Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

MTV lança campanha de conscientização social

Leia abaixo a seleção de terça-feira para a seção Entre Aspas.


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Folha de S. Paulo


Terça-feira, 1 de abril de 2008


TELEVISÃO
Daniel Castro


MTV lança campanha pela indignação


‘A MTV lançou ontem em sua programação a ‘MTV Pública’, sua mais nova campanha de ‘conscientização social’. O foco da campanha, que também funciona como peça de marketing da emissora, serão eleições e sustentabilidade. Seu objetivo? ‘Chinchar’ o jovem para que ele fique indignado, nas palavras de Zico Goes, diretor de programação do canal.


Segundo Goes, a ‘MTV Pública’ é uma evolução de campanhas como a tradicional anti-Aids e a ‘Ovos e Tomates’, de 2006, por ética na política.


‘Agora, tudo o que for de conscientização social será ‘MTV Pública’. Neste ano, a campanha cresce, sai dos intervalos comerciais. Além de boletins de hora em hora, faremos um mega evento, provavelmente em junho, e teremos ações na internet, flash mobs (protestos públicos mobilizados pela internet) e anúncios em jornais’, afirma Goes.


A MTV, segundo Goes, criou um selo para identificar a campanha e um departamento, com orçamento próprio e seis profissionais, para tocá-la.


Os boletins na programação não terão formato definido. Os primeiros trazem pessoas comuns falando de política.


‘O tema neste ano é mais político. Mas queremos fazer algo permanente, permeado pela indignação. Acho que isso é um dever da MTV. O jovem é um indignado em potencial, mas precisa ser chinchado para ficar indignado’, diz Goes.


FUSO 1 A partir do próximo dia 9, TVs de parte do Norte (AM, RR e RO) e do Centro-Oeste (MT e MS) terão que gravar as programações que recebem das cabeças-de-rede e exibi-las uma hora depois. No Acre, essa defasagem será de duas horas.


FUSO 2 É que vence dia 9 o prazo dado pelo Ministério da Justiça para as emissoras se adequarem às novas regras da classificação indicativa, que obrigam o cumprimento do fuso horário. ‘Não trabalhamos com a hipótese de uma nova prorrogação’, diz o secretário nacional de Justiça, Romeu Tuma Jr.


ÍDOLOS O SBT apresenta hoje o ‘novosídolos’ (assim mesmo, tudo junto e em letras minúsculas), sua nova versão de ‘Ídolos’.


TURBO Com todo o elenco de ‘BBB 8’, o ‘Domingão do Faustão’ registrou anteontem 24 pontos em sua segunda parte (18h01/ 20h53). Foi a maior audiência no ano. Mas não o suficiente para impulsionar o ‘Fantástico’, que, mesmo com estréias, não passou dos 27. MOSQUITO A Globo redobrou os cuidados para evitar contaminação de dengue no Projac, que fica em uma das regiões de maior incidência da doença, no Rio. As dedetizações, que já eram diárias, foram reforçadas nas últimas semanas. A dengue já vitimou alguns de seus artistas, como Luciano Huck.


RECORDE Os 75.637.402 votos da final do ‘BBB 8’ foram um recorde mundial do ‘Big Brother’.’


 


DOSSIÊ
Eliane Cantanhêde


Uma a menos?


‘BRASÍLIA – O Palácio do Planalto e uma penca de ministros desmentiram publicamente a existência do tal dossiê contra o casal FHC-Ruth Cardoso, e a ministra Dilma Rousseff chegou ao requinte de telefonar para a ex-primeira-dama garantindo que não havia nada disso. No tortuoso caminho para desmentir os desmentidos, o ‘dossiê’ derrapou, virou ‘banco de dados’ e um vexame nacional.


Parte do vexame é tentar atribuir o vazamento do dossiê do uiscão a algum tucano infiltrado no Planalto. Um tucano próximo o suficiente para ter acesso à operação e a seus detalhes, mas distante o bastante para entregar o ouro dos companheiros? Com Lula no segundo mandato, no quinto ano de governo e blindado por uma popularidade na estratosfera?


Olhando de fora, o mais provável é que o PT esteja exercitando uma velha prática do PT: a luta interna. Dilma Rousseff foi saudada como dura na queda, incorruptível, vítima da ditadura e boa executiva num governo em que bons executivos são (ou eram) peças raríssimas. Já são qualidades suficientes para atiçar um preconceito daqui, um ciúme dali e, claro, inveja de tudo quanto é lado.


Mas, ao se tornar ‘mãe do PAC’ e presidenciável do coração de Lula, acendeu um outro sentimento ao seu redor: o da disputa. Ministros, governadores e a companheirada petista em geral engoliria assim, tão facilmente, a candidatura de uma neófita saída do PDT? Gritalhona?


