Saturday, 23 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Morre Sérgio de Souza, fundador da Caros Amigos

Leia abaixo a seleção de terça-feira para a seção Entre Aspas.


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Comunique-se


Terça-feira, 25 de março de 2008


LUTO
Comunique-se


Morre Sergio de Souza, editor da Caros Amigos


‘Morreu na madrugada de segunda-feira (24/03) o jornalista Sérgio de Souza, 73 anos, editor e um dos fundadores da Caros Amigos. Ele estava internado há duas semanas no hospital Oswaldo Cruz, em São Paulo, após uma perfuração no duodeno. O quadro passou para uma infiltração no pulmão, causa da morte do jornalista. Sérgio de Souza será velado a partir de 12h no cemitério da Vila Alpina, em São Paulo.


Souza começou a extensa carreira na Folha de S. Paulo e passou por diversos veículos, como as revistas Quatro Rodas e Realidade. Ele também é co-autor de diversos livros, incluindo ‘Minha Razão de Viver’, de Samuel Wainer. Criou a Caros Amigos em 1997.


Em breve, o Comunique-se puplicará mais informações sobre a morte de Sérgio de Souza.’


 


 


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Folha de S. Paulo


Terça-feira, 25 de março de 2008


ALERTAS
Eliane Cantanhêde


Prevenir ou morrer


‘BRASÍLIA – Febre amarela e dengue são doenças graves, transmitidas pelo Aedes aegypt e podem matar, mas há uma enorme diferença entre elas: a febre amarela é prevenível por vacina, a dengue não. Esse é um fator decisivo entre pegar ou não a doença, morrer ou não.


A mídia teve um papel fundamental ao alertar a população para o aumento da incidência da febre amarela, seus riscos, o combate ao mosquito e a vacinação. Nunca vai se saber quantas centenas de vidas foram salvas neste país pela ação diligente de jornais, rádios, TVs. Apesar disso, a mídia, ao invés de receber só elogios por cumprir seu papel, está ameaçada de processos por ter ‘gerado pânico’ (?!).


Era janeiro, logo viriam fevereiro e março, três meses duplamente perigosos: muito chuvosos, favorecem a proliferação do Aedes; de férias, Carnaval, Semana Santa, multiplicam viagens, deslocamentos. E as áreas de risco praticamente cobrem o país, alastradas por 19 Estados no Norte, Centro-Oeste, Nordeste, Sudeste e até partes de Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Santa vacina!


Já a dengue, que diminuiu 40% no resto do país, segundo o ministro José Temporão, chegou ao Rio para ficar e para contaminar, ao ritmo de uma pessoa por minuto. Não existem vacinas. Só o fumacê, sob a responsabilidade das autoridades, e o cuidado com plantas, vasos, poças, pneus velhos, que depende também da população.


Ontem, lia-se no UOL que o diretor-geral da Defesa Civil no Rio, coronel Djalma Souza Filho, ficou espantado com ‘a falta de informação muito grande’ nas casas visitadas.


Pois é. Se os governos municipal (principalmente), estadual e federal falham e os cidadãos não tomam cuidados básicos, que pelo menos a imprensa faça a sua parte.


Na vida, mais especialmente em saúde, é melhor prevenir do que (tentar) remediar. Informação, informação, informação!’


 


ESCÂNDALO EM NY
Carlos Heitor Cony


Triunfo de nossas cores


‘RIO DE JANEIRO – Mais uma vez o mundo se curvou diante do Brasil. Tantas e tamanhas vezes já se curvou que devia estar habituado, mas o Brasil é surpreendente, está sempre aprontando. A bola da vez não é um Santos Dumont, um Ayrton Senna, um Pelé, que em seus respectivos tempos obrigaram o mundo a dobrar a espinha diante de feitos individuais que se transformaram em façanhas coletivas.


Mas tudo vale a pena se a alma não é pequena -e grande é a nossa alma, sobretudo na hora dos nossos triunfos. Uma cidadã natural de um nobre Estado, que tem o nome de uma das pessoas da Santíssima Trindade, está sendo apontada como a responsável pela desgraça política de um governador nos Estados Unidos. A imprensa não arranjou melhor profissão para ela do que a de cafetina -nome um pouco defasado, no meu tempo as cafetinas eram mais modestas, embora vorazes. Exploravam mulheres da vida e eram exploradas a vida inteira pela polícia. E nenhuma delas alcançava a glória de tamanho feito: derrubar um governador que de repente podia ser presidente da maior nação do mundo.


Reclamaram que a chegada da cafetina no Brasil no último fim de semana foi uma consagração. Ela ameaça escrever um livro, será capa da ‘Playboy’ e página amarela (e bota amarela nisso) da ‘Veja’. Modestamente, está sendo assunto de um cronista habitualmente sem assunto.


Melhoramos muito. Nos últimos anos do século passado exportávamos travestis e mulheres da vida, e apesar de todas as mulheres serem da vida, algumas conseguem ser mais da vida do que outras. Subimos no ranking e agora exportamos cafetinas, por sinal bem sucedidas, que muito aliviarão as taxas de nossas exportações comprometidas pela má qualidade da carne do nosso gado vacum. Conosco ninguém podemos.’


 


TRISTE POLÊMICA
Luiz Fernando Emediato


FAT: verdades e equívocos


‘UTILIZO ESTE espaço gentilmente cedido pela Folha para esclarecer as reportagens que o jornal publicou e que envolveram minha pessoa, como presidente do Codefat (Conselho Deliberativo do Fundo de Amparo ao Trabalhador).


Segundo a Folha, o ministro do Trabalho, Carlos Lupi, estaria privilegiando entidades ‘ligadas’ ao partido e à Força Sindical, presidida pelo deputado pedetista Paulo Pereira da Silva, ao qual presto serviços como consultor. Eu, como presidente do Codefat, estaria usando o cargo para ajudar os dois.


