Monday, 25 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Justiça aceita censura da biografia do cantor

A Justiça acaba de ordenar a Editora Objetiva o recolhimento da biografia de Roberto Carlos (Roberto Carlos em detalhes, de Paulo César Araújo, 504 pp). É pura censura. Uma decisão contra o bom jornalismo e a liberdade de expressão.

O livro relata fatos, sem invasão de privacidade ou qualquer outra agressão à imagem do cantor (ver ‘O Rei Roberto Carlos, de novo‘,)

A postura de Roberto Carlos é anacrônica. Suas histórias são públicas, quer ele queira quer não.

Uma vez, quando era redator-chefe da Quem, uma atriz me disse barbaridades sobre o trabalho do jornalismo de celebridades – o que encaro como um segmento como outro qualquer. Respondi que tudo bem. Nunca mais a revista iria procurá-la. Nem quando ela estreasse uma peça ou filme.

Ela calou-se.

Vida real

As celebridades – assim como os governos, como diria Octávio Frias de Oliveira – querem a mídia de joelhos. Os famosos vêem a mídia de uma forma utilitária.

Não é essa a função do jornalista.

O livro de Paulo César de Araújo, um historiador, é um trabalho jornalístico de alto nível. Roberto Carlos, como a maioria das celebridades, quer a entrevista programada, se possível, anual, quando sai o disco, em horário nobre, sem sangue, sem suor e com algumas lágrimas. Poucas.

Os artistas são figuras públicas, escolheram isso e fazem da mídia sua plataforma para construir uma imagem que lhes renderá fortunas. O jornalista tem a função, portanto, de revelar ao público a verdadeira imagem-história do artista para que as pessoas possam fazer um juízo de valor com informações e não só com manipulações de marketing.

Um ator que não é, na vida real, um bom pai não pode passar por um bom pai só para fazer um comercial de TV onde aparece como chefe de família exemplar. O jornalismo de celebridade tem esta função.

Mas Roberto Carlos, pelo visto, não gosta de jornalismo.

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Jornalista