‘Na semana que passou, o provedor deixou o gabinete e foi ao encontro dos leitores. O convite chegou da Escola Secundária C/3º Ciclo de S. João da Madeira (Nº3), em particular das turmas do Curso Tecnológico de Comunicação, que organizaram uma Semana dos Media, com um programa que se estendeu por vários dias.
Este contacto directo com os leitores, especialmente dos mais jovens, poderia e deveria ser uma vertente importante da função de provedor, se ela fosse desempenhada em regime de tempo inteiro, o que não é o caso. De todo o modo, encontros assim, quando se tornam possíveis, constituem uma fonte de enriquecimento para os directamente envolvidos. Com este texto, desejo contribuir para que também seja útil para o JN.
Existe uma convicção muito difundida segundo a qual a maioria dos jovens, hoje, não lê. Não estou seguro de que assim seja. O que ocorre é que provavelmente não lêem aquilo que os mais crescidos entendem que eles deviam ler. Mas estou convicto de que, na sua esfera de interesses e de referências, lêem (e escrevem) tanto ou mais do que os mais velhos. Ora, ‘se Maomé não vai à montanha?’
Aproveitei o encontro com a mais de meia centena de alunos para fazer um pequeno inquérito, meramente indicativo, sobre a relação com os jornais. A esmagadora maioria diz gostar de os ler jornais. Não será de espantar, visto que uma boa parte deles frequenta um curso ligado ao campo mediático, pelo que haverá provavelmente mais sensibilidade para a importância da leitura da imprensa.
Sobre o JN, em particular, as conclusões das respostas não são especialmente conclusivas, mas nota-se uma preferência pelo noticiário local e desportivo. De entre as críticas, merece algumas reticências a quantidade de anúncios (o que não espanta, para uma faixa etária em que a percepção de que não se vive do ar poderá não ser ainda muito sólida). Verifica-se igualmente um motivo de incómodo na leitura do jornal que deixo aqui registado vários dos jovens dizem não gostar que os jornais, ao contrário do que acontece com as revistas, tenham as folhas soltas, isto é, não agrafadas.
‘Que temas ou assuntos te fariam ler o jornal como mais interesse?’, perguntei-lhes eu. Aqui são numerosos os tópicos listados, susceptíveis de fazer pensar os responsáveis deste diário. A ideia geral é que o jornal não diz respeito aos jovens. Representa um mundo que pouco significado tem para eles. Não lhes dá voz; não ausculta os seus interesses e problemas; não debate os assuntos que poderiam motivá-los e abrir-lhes novos horizontes. Exemplos de novos assuntos a tratar, a tratar de outro modo ou a destacar mais? Eis alguns, fornecidos pelos alunos com quem falei computadores, novas tecnologias e Internet; desportos que não sejam só futebol; música, ‘especialmente hip-hop’, e concertos; exploração espacial e temas ligados a descobertas científicas, como por exemplo, em medicina; opções profissionais; humor sobre os assuntos de actualidade; problemas da escola e do quotidiano dos estudantes; sexologia; cinema e eventos culturais.
Escutando com atenção as respostas, a insistência vai para os problemas dos jovens, os assuntos de ciência, as novas tecnologias e outros modos de abordar o campo do desporto. E com esta sugestão a acompanhar ‘Não dêem só problemas, conflitos; dêem também coisas positivas do nosso país’.
Com iniciativas como a ‘Semana dos Media’, que já teve centenas de escolas a aderir, quando o Ministério da Educação assumia a sua quota-parte, e que hoje está reduzida ao esforço de alguns professores mais persistentes, procura-se aproximar o mundo dos alunos do mundo dos media, e em especial dos jornais. Mas esse esforço precisa de ser correspondido, do lado dos órgãos de imprensa, com iniciativas pensadas estrategicamente, com o objectivo primeiro de alargar o leque de temas do jornalismo e de explorar novas linguagens. Tanto melhor se, com isso, se conquistar novos leitores.
Num grande número de países se vem constatando a preocupação com o fosso crescente entre as gerações mais novas e os jornais de informação geral. Entre nós o problema também existe e tende a agravar-se. Se quiserem olhar não apenas para o imediato, mas para o médio e longo prazo, os responsáveis das empresas jornalísticas, directores e editores incluídos, ganhariam em fazer tocar as campainhas de alarme. Este segmento de potenciais leitores pode não ser, à partida, e para recorrer à linguagem do marketing, o ‘target’ mais aliciante. Mas sem o seu envolvimento, sem que eles encontrem motivos de interesse e de participação, afastar-se-ão progressivamente, remetendo-se a formas de (in)comunicação de pequenas ‘tribos’ identificadas por um qualquer interesse.
Um diário em que os jovens se reconheçam e possam participar’