Não sou filiado ao PDT nem sindicalista e não tenho procuração para defender o ministro, mas posso provar que ele não privilegiou o PDT e a Força Sindical com recursos do FAT. Esses convênios são assinados também por mim e limitaram-se, em sua maioria, a renovações de convênios de gestões anteriores. Uma única entidade ‘ligada’ à Força era uma escola que trabalha para governos, empresas privadas e sindicatos. O fato de ter alugado salas de aula em sindicatos filiados à Força levou ao equívoco.


Quando assinei uma resolução (a 560, do Codefat) autorizando o MTE a fazer convênios não só com Estados e municípios, mas também com organizações não-governamentais, eu o fiz após a proposta ser aprovada pelos conselheiros presentes. Não foi uma decisão minha e o objetivo era deixar a resolução de acordo com a lei, que desde 1965 permite tais convênios.


Convênios são mecanismos pelos quais a União faz parcerias com Estados, municípios e organizações não-governamentais. Por ato discricionário da União, o Ministério do Trabalho, por exemplo, repassa recursos para quem se oferece e é considerado capaz de prestar um serviço de qualidade e que atenda às necessidades do país. Não se trata de uma licitação para contratar, mas da escolha de um parceiro, com interesse mútuo e de acordo com a lei.


A Folha, induzida a erro por fonte a meu ver pouco idônea, afirma que uma dessas entidades proponentes de convênio -a Confederação Nacional dos Trabalhadores Metalúrgicos, CNTM, filiada à Força Sindical- apresentou ao MTE proposta com custo equivalente a quase o dobro do praticado pelo governo de São Paulo.


Trata-se de erro grosseiro e brutal.


Primeiro, seria preciso identificar o verdadeiro custo dos serviços prestados pelo governo paulista, que repassa obrigações para vários municípios, os quais, por sua vez, aportam recursos financeiros próprios. Recomendei ao MTE -como é minha obrigação, como gestor do FAT- que esses custos sejam apurados.


O que a CNTM quer é retomar a gestão plena, e não só parcial, como ocorre agora, de dois postos públicos de atendimento a desempregados criados em 1998 pelo Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo e cuja gestão financeira foi transferida em 2005 para a Prefeitura de São Paulo, experiência que se revelou danosa em virtude de conflitos políticos até então inexistentes. Os postos funcionam em prédios do sindicato, no qual o FAT muito investiu.


A gestão da prefeitura levou à queda na qualidade dos serviços prestados pela equipe que, desde 1998, é dirigida por técnicos do sindicato dos metalúrgicos, filiado à CNTM. Essa operação foi mantida por termo de cooperação assinado entre o então prefeito José Serra e a Força Sindical, com vigência até junho de 2009. O que se pretende e se estuda é transferir para a entidade sindical a execução total do convênio, com os mesmos custos praticados hoje.


Outro equivoco da Folha é afirmar que entidades como a CNTM estão impedidas de conveniar. As entidades que estão temporariamente impedidas são as centrais sindicais e a Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), cujas contas com o MTE estão sendo revistas. Estão impedidas da mesma forma que estariam os governos dos Estados de São Paulo, Sergipe e Maranhão, entre outros, que não tiveram suas contas aprovadas nos últimos anos, mas recorreram ao STF para continuar conveniando e conseguiram liminar nesse sentido. As centrais sindicais e a Fiesp não recorreram à Justiça para garantir o mesmo procedimento.


Por fim, informo que em sua próxima reunião, em abril, o Codefat aprovará resolução determinando ao MTE procedimentos de extremo rigor para a realização de convênios tanto com entes públicos quanto privados. Creio que isso blindará o Codefat e o MTE contra a ação dos que usam o Estado para fazer negócios ou criam ONGs podres com o mesmo objetivo.


Quero manifestar minha tristeza por ter exposta na Folha minha correspondência pessoal por e-mail, como se eu estivesse praticando uma irregularidade. Especialistas puderam ver que eu estava cumprindo com minhas obrigações e exercendo o meu direito. Leitores comuns foram induzidos a crer o contrário, o que causou irreparáveis prejuízos à minha reputação. Agradeço à Folha a oportunidade de publicar este artigo, mas só isso não repara o prejuízo causado.


No entanto, não reclamarei mais, esgotando aqui essa triste polêmica.


LUIZ FERNANDO EMEDIATO, 56, ganhador do Prêmio Esso de Jornalismo em 1982, é escritor, sócio-proprietário das editoras Geração Editorial e Jardim dos Livros, cotista da empresa Ativa, promotora de crédito, consultor de políticas públicas, conselheiro da Força Sindical e presidente do Codefat (Conselho Deliberativo do Fundo de Amparo ao Trabalhador).’


 


IMPRENSA NA JUSTIÇA
Folha de S. Paulo


Juiz do Rio extingue ação de fiel da Universal contra jornal


‘O juiz Luiz Alberto Nunes da Silva, do Juizado Especial de Bom Jesus de Itabapoana, município do Rio de Janeiro, extinguiu uma das ações de indenização ajuizadas em nome de seguidores da Igreja Universal do Reino de Deus contra o jornal ‘Extra’ e o editor responsável, o jornalista Bruno Thys.


Na ação, Oswaldo Pinto Júnior disse ter sido ofendido com uma notícia sobre ato de vandalismo numa igreja católica em Salvador atribuído a adepto da Iurd, que foi detido pela polícia e liberado no mesmo dia, e que o conteúdo ‘teria extrapolado a narrativa de fatos’.


O juiz entendeu que ‘não havia nenhuma comprovação de que o autor tenha legitimidade para representar a igreja’ e que havia ‘obstáculos processuais intransponíveis’. Segundo a decisão, o autor, embora tivesse dito que reside em Bom Jesus de Itabapoana, ‘ofereceu documentação que diz exatamente o contrário’. A rua citada no processo fica em Bom Jesus do Norte (ES), conforme foi comprovado pela Justiça a partir de conta de energia fornecida pelo demandante.’


 


TODA MÍDIA
Nelson de Sá


4.000


‘Foi a principal notícia no Google News dos EUA e surgiu no alto da home do ‘New York Times’ com o título ‘Conta de mortos da AP na guerra do Iraque atinge 4.000’. Americanos, pois de civis iraquianos, diz a mesma AP, foram vagos ‘dezenas de milhares’.


