Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Mídia trata os negros como invisíveis

Embora o tema da igualdade racial já faça parte da agenda do governo há pelo menos oito anos, e ocupe cada vez mais espaço na agenda das organizações da sociedade civil, o segundo dia da II Conferência Nacional de Promoção da Igualdade Racial mostrou que a mídia brasileira continua indiferente ao tema.


Jornais como O Globo, Folha de S.Paulo, O Estado de S. Paulo e mesmo os jornais de Brasília, como o Correio Braziliense e o Jornal de Brasília, não estão cobrindo a Conferência e seus repórteres só aparecem no Centro de Convenções Ulisses Guimarães, quando procuram autoridades para entrevistas sobre outros temas.


Também as três principais redes de TV como a Globo, Record e Bandeirantes, simplesmente não notaram a presença de mais de 300 delegados de todo o país e mais dos 300 convidados de todos os 26 estados da Federação e mais do Distrito Federal reunidos na Conferência que – embora com a ausência do presidente da República – teve a presença de seis ministros de Estado e de delegações e autoridades estrangeiras de vários países.


Em 2004, quando o Estado convocou a I Conferência, a cobertura da mídia também foi pífia. Os repórteres dos grandes veículos – inclusive dos dois jornais de Brasília – estiveram presentes apenas na abertura porque teve a presença do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Segundo o cientista social e coordenador da Igualdade Racial do Rio, Carlos Alberto Medeiros, a postura da mídia brasileira em relação as questões raciais, é ‘antes de qualquer coisa, uma desonestidade do ponto de vista jornalístico’.


Manipulação pela imprensa


‘É uma desonestidade do ponto de vista jornalístico. A direção do Jornal pode ser a favor ou contra, mas não pode deixar de informar ao leitor ou telespectador sobre esse tipo de acontecimento. É, portanto, uma desonestidade para com o próprio leitor.’


Para Medeiros, não mostrando a mídia priva o leitor/expectador ‘da compreensão de um processo, abrindo terreno para as teorias conspiratórias, que vem sendo usadas no debate das cotas e ações afirmativas. É desonesto e algo que a agente deve encontrar caminhos para enfrentar’, acrescentou.


Medeiros lamentou que a Comunicação não tenha sido incluída nos temas propostos para debates na Conferência. ‘Ficou faltando uma área muito importante, que é a comunicação. A gente vê a importância de criarmos ações estratégicas em busca de ganhar a opinião pública que tem sido manipulada por uma imprensa que não registra um evento como esse’, concluiu.

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Jornalista, advogado e poeta, criador da ONG ABC Sem Racismo e da Afropress