Os jornais paulistas destacam investigação da Polícia Federal sobre ligação do deputado estadual paulista Luiz Moura (PT) com integrantes da facção criminosa conhecida como Primeiro Comando da Capital (PCC). A revelação de que representantes do PCC teriam participado de reunião do deputado com exploradores dos serviços de peruas na região metropolitana de São Paulo seria um indício de que a quadrilha estaria infiltrada no sistema de transporte público para lavar dinheiro de atividades ilegais.
Trata-se de dois aspectos diferentes do mesmo fato. O primeiro deles se refere ao perfil do deputado, que se lançou à política como representante de egressos do sistema penitenciário, após passar dez anos como fugitivo, tendo escapado da prisão onde cumpria pena por assaltos. Luiz Moura nunca escondeu essa condição, e, apesar do estigma e de todos os preconceitos que essa ficha lhe acarreta, isso não o torna inelegível ou menos parlamentar que os demais.
O problema está no outro aspecto da questão – a tranquilidade e impunidade com que representantes do crime organizado atuam na sociedade, ocupando espaços onde falta a presença do Estado.
Os donos das peruas que fazem o transporte complementar na periferia das cidades médias e grandes de todo o Brasil são submetidos ao poder dos criminosos, justamente por atuarem naqueles territórios cinzentos onde nem a polícia se atreve a circular. Essa é uma realidade conhecida na região metropolitana de São Paulo, assim como no Rio, Recife e muitas outras cidades.
Sabe-se que o sistema de transporte é um dos meios mais fáceis de lavar dinheiro do crime, assim como muitas reportagens se referem ao uso de postos de combustíveis como outra forma de legalizar a receita obtida por meios escusos.
Também é conhecido dos jornalistas o caso do “empresário” do setor de combustíveis Claudinei Alves dos Santos, que foi detido em outubro de 2010 quando era candidato a deputado federal pelo PSC paulista, acusado de estelionato, lavagem de dinheiro, sonegação fiscal e formação de quadrilha. Segue livre e solto, circulando pela cidade a bordo de sua Ferrari vermelha.
Falta de ambição
Na mesma pauta se encaixam os parlamentares do Rio de Janeiro acusados de ligação com milícias que disputam com traficantes os territórios ainda não alcançados pelo Projeto de Polícia Pacificadora. Volta e meia aparecem no noticiário referências ao envolvimento de pessoas ligadas a esses políticos nas depredações que se seguiram a algumas das manifestações que ocorreram na capital carioca no último ano. O nome do ex-governador Anthony Garotinho é citado com frequência nesses eventos.
O empreendedorismo dos criminosos oferece resultados mais consistentes e com menos riscos justamente onde falha a ação do Estado. Portanto, há muitos indícios de que alguns dos serviços públicos essenciais, como o transporte, a distribuição de gás e energia e até mesmo a segurança e a administração da justiça estão nas mãos de organizações criminosas nas artérias periféricas da rede capilarizada de acessos à cidadania.
Ao que tudo indica, o deputado Luiz Moura atua nessa zona cinzenta. Ao investir na suspeita de que o deputado petista está envolvido com a facção criminosa, a imprensa tem que se preparar para mergulhar fundo num dos problemas mais graves do País.
O parlamentar participava de uma reunião de cerca de 40 integrantes da cooperativa de transportes Transcooper, no dia 17 de março, onde a polícia identificou e prendeu uma dezena de suspeitos de integrarem o PCC. O deputado alegou que estava presente na condição de ex-diretor da cooperativa, negociando o reajuste salarial dos funcionários.
Embora tenha sido reabilitado pela Justiça, o deputado Luiz Moura tem que carregar o estigma de ex-presidiário. Mas observa-se que, embora haja indícios de um grande esquema criminoso a contaminar o sistema de transporte público, a tendência dos dois principais jornais paulistas é de concentrar a apuração na figura do parlamentar, estendendo as suspeitas ao secretário municipal dos Transportes, Jilmar Tatto.
Trata-se de um caso bizarro de acanhamento: diante de uma pauta muito mais instigante, a imprensa prefere limitar suas ambições jornalísticas ao farejar uma oportunidade política.