Ato contínuo, George W. Bush lamentou na CNN, enquanto o mesmo ‘NYT’ e outros liberais passaram às homenagens, com fotos de soldados e enunciados como ‘4.000 mortos: e-mails da linha de frente’ e até imagens do cemitério de Arlington. Já o ‘Washington Post’ escondeu o número no pé de sua página inicial -e o ‘>‘Wall Street Journal’ nem deu chamada, antes destacando Dick Cheney e a Arábia Saudita, com foto.


O ÊXODO BRASILEIRO


A BBC Brasil, desde Londres, Nova York, Madri, Roma e São Paulo, postou nova série de reportagens, desta vez sobre as ‘três décadas de diáspora’. Desde 80, ‘1,1 milhão embarcou, sem retornar’, e ‘o bom momento que o país atravessa não foi suficiente para atrair de volta’. O efeito por enquanto é que a valorização do real ‘forçou aumento na jornada de trabalho’, para enviar o dinheiro para casa.


Nos EUA, por outro lado, o controle crescente ‘>‘tornou brasileiros ilegais ‘prisioneiros no paraíso’. O site perfila o destino diverso de duas ex-faxineiras, uma se tornou pesquisadora em Harvard, a outra é prostituta na Itália.


NO PORÃO


Parte do esforço da BBC Brasil se voltou à Espanha. Os brasileiros ‘descobriram o país como rota de imigração, não só para entrar na Europa, mas como lugar de trabalho’.


Seu número na Espanha ‘mais do que dobrou em três anos’. No perfil, um ‘carioca vive em porão em Madri e ganha menos que no Brasil’.


‘GUERRA’


De outra parte, o espanhol ‘El País’ deu ontem a longa reportagem ‘Em Barajas se fala português’, referência ao aeroporto de Madri. Relata os episódios de ‘reciprocidade’ em aeroportos daqui, mas destaca que ‘Brasil e Espanha tentam evitar que a ‘guerra’ das repatriações leve a racha em suas excelentes relações’.


NEM UM LADO NEM OUTRO


Na ‘Economist’, do correspondente: ‘Seu correspondente viu uma agência do Banco da China com janelas quebradas; a entrada do ‘Diário do Tibet’, o porta-voz do partido na região, danificada; e lojas atrás de lojas de comerciantes chineses queimadas e destruídas.’ Por motivo que nem a revista entendeu, a ‘Economist’ foi permitida em Lhasa, capital do Tibete, e acabou sendo a única, até onde se sabe, a noticiar com testemunhos próprios o conflito, não por testemunhas.


On-line e em duas edições, a cobertura singular foi do dia 12 ao 19, quando a permissão foi, por fim, suspensa.


‘THE BRAZILIANS’


A capa da prestigiosa ‘The Atlantic’ traz a indústria da celebridade em torno de Britney Spears. Mais precisamente, conta que ‘um grupo de brasileiros que eram funcionários de estacionamentos e de entrega de pizza’ formou a equipe que persegue -e dominou- a cobertura de fotografias da cantora


DENGUE SEM DONO


O ministro da Saúde, ontem de novo, acusou o prefeito do Rio, que respondeu à Folha Online com acusações aos governos federal e estadual, se dizendo sozinho. E até o ‘JN’ foi buscar reportagem de outubro, para reproduzir no primeiro bloco -e garantir que não fechou os olhos.’


 


CUBA
Folha de S. Paulo


Governo bloqueia acesso na ilha ao blog ‘Generación Y’, de jovem opositora


‘Autoridades cubanas bloquearam o acesso da ilha a um dos blogs mais lidos do país, escreveu ontem a autora da página, Yoani Sánchez, 32. ‘Generación Y’, que recebeu 1,2 milhão de visitas em fevereiro, virou símbolo da nova geração de opositores do regime na rede.


Segundo Sánchez, uma mensagem de erro é o que aparecia quando se tentou acessar seu blog (www.desdecuba.com/generaciony) e mais duas outras páginas em Cuba no fim de semana. Filtros também foram instalados para retardar o acesso. ‘Isso é efetivamente bloquear o acesso ao blog. Quem, com o acesso limitado à rede em Cuba, vai esperar 15 minutos para ver a página?’, disse ela à Reuters.


‘Os anônimos censores de nosso famélico ciberespaço querem fechar-me em meu quarto, apagar minha luz, não deixar que meus amigos entrem’, escreveu ela.


A blogueira diz que já encontrou uma maneira de burlar a intervenção e que qualquer um com alguma habilidade vai fazer o mesmo. É a primeira vez que Sánchez, autora de textos bem-humorados e críticos, sofre represálias. Em fevereiro, ela disse à Folha que não fora vítima de intimidações: ‘Vamos ver até quando dura isso’. Ontem, disse: ‘Esse sopro de frescor desarrumou os cabelos dos burocratas e censores […]. Não há censura que possa impedir pessoas que estão determinadas a acessar a internet’.’


 


JORNALISMO CIENTÍFICO
Folha de S. Paulo


Juiz nega pedido da Pfizer para quebrar sigilo de revista


‘A justiça dos EUA rejeitou o pedido da multinacional farmacêutica Pfizer para quebrar o sigilo editorial de duas revistas científicas de prestígio. A empresa queria obrigar as publicações ‘Jama’ e ‘Annals of Internal Medicine’ a revelar os nomes de pareceristas anônimos que avaliam a qualidade de artigos científicos submetidos a esses periódicos.


Em decisão de 14 de março -divulgada ontem em um editorial do ‘Jama’- o Tribunal Federal do Distrito de Chicago negou à Pfizer o direito de obter mensagens trocadas entre editores e pareceristas das revistas. Advogados da empresa queriam obter informações a respeito da edição de artigos científicos que avaliavam efeitos de medicamentos da firma.


O objetivo da multinacional era encontrar dados que pudessem ser úteis nos processos que a empresa vem sofrendo em razão de efeitos colaterais das drogas Celebrex e Bextra. Ambos são antiinflamatórios e pertencem à classe dos inibidores de Cox-2 -a mesma do Vioxx, que foi tirado do mercado em 2004 por temor de que tivesse causado ataques cardíacos e derrames evitáveis em milhares de pacientes.


