É inevitável falar mal da mídia de Cuiabá e Várzea Grande (segunda maior cidade de Mato Grosso) quando se sabe que o transporte coletivo da região está permeado de superfaturamento, má qualidade, dívidas milionárias, cartel e suspeição de ligação com o crime organizado e, mesmo assim, os jornais, os sites, as emissoras de rádio e TV tratam o assunto como se ele fosse de importância subalterna para a população.
A bem da verdade, a constatação a que se chega é que, salvo raras exceções, a mídia da Grande Cuiabá constitui-se num setor atrelado até a tampa com o esquema do transporte coletivo, que envolve as esferas privada e pública. Falta, e muito, o compromisso social. As diretorias das empresas de jornalismo local tratam a notícia como mera mercadoria, e nem de perto como bem social.
Este artigo também é um grito desesperado de denúncia aos poderes constituídos, aos movimentos sociais e aos jornalistas e meios de comunicação militantes e investigativos do país inteiro, sobremaneira aos que se opõem ao aparato midiático burguês.
Braço forte do crime
Os meios de comunicação de Cuiabá e Várzea Grande tiveram papel fundamental na manutenção do reinado do ‘comendador’ João Arcanjo Ribeiro à frente do crime organizado do estado por cerca de 20 anos – até que ele fosse, a partir de 2002, investigado pela Polícia Federal, denunciado pelo Ministério Público e julgado culpado pela Justiça Federal.
Da mesma forma, essa mesma mídia sustenta os desmandos no setor do transporte coletivo há vários anos. E o faz dando mais importância às vozes dos secretários de Transporte, prefeitos e donos de empresas de ônibus do que dos trabalhadores que andam nos coletivos superlotados, sucateados, sem ar-condicionado e que pagam preços exorbitantes. É bom registrar que o ar-condicionado nos ônibus é indispensável na cidade mais quente do Brasil (Cuiabá).
Essa mídia também sustenta os desmandos do setor ao não se aprofundar nas constantes denúncias feitas por passageiros, trabalhadores do transporte, pessoas da terceira idade, portadores de necessidades físicas, Ministério Público e Polícia Federal. E o faz, ainda, ignorando informações de suma importância para a comprovação da existência de uma rede perniciosa entre empresários do transporte, gestores de administrações públicas de Cuiabá, Várzea Grande e do estado.
Destaque negativo principalmente para os maiores jornais e emissoras de televisão da região (Diário de Cuiabá, Folha do Estado, A Gazeta, TVCA/Globo, TV Cidade/SBT, TBO/Bandeirantes, TV Record).
Provas em abundância
Pois quando se escreve isso, escreve-se por haver provas em abundância do péssimo serviço que a mídia da Grande Cuiabá presta à população quando o tema é transporte coletivo.
Exemplo recente e evidente do ridículo papel dos meios de comunicação da região é a superficial cobertura sobre os resultados da CPI do Transporte da Câmara de Vereadores de Cuiabá, que apontou que o valor da tarifa deve ser de R$ 0,81 e não R$ 1,60 (preço atual), que descobriu que os empresários do setor devem ao poder público mais de R$ 138 milhões e que defendeu a cassação das concessões das empresas imediatamente pelos desrespeitos aos contratos.
O instigante, volumoso e importante tema recebeu destaque nas matérias do dia e do dia seguinte, apenas. Não houve explicação detalhada acerca de como o valor de R$ 0,81 foi obtido, não se falou sobre o ressarcimento à população pelo rombo causado, não se falou na suposta participação das gestões municipais atual (cujo prefeito é Wilson Santos) e anteriores (prefeito Roberto França, que teve dois mandados consecutivos) na implementação do superfaturamento.
Nem se procurou dimensionar o que poderia ser feito no transporte coletivo da cidade com a aplicação dos R$ 138 milhões de débito dos empresários do setor, assim como não se falou da conivência dos gestores que permitiram tanta desobediência em relação aos contratos de concessão.
E se nem essas informações divulgada publicamente pela CPI foram abordadas de maneira um pouco mais sensata, imagine os dados que apontam a suspeita de que o setor de transporte coletivo de Cuiabá seja fachada para a lavagem de dinheiro e evasão de divisas!
Da mesma forma, imagine os dados que indicam que as empresas de transporte que atuam hoje na cidade (Age, Princesa do Sol, Nova Cuiabá e Norte Sul) são de ex-sócios do empresário Ronan Maria Pinto! Ele é acusado pelo Ministério Público do Estado de São Paulo de ter montado esquema de cobrança de propina em Santo André e participado da trama que resultou no assassinato do ex-prefeito da citada cidade, Celso Daniel. Ronan chefiou o setor oficialmente de 1997 a 2002, em Cuiabá.
Igualmente, imagine os dados que apontam ligação de empresas que operam no sistema de transporte intermunicipal Cuiabá/Várzea Grande com firmas sediadas em paraísos fiscais, como Funchal (Portugal) e República de Seychelles (estado insular africano)! Nesse caso, o governo estadual (na figura do governador Blairo Maggi) é falho, pois não mesmo questiona os contratos e ainda manobra para obstruir a realização de processo licitatório, desrespeitando a Constituição.
E para que nenhum diretor de redação ou dono de empresa de comunicação de Cuiabá e Várzea Grande diga que falta o chamado lastro oficial para que esses últimos aspectos – mais picantes – sejam investigados, informa-se – o que já é sabido na região – que o Ministério Público do Estado de Mato Grosso e a Polícia Federal estão debruçados sobre estas nuanças.
Amplificação do grito
Também, para que não paire dúvida sobre minha indignação com as canalhices da mídia de minha terra, explicito que estou desempregado atualmente e que sou militante do Comitê de Luta pelo Transporte Público, esfera de participação popular que se vale da pressão nas ruas pela redução da tarifa, ampliação do passe livre e estatização do setor.
Como parte interessadíssima na punição dos agentes responsáveis pelas falcatruas cometidas no transporte coletivo da Grande Cuiabá, amplifico o grito desesperado de denúncia aos guerreiros e guerreiras do Brasil inteiro que atuam nos poderes constituídos, na comunicação e nos movimentos sociais, para que procurem conhecer a fundo a realidade aqui exposta, nos auxiliem a proliferar o visível comprometimento da mídia local e também nos ajudem a derrotar esse esquema de uma vez por todas.
Para mais informações, visite o blog do Comitê de Luta pelo Transporte Público, ou escreva para gibranluis@hotmail.com e pulacatraca@yahoo.com.br
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Jornalista em Cuiabá (MT)