Os comentaristas políticos afirmam que o Congresso está aprovando a sucessão de medidas para reforçar as penas porque está sensível ao ‘clamor social’. Mas os comentaristas sabem que estão lidando com uma abstração. O ‘clamor social’ manifesta-se nas ruas e nas praças, mas, no caso do menino João Hélio Fernandes Vieites, o clamor social está sendo captado principalmente através dos meios de comunicação.
E por que razão o Congresso desta vez resolveu ouvir o clamor social? Simplesmente por que é um Congresso recém-empossado e com a nódoa da tentativa de auto-aumento de 92% nos seus vencimentos.
Mas por que razão o presidente Lula não ouve este ‘clamor social’ se está na mesma Praça dos Três Poderes, tão perto do Congresso? Difícil encontrar uma explicação para a atitude quase olímpica deste craque da comunicação que é o presidente Lula no trágico episódio. Sua mais expressiva manifestação foi na contramão do ‘clamor social’: preocupado apenas com a questão da maioridade penal, deu um categórico ‘não’, como se inexistissem outras medidas no repertório de ações para tornar mais rigoroso o cumprimento das leis.
Lula parece contrariado com a dimensão deste ‘clamor social’, imaginava que esta semana seria ocupada apenas pelo PAC e não consegue esconder a sua contrariedade. Ou talvez tenha percebido que este ‘clamor social’ está sendo vocalizado pela mídia e não queira passar a impressão de que está sendo agendado por ela.
Qualquer que seja a explicação, este não é o Lula que empolga as multidões.