Friday, 27 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Mídia, as mulheres e o voto

A escolha de Sarah Palin como vice na chapa do candidato republicano às eleições presidenciais norte-americanas foi o grande assunto da mídia na semana que passou – e mostrou que, quando se trata de eleições nos Estados Unidos, a imprensa faz um bom serviço, seja nas matérias enviadas pelos correspondentes brasileiros nos Estados Unidos, seja nos textos traduzidos dos jornais norte-americanos.

O Estado de S. Paulo, em sua edição de domingo (31/8), discute a estratégia dos republicanos:

‘A razão mais óbvia para a indicação de Sarah – com quem McCain se encontrou apenas uma vez – foi ganhar o voto feminino, especialmente das eleitoras de Hillary Clinton, que acreditam que a senadora foi vítima de machismo nas primárias do partido…. A juventude de Sarah também foi um dos principais motivos por trás da indicação, já que McCain completou ontem 72 anos.’

Uma republicana desconhecida

O New York Times entrevistou mulheres republicanas, independentes e democratas eleitoras de Hillary, discutindo se a estratégia republicana vai funcionar. As respostas mostraram que as eleitoras norte-americanas não se deixam enganar facilmente: ‘A escolha da governadora do Alasca é um insulto, é como se McCain tivesse decidido que, para as mulheres desapontadas por não poderem votar em Hillary Clinton, qualquer mulher servisse. Você tem que ter as qualificações para o cargo’, declarou uma eleitora de Clinton.

Uma eleitora republicana argumentou que McCain perdeu o voto dela ao escolher uma mulher inexperiente para o cargo, quando vive criticando a inexperiência de Obama. Eleitoras indecisas dizem que Sarah Palin é a mulher errada por sua falta de experiência e por estar do lado errado de temas como aborto, a guerra do Iraque e a questão ambiental.

O mais animador, na leitura do New York Times, é perceber que as mulheres – no caso, as mulheres norte-americanas – não consideram a questão de sexo como prioridade. Embora uma leitora tenha dito que a escolha de Palin foi certa porque ela é ‘um bom exemplo para as mulheres norte-americanas ao mostrar que é possível conciliar carreira e maternidade’, a maioria se preocupa mesmo é com a ideologia da candidata, uma evangélica conservadora que é a favor das armas, contra o aborto e o casamento entre homossexuais, e que se orgulha em tirar fotos num sofá decorado com a pele de um urso, vítima da caça esportiva.

Uma mulher que, segundo a imprensa norte-americana, pode ser chamada de tudo, menos de feminista. Uma republicana desconhecida que ganhou o cargo não apenas para dar mais juventude à campanha de McCain, mas também para roubar um pouco do destaque que a candidata a primeira-dama, Michele Obama, vem recebendo na mídia.

As candidatas brasileiras

A verdade é que, seja qual for o resultado, as eleições de 2008 nos Estados Unidos entrarão para a história como o ano em que uma mulher quase virou presidente dos Estados Unidos, ou como o ano em que a Casa Branca teve sua primeira primeira-dama negra, ou como o ano em que uma ex-miss, mãe de cinco filhos, se tornou vice-presidente dos Estados Unidos, com reais perspectivas de se tornar a primeira presidente do país.

A imprensa, tanto no Brasil como nos EUA, tem dado grande ênfase ao papel das mulheres nas eleições. Pelo menos nas eleições norte-americanas. O que se espera é que o tratamento dado às norte-americanas na nossa imprensa seja o mesmo para as candidatas brasileiras. Elas também merecem ter seus perfis, idéias e comportamentos amplamente divulgados. Afinal, se as candidatas americanas merecem espaço na imprensa, as mulheres brasileiras que querem ser vereadoras, prefeitas, deputadas ou governadoras merecem muito mais.

Os leitores precisam saber quem são essas mulheres, o que elas fazem, o que pretendem fazer e que diferença podem representar na política nacional.

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Jornalista