Autores das ações contra a empresa alegam que o Celebrex (Celebra, no Brasil) possui problemas semelhantes aos do Vioxx e que a Pfizer sabia disso, tendo sido omissa ao não relatar o problema nas bulas dos produtos.


Na sentença favorável às revistas, o juiz Arlander Keys defende o direito à confidencialidade no chamado ‘peer review’ -revisão por pares, a prática de enviar propostas de artigos a cientistas independentes, que os avaliam mediante a manutenção de seus nomes em sigilo. ‘A confidencialidade garantida das revisões permite aos revisores fazer críticas profissionais dos manuscritos sem temer potenciais reações dos autores’, escreveu Keys.


O pedido da Pfizer para quebrar o sigilo editorial de uma terceira revista, o ‘New England Journal of Medicine’, ainda está pendente.’


 


TELEVISÃO
Mônica Bergamo


Copia e cola


‘Enquanto não sai da geladeira do SBT, o apresentador Ratinho vai procurar em Las Vegas modelos de programas para copiar. Em abril, vai para os EUA com diretores de sua retransmissora, a Rede Massa, participar de uma feira sobre TV.’


 


Cristina Fibe


Série leva famosos a ‘mundo real’


‘Joaquin Phoenix convive com índios na Amazônia, Mos Def passeia com MV Bill na Cidade de Deus, Cameron Diaz se desculpa por gafe no Peru…


Para o programa ‘Famosos no Mundo Real’ ( ‘4Real’), que estréia nesta quinta-feira no National Geographic, a realidade do título está nos ‘países em desenvolvimento’, e um jeito interessante de mostrá-la é colocando-a lado a lado com famosos ‘acima do normal’.


Dos oito episódios, dois se passam no Brasil e dois em lugares que são exceção à regra: Vancouver, no Canadá, com a atriz Eva Mendes (este, o único que não deve ser exibido no Brasil), e Oklahoma, nos EUA, com o ator Casey Affleck.


Apesar de se passarem em países ricos, eles também colocam celebridades em contato com excluídos da sociedade.


O objetivo da série é contar, tendo como atrativos os famosos, histórias de jovens líderes que trabalham para mudar a comunidade em que vivem.


O apresentador Sol Guy, produtor musical, diz à Folha que foi o ator Joaquin Phoenix (‘Johnny & June’) o primeiro famoso a aceitar o papel, e que foi dele o mérito de convencer os outros a participarem. ‘Era uma produção pequena, do Canadá, a gente não deveria ter nomes tão grandes envolvidos.


Foi o Joaquin quem conseguiu fazer tudo dar certo.’ É o ator quem abre a temporada por aqui: no primeiro episódio, ele vai à Amazônia, na margem direita do rio Gregório, no Acre, conhecer dois líderes da tribo Yawanawa, sobre a qual Josh Thome, produtor-executivo da série, fez um documentário em 2001.


Na próxima semana, o programa vai à favela Cidade de Deus, no Rio, com o rapper Mos Def apresentando ao mundo o ‘jovem líder’ MV Bill. Para Thome, o Brasil é o único país duplamente representado porque ele veio ao país sete vezes nos últimos sete anos.


‘Durante o desenvolvimento [da série], viajamos pelo mundo, fomos à Índia, à Venezuela, à África, ao Brasil, aprender mais sobre os jovens líderes fazendo esses trabalhos. A escolha coincidiu com quem estava disponível’, completa Sol Guy.


‘Fomos a muitas comunidades às quais as pessoas não vão normalmente’, afirma, explicando por que tiveram que tomar ‘certas medidas de segurança’. Uma delas, conhecida dos brasileiros, entrar sempre com alguém da comunidade.


E, segundo eles, nenhum famoso quis desistir no meio do caminho. ‘Não dávamos muita informação sobre o lugar para onde íamos, para que eles fossem abertos, perguntassem o que qualquer pessoa normal perguntaria’, diz Thome.


E cometessem gafes ‘normais’ também. A atriz Cameron Diaz, por exemplo, achou que estava adequada com uma bolsa de lona a tiracolo, nada de Prada ou Louis Vuitton. Não sabia que o slogan maoísta (‘Sirva o povo’) que carregava, em chinês, ofenderia os peruanos, que, nos anos 80 e 90, enfrentaram conflitos com rebeldes maoístas no país que deixaram quase 70 mil mortos. A atriz pediu desculpas ao Peru.


FAMOSOS NO MUNDO REAL


Quando: estréia nesta quinta, às 23h


Onde: no National Geographic’


 


 


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O Estado de S. Paulo


Terça-feira, 25 de março de 2008


VENEZUELA
O Estado de S. Paulo


Chávez anuncia fórum sobre mídia


‘O presidente venezuelano, Hugo Chávez, anunciou ontem que organizará uma série de encontros, a partir de quinta-feira, para analisar ‘o terrorismo midiático’. As reuniões coincidirão com a Assembléia da Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP), que será realizada de sexta-feira a domingo em Caracas.


‘Será um fórum latino-americano, de alcance internacional, que analisará o fenômeno do terrorismo midiático, que atualmente ataca a países da região ‘, disse o ministro de Informação e Comunicação da Venezuela, Andrés Izarra.


Os organizadores do ‘Encontro Latino-americano contra o Terrorismo Midiático’ também anunciaram que farão um protesto no sábado contra a assembléia da SIP, que acusou no começo do ano o governo da Venezuela de pressionar os hotéis de Caracas a boicotar a realização do encontro da entidade.’


 


CAMPANHA
Rubens Barbosa


De novo a eleição nos EUA


‘Na semana passada, em rápida passagem por Nova York e Washington, fiquei impressionado com a virulência e a intensidade do debate eleitoral nos EUA.


A menos de oito meses da eleição presidencial e de três das convenções partidárias que irão escolher os candidatos democrata e republicano, os resultados da campanha continuam incertos, tanto no tocante ao candidato democrata quanto à eleição, em novembro, contra o candidato republicano, John McCain.


