Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Mais um livro censurado em Goiás

Sou jornalista e, em 22 anos de profissão, especializei-me na área investigativa. Respondi a mais de 20 processos e fui absolvida em todos eles, pois não publico matéria sem provas. Tive reportagens divulgadas na Folha de S. Paulo (todas assinadas) e fui citada na revista Veja como a repórter que denunciou, em primeira mão, o esquema do tráfico de cocaína num complexo garimpeiro na Serra do Cachimbo, na Floresta Amazônica.

Fiquei 62 dias prisioneira no complexo de 10 garimpos de ouro, mas por causa da minha reportagem, o MPF acionou a Polícia Federal que os desativou, prendeu os donos e libertou quem ali trabalhava em regime de escravidão. Até cemitério clandestino eu descobri perto do Rio Curuá.

Agora publiquei um livro (Zezé e Luciano – A reportagem proibida), onde revelo os bastidores da trama armada pela dupla para me jogar numa prisão em São Paulo, acusando-me de extorsão. O livro prova a minha inocência e esclarece que a história começou quando denunciei Luciano por esbofetear um adolescente no centro de Goiânia e não aceitei o dinheiro que ele me ofereceu para abafar o caso.

Face desumana

As revelações são muitas e todas documentadas, a exemplo de Zezé ter contratado um pistoleiro para me matar. Essa denúncia foi feita à imprensa local pela juíza de Direito Camercy Rosa, que não me conhece pessoalmente. A dupla conseguiu censurar o livro e, pasme, mandou até recolher jornais que falavam de seu lançamento, tudo via judicial. Contudo, temo pela minha vida e a de meu filho pequeno.

Tenho medo de que, passada a repercussão sobre a publicação e a censura do livro, os cantores queiram me matar. Eles já me ofereceram dinheiro várias vezes em troca do direito autoral e eu não aceitei. O livro não faz apologia ao preconceito sexual, como os irmãos alegam (tanto é verdade que eu revelo nele ter sido casada com um bissexual). O medo da dupla é o público conhecer sua face desumana, um caráter que segue apenas uma palavra de ordem: o poder do dinheiro, para bater em garoto, para tentar subornar jornalista, para cegar ainda mais a justiça e calar a minha voz. Poder para me matar, ou a meu filho, e continuar impune.

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Jornalista