoje o Comitê para a Proteção dos Jornalistas (CPJ). Quispe morreu em 29 de março, depois de ter recebido uma violenta surra de manifestantes que pediam a expulsão do prefeito local.
Na tarde de 27 de março, pelo menos 150 manifestantes reuniram-se em frente ao edifício do governo de Pucarani, uma pequena cidade a 50 quilômetros de La Paz, e instaram o prefeito Alejandro Mamani a renunciar. O prefeito havia sido acusado de corrupção, segundo informes da imprensa local e entrevistas feitas pelo CPJ. Os manifestantes irromperam no edifício municipal e arrombaram a porta da Rádio Municipal. Testemunhas disseram à estação de rádio Onda Local que os manifestantes destruíram o equipamento da rádio e identificaram Quispe como ‘a voz que fala na rádio’.
Manifestantes com chicotes e varas metálicas golpearam Quispe na cabeça e no peito, disse ao CPJ um funcionário da prefeitura que pediu para não ser identificado. Quispe, um estudante de comunicação social da Universidade Mayor de San Andrés em La Paz que havia trabalhado como estagiário durante três meses na Rádio Municipal, foi levado a uma clínica de Pucarani e, depois, a um hospital de La Paz, segundo os relatos da imprensa boliviana. Quispe morreu em 29 de março em decorrência de complicações não especificadas, informou a agência de notícias espanhola EFE.
Instalações destruídas
‘Estamos indignados por este assassinato brutal e instamos as autoridades a conduzirem uma investigação exaustiva para levar à justiça todos os responsáveis’, declarou Joel Simon, diretor-executivo do CPJ. ‘O fato de uma multidão ter realizado o ataque não deve isentar de responsabilidade os indivíduos envolvidos.’
A Rádio Municipal, a única estação de rádio de Pucarani, transmitia informação governamental e notícias locais, segundo jornalistas bolivianos. Quispe apresentava um informe noticioso ao meio-dia, disse ao CPJ o diretor-executivo da Associação Nacional de Imprensa, Juan Javier Zevallos. Quispe também apresentava um programa noturno de música no qual freqüentemente entrevistava Mamani, que falava de projetos governamentais e respondia a perguntas dos ouvintes.
Wilson Arteaga, um jornalista da Onda Local que viajou a Pucarani para investigar o incidente, contou ao CPJ que as instalações da Rádio Municipal haviam sido destruídas. A estação de rádio está fora do ar desde então. A polícia local não possui um telefone, e o CPJ não pôde contatá-la. [Nova York, 8 de abril de 2008]
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O CPJ é uma organização independente, sem fins lucrativos, sediado em Nova York, e se dedica a defender a liberdade de imprensa em todo o mundo