Participei de reunião de conselho na qual estavam presentes assessores de Barack Obama, Hillary Clinton e John McCain e ali pude registrar a mesma perplexidade e dificuldade em prever os próximos desdobramentos da campanha.


A pequena diferença, entre os delegados escolhidos nas prévias, a favor de Obama não deve mudar, mas ainda não garante a sua indicação. Hillary, a rigor, ainda poderia, com a ajuda dos superdelegados, representantes da máquina do Partido Democrata, reverter a tendência evidenciada até aqui e se impor na convenção.


A campanha eleitoral e a cobertura da mídia se concentram em três temas, repetidos de forma obsessiva pela imprensa falada, escrita e televisada: a guerra do Iraque, que completou cinco anos no dia 19, a crise financeira e seu impacto sobre a economia e o latente, mas sempre presente, problema racial na sociedade norte-americana.


As preocupações com a segurança nacional, resultantes do pavor de um novo ataque terrorista, cederam lugar nos debates às conseqüências negativas do comportamento da economia. A crise financeira é a ponta do iceberg dos problemas econômicos americanos. O maior desafio, hoje, é o desconhecimento da extensão da crise no sistema bancário e imobiliário e há grandes dúvidas sobre se outros setores poderão ser contaminados.


Em termos políticos, os eleitores querem saber quais as propostas dos candidatos para conter a desaceleração do crescimento, o aumento do desemprego, os problemas na previdência social, na saúde e na educação, diante, entre outros fatores, dos crescentes gastos com as guerras no Iraque e no Afeganistão.


No seu já quinto ano, a guerra no Iraque parece estar longe de ser resolvida antes do final do governo George W. Bush. Os EUA já despenderam entre US$ 450 bilhões (segundo estimativas oficiais) e US$ 1 trilhão (segundo vários institutos de análise e pesquisa). Com mais de 4.500 mortos e mais de 21 mil feridos gravemente, a guerra no Iraque já é uma das mais caras e mais longas da história militar americana.


Na campanha eleitoral, a guerra do Iraque é tratada pelos candidatos com propostas para alcançar uma paz honrosa, permitir o desengajamento militar dos EUA e, sobretudo, com promessas de trazer de volta, o mais rapidamente possível, um número significativo de soldados americanos. Até porque Bush espera que o governo e o Exército iraquianos assumam a responsabilidade do restabelecimento da paz e da segurança interna e o combate ao terrorismo da Al-Qaeda


Finalmente, o terceiro e mais recente tema na campanha eleitoral é o surgimento da questão racial. Esse problema, que tanta dor e tanto trauma causou entre brancos e negros, está longe de estar resolvido na sociedade americana. Sermões explosivos pelo seu caráter crítico aos EUA e aos brancos, feitos pelo reverendo da Igreja Batista freqüentada por Obama, passaram a dominar o noticiário. Cobrado com insistência, e na tentativa de conter uma crise iminente em sua vitoriosa campanha, o pré-candidato optou por enfrentar o problema sem tergiversar.


Com coragem, num discurso direto e pessoal, Obama abordou a questão da divisão racial pouco disfarçada na sociedade norte-americana. Procurando distanciar-se dos controvertidos sermões, mostrou que as expressões usadas pelo reverendo representavam uma visão profundamente distorcida dos EUA. Não deixou de se referir às justificadas queixas e aos ressentimentos dos dois lados, aludindo às razões pelas quais alguns negros podem sentir-se excluídos, mas também se referiu aos motivos pelos quais alguns brancos se sentem igualmente preteridos, numa direta alusão às cotas que beneficiam negros em detrimento de brancos na admissão ao estudo e ao emprego. Fez um candente apelo para que todos os americanos deixem para trás as antigas feridas e olhem para um futuro de unidade e de cooperação.


O problema racial, mais cedo ou mais tarde, seria trazido para a campanha eleitoral. Obama foi obrigado, pelas circunstâncias, a antecipar-se e a estabelecer os parâmetros para um amplo diálogo sobre essa questão. O pronunciamento de Obama foi visto, pelos que o apóiam e pelos que a ele se opõem, como um dos discursos mais importantes feitos, sob pressão, por um candidato a presidente desde John Kennedy, em 1960. À época, o intuito foi acalmar a sociedade protestante norte-americana em relação aos riscos de eleger, pela primeira vez na história dos EUA, um católico como presidente.


O que não se sabe é se a fala de Obama terá sido positiva ou negativa para sua campanha e se, com esse discurso, conseguirá evitar que a questão racial se transforme num dos temas que podem ser usados contra ele, prejudicando uma trajetória até aqui tão bem-sucedida.


No caso de a convenção reverter a vontade popular expressa nas primárias e Hillary Clinton vir a ser indicada, há o risco de a comunidade negra interpretar a manobra como uma forma ilegítima de burlar essa vontade popular por preconceito racial. As conseqüências dessa frustração são imprevisíveis, pois a ela vai somar-se a de grande número de jovens que tinham esperança de poder mudar a maneira de fazer política em Washington.


Rubens Barbosa, consultor, presidente do Conselho de Comércio Exterior da Fiesp, foi embaixador em Washington’


 


CHINA
O Estado de S. Paulo


Protestos atrapalham cerimônia olímpica


‘Olímpia, Grécia – O governo chinês afirmou que vai aumentar a segurança no trajeto que será percorrido pela tocha olímpica, após manifestantes terem interrompido a cerimônia de acendimento ontem na Grécia. Durante o ato, realizado em Olímpia, integrantes da ONG francesa Repórteres Sem Fronteiras (RSF) conseguiram romper o esquema de segurança para protestar contra a posição da China em relação aos direitos humanos.


Os manifestantes carregavam uma bandeira com cinco algemas interligadas semelhantes aos anéis olímpicos, e um deles conseguiu aproximar-se do responsável chinês do comitê organizador da Olimpíada, Liu Qi. Os três foram presos e podem ser processados por conduta desrespeitosa durante um evento público. De acordo com a polícia, eles conseguiram entrar na cerimônia por meio de credenciamento de imprensa.


