A Secretaria Municipal da Reparação (Semur) reuniu jornalistas e outros profissionais de comunicação para um café da manhã no dia 24/8 em Salvador. O evento, que contou com o apoio da Fundação Cultural Palmares, teve como objetivo discutir formas de pautar a questão racial diariamente, contribuindo com as crescentes ações de promoção da igualdade racial em todo o Brasil.
Para isso, a Semur convidou a jornalista Michele Borges, do jornal O Tempo, de Minas Gerais, que tem uma página semanal, há 9 anos, destinada às questões da população negra. O Blequitude é uma experiência inovadora por pautar temas raciais, abrindo espaço à cultura negra, à identidade afro-brasileira e à luta contra o racismo. A página foi concebida para ser uma vitrine para criadores afro-descendentes, assim como espaço privilegiado para o debate sobre políticas de inclusão racial.
Participaram do café da manhã a presidenta do Sindicato dos jornalistas da Bahia, Kardé Mourão, a diretora do Sindicato dos Radialistas e Publicitários, Francis Montes, além de professores, estudantes de Comunicação e profissionais de veículos impressos, rádio, TV e websites.
Os convidados discutiram a dificuldade de se pautarem os temas raciais nos grandes veículos e o pequeno número de profissionais negros nas redações. O Sinjorba anunciou a realização de um seminário, em setembro, para aprofundar o tema e para a criação da Comissão de Jornalistas pela Igualdade Racial da Bahia (Cojira-BA). Comissões como essa já foram criadas nos sindicatos do Rio de Janeiro, de São Paulo e do Rio Grande do Sul.
A data escolhida para o café da manhã foi uma homenagem ao jornalista negro abolicionista Luís Gama, morto em 1882, e que merece maior reconhecimento da sociedade baiana por seu papel político na luta pelo fim da escravidão.
Desde a criação do jornal O Tempo, o Blequitude sai regularmente às quartas-feiras, no caderno de arte e cultura Magazine, trazendo matérias com personalidades da área cultural, dos movimentos sociais negros e com pensadores da questão racial. Por muito tempo, teve entre seus articulistas o poeta e escritor Rick Aleixo, pesquisador da cultura negra e suas inter-relações. Além da página negra, o jornal criou um espaço para o público GLS, uma página aos sábados, que já sofreu resistência de alguns leitores conservadores.
Michele Borges apresentou também um vídeo-documentário realizado por estudantes de Jornalismo de Minas Gerais sobre o Blequitude. ‘Se não podemos quantificar a transformação gerada pela página na sociedade, podemos afirmar a mudança do pensamento em relação à questão racial dos profissionais que trabalham na página e o tratamento de todo o jornal ao tema. Nós nos esforçamos para que os temas de interesse da população negra não sejam restritos ao Blequitude, mas que perpasse todas as editorias. O que fazemos na página é destacar, colocar mais holofotes sobre o tema. Todo artista que é entrevistado pela página, por exemplo, além de falar da sua arte, deve refletir sobre sua condição de afro-descendente’, explicou a editora.
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Jornalista, assessor da Secretaria Municipal da Reparação