Sunday, 17 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1314

Jornalistas franceses, independência ou revolta

A informação na França está ameaçada? Os exemplos de pressões sobre a mídia são, realmente, ‘dignos de uma república de bananas’?


Os jornalistas franceses pensam que a informação é importante demais para ficar nas mãos de industriais e financistas. E para não perder a liberdade de que gozaram até hoje – e garantir a independência de todos os poderes, políticos ou econômicos – eles iniciaram uma batalha por mais proteção legal e pela defesa da independência jurídica das redações.


A redação ideal não pode estar subordinada à direção da redação nem ao acionista majoritário do órgão de comunicação, segundo entendem os jornalistas franceses mobilizados para defender a liberdade de informar. E por avaliarem que essa liberdade de informar está ameaçada como nunca desde o fim da Segunda Guerra Mundial, seis sindicatos de jornalistas convocaram a imprensa na segunda-feira (24/9), em Paris, para dar início a um movimento de resistência contra o controle da mídia pelo capital e pelo poder político. Este, na avaliação dos jornalistas, exerce pressões pela proximidade entre o novo presidente da República, Nicolas Sarkozy, e os barões da imprensa. Os exemplos de matérias censuradas são numerosos.


Proteção legal


A tendência do novo governo francês é confundir informação e comunicação. Para tentar dirigir o noticiário da imprensa, por exemplo, foi montada uma assessoria de comunicação da qual fazem parte jornalistas conhecidos, egressos de grandes jornais e revistas. Alguns jornais noticiam com freqüência as pressões exercidas sobre jornalistas – ‘dignas de uma república de banana’, como assinala o texto dos seis sindicatos de jornalistas. As entidades convocam um debate para o dia 4 de outubro, cuja pauta é a discussão da luta pela manutenção da independência e por novas garantias legais para o exercício da profissão, como a independência jurídica das redações.


‘Se a informação é um direito de todo cidadão, ele começa pelo respeito ao direito de informar’, ressaltou o jornalista David Larbre durante a coletiva a que compareceram jornalistas franceses e correspondentes estrangeiros.


Os exemplos de interferência e pressões sobre as redações se multiplicam desde que Nicolas Sarkozy assumiu a presidência da República, em maio deste ano. Um dos textos distribuídos à imprensa é um discurso do então candidato em que ele se comprometia a defender a independência e a liberdade de informação com proposições concretas. Agora, os jornalistas cobram as leis para garantir essa independência.


Além disso, eles querem mais proteção legal das fontes, alinhando o direito francês ao direito europeu. Outra grande preocupação da profissão é proteger o pluralismo da informação, com a existência de uma imprensa que represente todas as correntes políticas, e garantir que as leis que protegem o trabalho dos jornalistas não vão ser mudadas, como desejam os patrões da imprensa.


Sem surpresas


Os sindicatos de jornalistas lembram que somente o reconhecimento jurídico da equipe da redação pode garantir uma informação isenta e livre num Estado de direito digno desse nome.


Para que o movimento dos jornalistas em defesa da liberdade de informar não pareça uma batalha corporativista, os jornalistas programam ações para despertar os cidadãos para a ameaça que pesa sobre a informação na França.


Para um povo que derrubou a Bastilha e cortou a cabeça do rei (e da rainha), uma boa batalha nas ruas contra o poder constituído não assusta nem surpreende ninguém.

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Jornalista