O presidente do Comitê Olímpico Internacional (COI), Jacques Rogge, lamentou o ocorrido, que também foi condenado pelo governo grego. ‘É sempre muito triste quando há manifestações, mas essas não foram violentas e creio que isso é o mais importante’, afirmou Rogge. A ONG responsável pelo protesto respondeu: ‘Se a tocha olímpica é sagrada, os direitos humanos são mais sagrados ainda’, afirmou em nota. ‘Nós não podemos deixar que o governo chinês se aproveite da tocha olímpica, um símbolo de paz, sem denunciar a situação dramática dos direitos humanos no país.’


Momentos depois do protesto, uma mulher tibetana coberta de tinta vermelha deitou-se no caminho de um dos atletas que carregava a tocha, enquanto outros manifestantes gritavam ‘Libertem o Tibete’. A polícia conseguiu retirar a mulher do local. A cerimônia, transmitida ao vivo para o mundo todo, teve os trechos dos protestos censurados na emissora estatal chinesa, que exibiu imagens gravadas previamente.


A cerimônia de ontem marcou o início da jornada da tocha que, em 130 dias percorrerá 137 mil quilômetros antes de chegar a Pequim em 6 de agosto – dois dias antes do começo da Olimpíada. A tocha deve chegar à China em maio e passar em junho por Lhasa, capital tibetana que foi cenário de violentos protestos nos últimos dias.


Os protestos tiveram início no dia 10 para marcar o 49º aniversário do fracassado levante de tibetanos contra o domínio chinês, em 1959, que levou ao exílio do dalai-lama na Índia. Segundo números oficiais, as manifestações deixaram 22 mortos. No entanto, o governo tibetano no exílio afirmou ontem que a repressão dos protestos deixou pelo menos 130 mortos.


As autoridades chinesas anunciaram ontem que 381 pessoas que participaram dos ‘distúrbios’ ocorridos na Província de Sichuan, sudoeste da China, se entregaram ‘voluntariamente’ à polícia. Pequim havia dado um prazo – expirado na semana passada – para que os participantes das manifestações se entregassem. Ontem, a polícia do Nepal dissolveu uma manifestação de tibetanos exilados contra a China em Katmandu. Cerca de 475 manifestantes foram presos, segundo a ONU.


Em Sichuan, no oeste da China, confrontos com ‘gangues’ deixaram um policial morto e vários outros feridos, afirmou ontem a mídia estatal.


Pequim acusa o dalai-lama de ter conspirado para sabotar os Jogos Olímpicos e de ser o cérebro por trás das manifestações. O dalai-lama desmentiu as acusações e disse que não se opõe à Olimpíada.


A secretária de Estado americana, Condoleezza Rice, pediu ontem que a China adote uma política mais ‘sustentável’ em relação ao Tibete, e pediu para que o governo dê início a conversas com o dalai-lama. O presidente francês, Nicolas Sarkozy, também pediu que Pequim considere dialogar com o líder espiritual. Em carta enviada ao presidente chinês, Hu Jintao, Sarkozy expressou a disponibilidade de seu governo de ‘facilitar’ o diálogo.’


 


O Estado de S. Paulo


O dalai-lama na mira de Pequim


‘Os observadores internacionais não escondem a sua perplexidade com a escalada de ataques virulentos do governo chinês ao líder religioso e chefe do governo tibetano no exílio, o dalai-lama. Em meados do mês, como se recorda, protestos pacíficos de monges budistas, seguidos dos mais violentos distúrbios em quase duas décadas na região, eclodiram em Lhasa, a capital do Tibete, em ‘comemoração’ pelos 49 anos do fracassado levante de 1959 contra a anexação do país à China. Desde então, Pequim não cessa de apontar o septuagenário dalai-lama como o principal instigador das manifestações que teriam provocado pelo menos uma centena de mortes e um número indeterminado de pessoas feridas ou presas, além de se alastrar para as áreas da China com forte presença de tibetanos. A mais recente diatribe contra o líder pacifista, refugiado na Índia desde o levante de 1959 e agraciado com o Prêmio Nobel em 1989, saiu domingo no Diário do Povo.


O jornal oficial do Partido Comunista Chinês o acusa de conspirar ‘para tornar reféns os Jogos Olímpicos de Pequim (em agosto), com a intenção de obrigar o governo a fazer concessões para a independência do Tibete’. O que deixa perplexos os diplomatas e analistas ocidentais que acompanham a crise é a irracionalidade da posição chinesa. Em primeiro lugar, os dirigentes comunistas sabem que, para decepção das entidades européias e americanas de defesa dos direitos humanos, o dalai-lama apoiou abertamente a afinal vitoriosa candidatura de Pequim a sediar a Olimpíada deste ano. E, embora tivesse classificado a repressão chinesa aos protestos como um ‘genocídio cultural’, em nenhum momento pediu o boicote aos Jogos. Segundo, a China tampouco ignora que, na semana passada, quando ameaçou renunciar à chefia do governo tibetano no exílio, a intenção do dalai-lama era apaziguadora. Com essa ameaça, tentava incitar seus compatriotas a dar por encerrados os protestos.


‘A violência é contrária à natureza humana’, pregou. A violência a que o dalai-lama se referiu foi certamente a que marcou as manifestações, dias antes, em Lhasa, quando turbas de tibetanos apedrejaram e saquearam casas comerciais pertencentes a chineses. (Esses e outros atos de vandalismo contra civis foram testemunhados por um único jornalista ocidental, o correspondente da revista Economist em Pequim, que previamente obtivera permissão para visitar o Tibete. No seu despacho, ele escreveu que ‘a destruição foi sistemática’.) Em terceiro lugar, Pequim está farta de saber que o dalai-lama não aspira à ‘independência’ de sua terra. Em inumeráveis pronunciamentos, ele tem reivindicado para a chamada ‘Região Autônoma do Tibete’ uma autonomia cultural e administrativa como a de Hong Kong. Para negociar esse tipo de autonomia, enviados do ‘mestre espiritual’ budista se reuniram seis vezes, a contar de 2002, com representantes do governo chinês – sem qualquer resultado.


