Outro dia, minha filha de 15 anos me disse que havia encontrado um “superamigo”. Eu, feliz, logo perguntei quem era o “superamigo”, qual o nome dos pais, onde ele estudava, onde haviam se conhecido. Para minha surpresa, ela só soube me dizer o nome dele. Aliás, o apelido. Gelei. Minha reação foi de medo. A dela foi de tranquilidade. “Ah, pai, sei lá, acho que o conheci no Face. Acho que ele é amigo de outra 'superamiga'.”
É incrível como as novas gerações tratam a questão da privacidade de uma maneira tão mais descomplicada e, infelizmente, às vezes, mais inconsequente do que as gerações mais antigas. Lembro que quando era garoto, falar com estranhos ou aceitar algo na rua era perigosíssimo. Ganhar uma bala então, nem pensar. Os pobres vendedores de doces da porta da escola eram demonizados. Segundo o dito popular, havia grande chance de que tivessem colocado alguma droga nas balas. E elas certamente me levariam a um vício irremediável. Verdadeira ameaça para a família.
As novas tecnologias estão redefinindo conceitos sociais básicos, como exposição (ou exibição), amizade e confidencialidade. Muitos desses jovens da nova geração usam a tecnologia como impulsionadora de comportamento aberto. Com um celular na mão e uma conta num blog ou numa rede social, transformam-se em paparazzi globais. Falam de tudo, para todos. Não há restrição do que pode ou não ser publicado. Muitas dessas publicações juvenis, porém, fazem sentido quando se tem 15 anos de idade. No entanto, são embaraçosas quando o jovem depara com momentos pertinentes à maturidade.
A tecnologia é perene
Acredito que o conceito de privacidade está mudando com o passar dos tempos.
A tecnologia, por incrível que possa parecer, também tem influência direta na maneira como lidamos com as informações confidenciais. E não estou falando somente da internet e do que colocamos lá. Os meios de pagamento, as lojas virtuais, os buscadores, as redes sociais. Todos têm uma capacidade única de oferecer serviços cada vez mais personalizados, utilizando-se de informações permitidas e disponibilizadas pelos usuários.
Mas a condescendência com informações confidenciais mais abertas não é novidade. Costumo dizer que, desde a época em que tínhamos de colocar o telefone, o número do CPF e outros tantos dados anotados no verso de uma folha de cheque, a privacidade nunca seria como antes. Hoje é absolutamente normal que adolescentes criem seus próprios blogs ou usem as redes sociais para registrar a sua história na internet. Neles, compartilham suas experiências abertamente. Divulgam fotos dos amigos, relatam as viagens com a escola, as primeiras baladas, os primeiros namoros.
À medida que esses jovens amadurecem, percebem que essas informações deixam de ter o sentido que tinham há cinco, dez anos. No entanto, a tecnologia é perene. E essas informações estarão disponíveis para sempre. Imaginem aquele blog criado para compartilhar as aventuras colegiais, as bebedeiras, as baladas e outras tantas peripécias na mão de quem está avaliando o currículo de um jovem postulante a seu primeiro emprego…
O público e o privado
Recentemente, uma pesquisa da Universidade da Califórnia, em Berkeley, mostrou que, com o passar dos anos e o avanço da maturidade e do interesse pelo mercado de trabalho, mais da metade dos jovens adultos se dizem mais preocupados com a privacidade na internet do que há cinco anos. A boa notícia é que esses jovens estão também muito mais espertos tecnologicamente. Sabem que as redes sociais e outros sites da internet têm uma preocupação central em permitir o controle da privacidade através de ferramentas bastante simples.
Minha mensagem para os jovens: a tecnologia não vai apagar o que você tornou público. E, sim, não importa quanto e nem onde você se conecta. É importante saber diferenciar o que é público e o que é privado. Fica a dica.
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[Alexandre Hohagen, jornalista e publicitário, é responsável pelas operações do Facebook na América Latina]