A cidade do Rio de Janeiro sedia nesta semana a 4ª Cúpula Mundial de Mídia para Crianças e Adolescentes. O evento reúne centenas de representantes nacionais e internacionais das áreas de comunicação, cultura e educação para debater questões sobre a produção de mídia para crianças e adolescentes. Organizada pela Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro, a Cúpula deste ano é coordenada por Beth Carmona, presidente da TVE-Rede Brasil e do Midiativa (Centro Brasileiro de Mídia para Crianças e Adolescentes), e por Regina de Assis, presidente da Multirio (Empresa Municipal de Multimeios).
Beth Carmona conversou com este Observatório sobre a organização e as expectativas para a cúpula. Jornalista e radialista, Beth tem sua carreira pontuada por larga experiência em televisão. Foi diretora de programação da TV Cultura, do Disney Channel e do Discovery Kids. Desta forma, pode-se dizer que sua experiência com crianças também é extensa. Na TV Cultura desenvolveu uma programação infanto-juvenil reconhecida internacionalmente, com programas como Castelo Rá-Tim-Bum, Cocoricó, Mundo da Lua e Confissões de Adolescente. No ano passado, foi empossada presidente da TVE-Rede Brasil, no Rio de Janeiro.
Paralelamente a seu trabalho nas emissoras, Beth preside – e ajudou a fundar, em 2002 – o Midiativa, centro que tem como objetivo promover o debate crítico sobre a mídia destinada a crianças e adolescentes. Com ações apresentadas no sítio www.midiativa.org.br, a ONG visa contribuir para a melhoria da qualidade da programação televisiva, valorizando bons programas e seus patrocinadores, emissoras e profissionais.
Em 2001, durante a 3ª edição da Cúpula, na Grécia, a World Summit on Media Foundation – organização responsável pela realização das cúpulas a cada 3 anos em país diferente – reuniu-se com os representantes das cidades que se candidatavam a sediar o evento seguinte. Beth, Regina de Assis, o jornalista Geraldo Vieira, representante da Fundação Avina no Brasil, e Claudius Ceccon, atualmente vice-presidente do Midiativa, fizeram a apresentação da candidatura do Rio de Janeiro. Contaram com o apoio de organizações como Unicef, Andi (Agência de Notícias dos Direitos da Infância) e Cecip (Centro de Criação de Imagem Popular) e levaram cartas assinadas pela Multirio e pela Prefeitura do Rio de Janeiro. Não é preciso dizer qual foi o resultado.
Qual a importância da realização da 4ª edição da Cúpula Mundial de Mídia para Crianças e Adolescentes?
Beth Carmona – A Cúpula em si é importante. Ela acontece de três em três anos e esta é a 4ª edição. E é a primeira vez que ela é realizada num país da América Latina. Ou seja, é a primeira vez que temos uma Cúpula mundial deste tipo voltando os olhos para a América Latina e para o Brasil. O encontro deste ano reúne profissionais do meio de comunicação e debate políticas, filosofias e rumos em geral da mídia direcionada a crianças e adolescentes. É importante lembrar que a Cúpula não é um evento isolado; faz parte de um processo contínuo.
Qual o diferencial desta edição com relação às anteriores?
B.C. – Pelo fato de estar acontecendo na América Latina, a Cúpula ajuda a voltar o foco para uma discussão mais aberta. Se não fosse no Brasil, ela provavelmente seria sediada por algum país da África ou Ásia. Não queremos debater apenas sobre países que já possuem produção de mídia consolidada. Queremos conhecer e refletir sobre países que não tenham uma produção ativa de mídia. O fato de ser no Brasil ajuda a chamar a atenção para isso. O tema da Cúpula deste ano – ‘Mídia de Todos. Mídia para Todos’ – também explora esta questão. Mostra que o problema tem duas mãos e aborda questões locais tratadas globalmente.
Quais são suas expectativas em relação aos resultados da 4ª Cúpula de Mídia para Crianças e Adolescentes?
B.C. – Particularmente, eu sempre saio muito enriquecida das Cúpulas. Acredito que a discussão dos temas propostos em termos mundiais facilitam com que você reflita sobre o momento em que vive. Queremos colocar a discussão em primeiro plano. E isso a gente já está conseguindo de outras formas. O Midiativa é um exemplo de um trabalho que é feito neste sentido. Mas, especificamente com relação a esta Cúpula, eu espero que nós consigamos tornar o assunto mais público. Que sejam pensados rumos e soluções. A questão da qualidade da TV, por exemplo, já tem sido bastante discutida aqui no Brasil, por causa dos casos de baixaria apresentados em alguns programas. Temos que expandir o debate, e nos comprometermos com ele.
De que forma a mídia pode ser usada em favor das crianças e dos jovens?
B.C. – A discussão da TV pública é muito próxima a esta questão. Não são discussões isoladas, primeiro porque a TV pública tem um compromisso imediato e absoluto com o telespectador e com a sociedade em geral. Se olharmos para a Europa, EUA, Canadá e Austrália, por exemplo, vemos países que têm um histórico em educação. Existem centros dedicados a isso. Aqui no Brasil, nós, que estamos à frente da TV pública, temos que fazer um esforço em prol da educação.
Como você avalia os programas da TV brasileira voltados para crianças e adolescentes?
B.C. – Acho que existem duas questões aí. A primeira diz respeito ao número de horas que as crianças e adolescentes permanecem em frente à TV. É enorme a quantidade de programas que os atingem, muitos dos quais não são dedicados a eles. Esta é uma questão que pede uma discussão maior e um senso de responsabilidade maior. A outra questão são os programas dirigidos às crianças e adolescentes. No Brasil, nós temos bons exemplos de programas interessantes e educativos. A rede pública busca sempre esta qualidade. Na TV comercial, o ‘Sítio do Pica Pau Amarelo’, na Rede Globo, é um esforço importante neste sentido, porque mostra a brasilidade, a cultura e as lendas populares do país.
Quais são as dificuldades enfrentadas hoje na produção de uma mídia de qualidade direcionada às novas gerações?
B.C. – Para se produzir programas infanto-juvenis de qualidade é preciso muito cuidado, muita pré-produção, pesquisa e uma equipe mais completa. Para isso, é preciso investimento. Dinheiro não é tudo, mas é importante. E nem sempre, na TV brasileira, se tem possibilidade de fazer este investimento. Mas, além disso, é preciso uma participação maior da sociedade e do governo. A sociedade deve se conscientizar e ajudar a criar condições para programas de qualidade. Se quem assiste não se incomoda, nada muda. É problema de todos, do cidadão ao legislador. A mídia é um elemento muito importante na formação das pessoas.
Que ações uma emissora de TV pode fazer para se tornar um veículo comprometido com a qualidade?
B.C. – Ela tem que ter compromisso com a sociedade e com ela própria. Um problema hoje em dia é a deficiência na formação de profissionais de comunicação, que saem das universidades e vão direto para as TVs comerciais, onde aprendem a se adequar a um modelo pré-existente, sem liberdade de experimentar coisas novas. A TV pública tem que ter o compromisso com a formação de seus profissionais. Diversas ações podem ser feitas, e todos podem ajudar de alguma forma. Mas quem não quiser ajudar, que pelo menos não atrapalhe.
Informações sobre a
4ª Cúpula Mundial de Mídia para Crianças e Adolescenteswww.riosummit2004.com.br