É notório que a resistência da China se explica pelo temor do contágio. No vasto território do antigo Império do Meio, os tibetanos não são o único grupo étnico a aspirar a alguma forma de autonomia. Em 2005, por exemplo, a mão pesada de Pequim se abateu sobre os militantes uigures da região predominantemente muçulmana de Xinjiang, no noroeste chinês. A Mongólia Interior é outro foco de sentimentos nacionalistas. Ainda assim, ‘se a China fizesse uma análise racional de seu próprio interesse a longo prazo’, argumenta o historiador Timothy Garton Ash, em artigo transcrito na edição de domingo do Estado, trilharia o caminho sugerido pelo dalai-lama: uma autonomia negociada para o Tibete, sem chegar à independência plena. Ash, que viveu na antiga República Democrática Alemã, acredita que ‘a dubiedade característica dos regimes repressores’ é o que explica a insensibilidade chinesa à importância do dalai-lama como protagonista de uma solução pacífica para a questão tibetana.


Para a China, o dalai-lama é ‘uma relíquia feudal’ – o que não impede as autoridades de Pequim de ‘falar nele obsessivamente’, nota o historiador. Para um observador ocidental é quase impossível compreender a incapacidade do governo chinês de entender as vantagens que lhe traria um relacionamento com o Tibete nas condições propostas pelo seu líder religioso.’


 


CHARGE
Roberta Pennafort


Dois livros para lembrar o ‘quase’ perfeito J. Carlos


‘A Semana de Arte Moderna, a reformulação urbanística do Rio, o carnaval, o futebol, a intrincada política nacional. Nada escapou do traço e da leitura crítica do chargista J. Carlos (1884-1950), considerado o maior ilustrador brasileiro de todos os tempos, nos agitados anos 20. Ou quase nada… Sua visão aguçada falhou ao não prever o acontecimento que seria o divisor de águas da época: a Revolução de 30, que pôs fim à chamada República Velha.


Desse ‘deslize’ vem o título do novo livro da série que se dedica à vasta obra de J. Carlos: O Vidente Míope – J. Carlos n’O Malho (1922-1930), da editora Folha Seca, que será lançado hoje, no Paço Imperial, no Rio. Organizada pelo caricaturista Cássio Loredano, colaborador do Estado, a publicação, com textos do historiador Luiz Antonio Simas, traz deliciosas ilustrações feitas para a revista.


Os períodos anterior e posterior ao abarcado por O Vidente Míope já haviam sido cobertos por outros livros idealizados por Loredano. De 1902 a 1921, o workaholic J. Carlos se dedicou, principalmente, à revista Careta; de 1930 a 1950, seus desenhos saíram na Cruzeiro.


‘Faltava esse miolo. Estava tudo na Biblioteca Nacional, se deteriorando’, conta Loredano. ‘J. Carlos tinha faro para observar a cena política, mas errou feio ao não prever a revolução. Era contra Getúlio e O Malho acabou empastelado. Na casa do filho dele, em Petrópolis, tem tudo dele, menos O Malho. Acho que J. Carlos jogou fora.’ Em O Vidente Míope estão 306 dos cerca de 1.200 desenhos feitos para a revista.


O J. Carlos designer e diagramador é exaltado noutro lançamento: O Desenhista Invisível, da designer Julieta Sobral . O volume, com capas e páginas d’O Malho e da revista Para Todos…, mostra por que ele é um dos maiores representantes do estilo art déco em sua área. ‘Em plena década de 20, J. Carlos fazia coisas nunca vistas na Europa ou EUA. Era totalmente vanguarda’, diz Julieta. ‘É impressionante a sua liberdade. Fazia experimentações, mas até onde o leitor pudesse entender.’ Professora da PUC-Rio, ela trabalha J. Carlos em sala de aula. Os alunos ficam encantados.’


 


TELEVISÃO
Keila Jimenez


Se cuida, Gabriela


‘Imagine um encontro entre o presidente Lula e Luciana Gimenez. Não é brincadeira, a apresentadora do Superpop, da RedeTV!, tem nos seus planos para 2008 conseguir uma entrevista com o presidente da República.


Entrevistas assim, com personalidades nacionais e internacionais, fazem parte da reformulação do programa de Luciana. O Superpop está passando por mudanças e ganhará em breve novo cenário, vinhetas, quadros e locução.


‘A idéia é que eu grave mais externas, que eu leve uma câmera em minhas viagens’, conta Luciana. ‘Também quero fazer mais entrevistas. Gostaria muito de conversar com o Lula, tenho muitas coisas para perguntar a ele’, continua. ‘Também queria falar com o ex- governador do Estado de Nova York, mas isso todos querem, né? (risos).’


Entre outras novidades, Luciana promete pegar mais leve nos ‘barracos’ no seu palco e pretende retomar a ‘ingenuidade’ que lhe rendeu a fama de ‘Lucianta’. ‘Estava me concentrando muito, tentando não falar besteira no ar. Percebi que o público gosta mesmo é quando eu erro, gosta da minha naturalidade.’’


 


CULTURA
Paula Chagas Autran


Com a perna no mundo


‘A vida é a arte do encontro, dizia Vinicius de Moraes. Pensando nisso, muitos grupos brasileiros, seguindo o conselho do poeta, buscam um contato maior com artistas fora do País. Muito além de ‘turismo cultural’, eles vêem nessa aproximação possibilidades de aprendizado e reciclagem. A trupe de palhaços do Jogando no Quintal, por exemplo, resolveu há dois anos procurar novos parceiros. ‘Temos uma formação boa na arte do palhaço, mas sentíamos falta de um embasamento maior na arte da improvisação’, diz César Gouvêa, o palhaço Cizar Parker, um dos fundadores do grupo, hoje com cinco anos, 12 integrantes e um dos raros no mundo que une as duas linguagens. ‘No Brasil, a improvisação é utilizada como meio para se chegar a um espetáculo, mas pouco usada no palco, na hora da ação’, ressalta Márcio Ballas , o palhaço João Grandão, outro fundador da companhia.


