O advento das novas tecnologias, especificamente o computador e variados programas interativos, veio, verdadeiramente, causar uma incomensurável revolução nos hábitos e costumes das sociedades, particularmente da sociedade brasileira.
Já escutei inúmeras vezes alguns formadores de opinião, inclusive quando se fala no fim de um meio de comunicação em detrimento do surgimento de outro, dizerem que é uma minoria da sociedade brasileira que tem acesso ao computador. Esquecem eles que, com o aparecimento das lan houses, é comum hoje, o acesso, por um valor ínfimo, ao e-mail pessoal, ao Orkut, aos jogos eletrônicos e, finalmente, aos inúmeros sites da rede mundial de computadores.
Em outro artigo publicado no vespertino O Jornal de Hoje, de 11 de agosto de 2004, com o título ‘O Analfabeto Tecnológico’, falei do risco das pessoas servirem de instrumento de dominação (alienadas em relação às novas tecnologias), reféns na construção da sua própria história. Não é o que ocorre com as crianças e jovens que estão, cada vez mais, sintonizados com as novas tecnologias.
Reeducação dos pais
Recentemente o juiz de direito José Dantas de Paiva, da 1ª Vara da Infância e Juventude da comarca de Natal, editou a portaria de nº05/2007, normatizando a permanência das crianças e adolescentes nas casas de jogos eletrônicos. Foi uma atitude indiscutivelmente acertada. Como se costuma dizer, decisão judicial não se discute. Cumpre-se.
Outra questão que se coloca em xeque é o lançamento do filme Tropa de Elite (classificação indicativa, 16 anos). O público brasileiro está aguardando o lançamento em circuito nacional. Alguns brasileiros, os que geralmente não podem pagar uma sessão de cinema, já tiveram acesso ao filme através de cópias piratas.
Já vi várias crianças e jovens empolgados com o filme; já ouvi um pai dizer: ‘O meu filho já assistiu doze vezes’. Fico a me perguntar até onde a lei, efetivamente, vai regulamentar a vida em sociedade, especificamente o acesso às novas tecnologias, por parte das crianças e jovens. Como fica o acesso aos jogos eletrônicos no computador de casa, ou o filme assistido (original ou pirata) no DVD pessoal? Será que não seria o caso de repensarmos a possibilidade de uma reeducação dos pais?
Atrasados e ‘desantenados’
É urgente que os pais não transfiram exclusivamente para a escola a responsabilidade pela educação dos filhos. A família deve assumir o seu papel de estabelecer limites, através do diálogo franco e verdadeiro, e saber discernir entre o certo e o errado na hora de tomar decisões.
É urgente um grande debate nacional, com a utilização dos meios de comunicação, como a televisão, que é uma concessão pública, sobre os problemas e desafios enfrentados pela sociedade e de como colocá-los na grade curricular das escolas. A escola não pode se limitar, apenas, aos conteúdos tradicionais, mas enfrentar os desafios que surgem diariamente.
Não se combate a violência, inclusive de origem doméstica, estimulando as pessoas (crianças e jovens) ao uso de recursos audiovisuais propagadores da violência.
A sociedade brasileira tem que sair da apatia. Hoje temos medo de ser do contra, para não parecermos atrasados e ‘desantenados’ com o mundo moderno e globalizado.
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Jornalista, Natal, RN