Com 3% nas pesquisas? Ora, ora.


Em vez de tucanos infiltrados, Dilma deveria olhar à sua esquerda e à sua direita para identificar resistências à preferida de Lula para 2010. Uma coisa é certa: alguns caciques petistas podem nem ter nada a ver com o vazamento, mas não ficaram nem um pouco tristes com o sufoco da ministra e o recuo da presidenciável. Ao contrário.


O dossiê passa, e a fila anda -a fila de presidenciáveis petistas loucos pela bênção de Lula.’


 


INTERNET
Carlos Heitor Cony


Vênus virtual


‘RIO DE JANEIRO – Cheguei ao hotel em Florença. Constrangido, o dono me avisou que houvera problema com a linha telefônica. Se eu precisasse acessar a internet ele me arranjaria outro hotel.


No mesmo instante, chegou a moça para fazer o seu check-in. Avisada de que não teria linha para a internet, perguntou como e onde poderia quebrar o galho, navegar era preciso.


O dono indicou, 20 metros adiante, uma loja que dispunha de vários computadores, preço razoável. A moça gostou. Mandou subir a mochila para o quarto, nem subiu para ver como era, foi diretamente buscar as ondas digitais onde lançaria suas naves no oceano virtual.


Bem, subi ao meu quarto, tomei banho, desci para dar uma volta. Lá estava a moça agarrada ao teclado, a luz trêmula e azulada do monitor batendo em seu rosto.


Fui ver o ‘Putto in Giardino’, de Verrochio, no pátio principal do Palazzo Vecchio. Almocei costeleta à moda florentina, tomei lentamente um chianti encorpado, com aquela cor viril dos vinhos da Toscana. Voltei ao hotel. A moça continuava navegando.


Ao cair a noite, saí para jantar, a moça continuava diante do mesmo monitor.


Jantei, voltei quase meia-noite, a tal loja estava deserta, somente uma pessoa navegava no mundo virtual: ela. Não almoçara, não jantara, não tomara banho, não mudara de roupa, não vira o anjinho de Verrochio nem a fachada de mármore de Santa Maria dei Fiori.


No dia seguinte, encontrei-a fechando a conta do hotel, indo para Bolonha. Perguntei se gostara de Florença. Sim, disse ela. ‘Adorei tudo. Amei os Botticelli no Uffizi’.


A moça precisaria de duas horas só para enfrentar a fila e entrar no museu. Gostara sobretudo de ‘O Nascimento de Vênus’.’


 


CÉLULAS TRONCO
Claudio Fonteles


A inviolabilidade da vida humana


‘Por que insistir em pesquisa que tem caminhada de dez anos e nenhum resultado? Ou melhor, cujo resultado é violar a vida humana?


A PROFESSORA Lygia Pereira, em recente artigo, perguntando-se sobre o que considerou ‘uma nova polêmica [que] surgiu no mundo todo: esse embrião é uma vida ou não?’, foi rápida e enfática na resposta: ‘Ora, é claro que ele é uma forma de vida humana, assim como um feto, um recém-nascido e um idoso também são’.


Pensei: bem, a controvérsia está terminada, ao menos entre nós dois, pois, se o embrião, o feto, o recém-nascido e o idoso, todos constituem-se forma de vida humana, vistos por certo nos estágios cronológicos de sua existência, o embrião é vida humana.


Mas eis que a professora Lygia prossegue e, após estabelecer que ‘a real questão é ‘que formas de vida humana nós permitiremos perturbar?’, sustenta que ‘a ‘vida’ mencionada na nossa Constituição já é legalmente violada em algumas situações’. Elenca a morte cerebral e a permissão do aborto em caso de estupro ou de risco de vida para a gestante a perguntar, então: ‘E aquele embrião de cinco dias, produzido por fertilização ‘in vitro’ e armazenado em um congelador, em que condições ele é uma forma de vida passível de ser violada?’, para responder: ‘A Lei de Biossegurança, de 2005, permite o uso para pesquisa de embriões inviáveis -que não sejam capazes de se desenvolverem em um recém-nascido ou que estejam congelados há mais de três anos’.


Anotado o eufemismo ‘que formas de vida humana nós permitiremos ‘perturbar’ e poucos dias após o início do julgamento, eis que a imprensa brasileira, em decisiva matéria sobre o assunto, documenta a existência do menino Vinícius, de seis meses, embrião congelado por oito anos, destacada a frase de sua mãe, Maria Roseli, a dizer: ‘Imagine se eu tivesse doado o embrião para pesquisa’.