A trupe descobriu um mestre nessa arte perto daqui, o argentino Ricardo Behrens, diretor do grupo LPI, e convidaram-no para ministrar um workshop. ‘Percebemos que nossos erros eram sempre os mesmos e que não tínhamos instrumental para melhorar naqueles pontos’, explica a integrante Rhena de Faria, a palhaça Mademoiselle Blanche. No final de 2006, a trupe realizou o primeiro festival Jogando no Quintal de Improvisação – Edição Latino-Americana, com grupos da Argentina e da Colômbia. Para estreitar ainda mais os laços artísticos, a trupe entrou no palco com seus convidados.


No ano seguinte, o festival foi ampliado. Passou de latino-americano a internacional e contou com mais dois países, Equador e Espanha. Em seguida, a trupe foi convidada para mostrar seus espetáculos na Colômbia e Argentina. E a relação não pára por aí. Neste momento participam do 11º Festival Ibero-Americano de Teatro de Bogotá, que termina na quarta.


Originalidade é uma das principais características do trabalho desenvolvido pelo diretor e produtor carioca Frederico Reder, que há quatro anos leva sua trupe circense para fazer espetáculos em um dos países menos freqüentados por turistas do mundo: a Arábia Saudita. ‘No país só é dado visto para turismo religioso’, explica. ‘É quase impossível entrar lá sem ser muçulmano’, lembra Reder. E o produtor não só entra no país como leva mais de 30 artistas circenses com ele ao parque Jungle Land, que foi inspirado na Disney e tem atrações variadas. O circo comandado por Reder funciona três meses por ano. Apesar da distância, há algo de familiar na estrutura do circo onde Reder faz seu espetáculo. ‘O empresário que montou o parque veio ao Brasil, comprou a estrutura do circo Garcia, que fechou há alguns anos, e a montou lá’, conta.


O parque foi montado na cidade de Jedá, em meio ao deserto saudita. E por lá os termômetros chegam a marcar até 46 graus. ‘Por conta do calor, as apresentações são sempre feitas à noite’, conta o produtor. E a população local, pouco habituada a espetáculos circenses, lota todas as noites os mais de três mil lugares do circo. A trupe teve também de assimilar os costumes locais para não ferir as rígidas regras de convivência local. ‘As mulheres vêm ao circo, mas não podemos dirigir a palavra a elas’, conta. ‘Mas até hoje pudemos fazer nosso trabalho em paz’, observa. Reder prepara-se para viver em junho mais uma aventura na Arábia.


Foi pensando nessa troca cultural que a companhia de teatro infantil Prosa dos Ventos resolveu ir até Portugal. Acostumados a correr atrás de patrocínio para suas produções, pensaram: Por que não fazer o mesmo lá? ‘Estávamos a passeio em Portugal’, conta a atriz Helena Morais, integrante da cia., dirigida por Fabio Torres. ‘Mas a cabeça de quem produz não pára nunca. Comecei a pesquisar como fazer para levar espetáculos para lá’. Assim, Helena descobriu que em cada cidade há uma câmara de cultura. ‘Com o nome dos vereadores responsáveis por cada distrito, mandei os projetos e conseguimos vender espetáculos para 14 cidades’. A cia. já realizou essa façanha em duas ocasiões diferentes, em 1999 e em 2006, com o apoio da Votorantim, que lhes cedeu as passagens. ‘Na primeira vez, só apresentamos os espetáculos e viemos embora, mas, em 2006, tivemos uma vivência maior com a cultura do país e com grupos de lá.’


Essa vivência resultou na participação em um movimento que ocorre na cidade de Évora. ‘Lá, a câmara de cultura cedeu os galpões da zona portuária para as companhias de teatro’, conta. ‘Nós nos apresentamos na sede do grupo Pé de Chumbo, o que muito nos auxiliou no aprofundamento da nossa pesquisa’, garante Helena. Esse grupo faz todo ano um festival internacional de danças folclóricas, produzindo um CD com as canções apresentadas. Essa realização inspirou a trupe brasileira, que desde sua origem, em 2001, promove pesquisa na área musical dentro do teatro. Em Portugal, Helena e o ator Élcio Rodrigues, membro da cia., mostraram a peça Ciranda das Flores, que é recheada de cantigas de roda, grande parte delas de origem portuguesa. O próximo passo da trupe será lançar um CD, até o fim do ano, tendo como convidados especiais os integrantes do Pé de Chumbo.


Essa ponte entre países é feita há mais de uma década pela documentarista e produtora Paula Cosenza. Em 1997, ela foi fazer faculdade de cinema na Inglaterra. ‘Lá iniciei um contato intenso com outros artistas, principalmente imigrantes como eu’, revela ela. Essa experiência foi parar nos trabalhos que realizava na faculdade. O primeiro curta-metragem produzido por Paula, La Santa, foi dirigido pela espanhola Arantzazu Bayon. O curta já participou de mais de 40 festivais ao redor do mundo, entre eles o de Berlim, faturando prêmios importantes.


Assim nasceu o Madremedia – que conta também com a fotógrafa brasileira radicada em Londres Andrea Testoni e com a antropóloga e fotógrafa Joana Beneton, entre outras – coletivo de mulheres que trabalham com audiovisual. Outro traço em comum entre elas é que todas já moraram em diferentes países ao redor do mundo, falam pelo menos duas línguas fluentemente e colecionam prêmios em festivais internacionais. ‘Cada uma de nós sempre faz parte do trabalho da outra’, garante. Dessa forma, já produziram filmes, documentários, mostras de fotografias, programas de televisão, como o recente Chegados, série sobre imigrantes que fizeram a história do Brasil, veiculado na TV Futura.


Por morar em diferentes países, as integrantes fazem reuniões semanais com ajuda tecnológica como o skype. E os projetos seguem a todo vapor. No momento, Paula e Andrea realizam o documentário Yuba sobre uma comunidade japonesa do interior paulista. Além disso, Paula e Arantzazu estão a caminho de seu primeiro longa-metragem, co-parceria Brasil-Espanha.’


 


 


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