É a comprovação clara do que a professora Alice Teixeira asseverou na audiência pública, no que não foi contestada até hoje, no sentido de que há no mundo, especificamente nos Estados Unidos, pessoas, embriões congelados por sete, nove e até 13 anos. No Brasil, a professora Alice Teixeira apontou o caso de Alissa, embrião congelado por seis anos. Por certo, inúmeras são as pessoas, embriões congelados por vários anos.


Tais fatos, tão inequívocos, constatam que o prazo único de três anos, posto no artigo 5º da Lei de Biossegurança, após o que autorizada estava a pesquisa com embriões, é prazo aleatório, destituído de qualquer fundamento científico sério. O princípio constitucional que consagra como direito individual fundamental a inviolabilidade da vida humana queda inexoravelmente comprometido ao permitir-se que permaneça a eliminação do embrião humano, para qualquer fim. Inviolabilidade da vida humana significa destacar e colocar em patamar supremo a existência do ser humano.


Como manter pesquisa cujo objeto são embriões humanos congelados se, quando descongelados e implantados no útero materno, vivem? Se há os que morrem, há os que vivem. Aí estão Alissa, Vinícius e tantos mais.


O princípio da inviolabilidade da vida humana não se define por estatísticas. Demonstrado e provado, como está, e por forma inequívoca, que o embrião congelado por mais de três anos vive, a norma jurídica que autoriza sua eliminação para pesquisa é flagrantemente inconstitucional.


Como, ainda, diante de fatos tão claros e inequívocos, dizer que Alissa, Vinícius e tantos mais não são vidas humanas, não são brasileiros, porque foram embriões congelados e, segundo o pensamento do relator, ministro Carlos Britto, fecundados ‘in vitro’, estariam condenados à solidão infinita e vida neles não há?


Depois que propus a ação direta de inconstitucionalidade, linhas várias de pesquisa se abriram, a indicar o valor do líquido amniótico, da placenta, do cordão umbilical, a presença das células-tronco adultas nas paredes de todos os vasos sanguíneos -aqui, graças ao trabalho de equipe de pesquisadores da USP de Ribeirão Preto, segundo declaração à imprensa do professor Dimas Tadeu Covas-, no tratamento das doenças degenerativas.


O professor Thompson, quem primeiro pesquisou com células-tronco embrionárias, abandonou essa linha de pesquisa para concentrar-se, como o faz o professor Yamanaka e equipe, em outra vertente: a reprogramação genética das células adultas, conduzindo-as à pluripotência.


O leque de pesquisas está aberto. Por que insistir naquela vertente que já tem caminhada de dez anos e cujo resultado é nenhum ou, a dizer com a realidade, cujo resultado é violar a vida humana?


Termino repetindo o alerta de Maria Roseli, mãe de Vinícius: ‘Imagine se eu tivesse doado o embrião para pesquisa’.


CLAUDIO FONTELES, 61, mestre em direito pela UnB (Universidade de Brasília), professor de direito processual penal, é subprocurador-geral da República. Foi procurador-geral da República de 2003 a 2005.’


 


José Carlos Dias


O Supremo e a vida


‘A utilização, em outro ser, de células-tronco consideradas inviáveis é a forma mais digna de dar continuidade ao projeto vital do criador


PLEITEIA O procurador-geral da República que o Supremo Tribunal Federal declare inconstitucional o artigo 5º da lei nº 105/ 2005, que autoriza a pesquisa para fins terapêuticos com células-tronco embrionárias inviáveis para a reprodução, argumentando que a vida tem como marco inicial a fecundação, devendo ser, a partir de então, protegida de forma absoluta pela Constituição.


A questão posta, e que está sendo objeto de discussão e julgamento pela Suprema Corte, esbarra numa premissa da maior importância: se o embrião fertilizado ‘in vitro’ vier a ser considerado inviável à reprodução, pode, ainda assim, ser equiparado à condição de pessoa, sujeito de direitos fundamentais?


A resposta é negativa. E isso porque nem sequer o feto é equiparado à pessoa pelo nosso ordenamento jurídico.


O Código Penal, que pune o aborto como crime, apresenta duas hipóteses de licitude de tal conduta: quando se faz necessária para salvar a vida da mãe em trabalho de parto ou quando objetiva proteger a dignidade da mulher, desobrigando-a de prosseguir na gestação do produto de um estupro.


O embrião é considerado inviável quando apresenta má-formação ou assim se presume quando tenha permanecido por tempo superior a três anos em congelamento de menos 175 graus Celsius. Qual é o seu destino? O descarte, o congelamento por tempo indefinido ou a pesquisa terapêutica autorizada pelos genitores. Nunca se ouviu contar de funeral de embrião que, se considerado um ser humano, seria acompanhado de cerimônia religiosa.


No caso de dar um destino científico ao embrião inviável, o que se está objetivando é a busca de salvação para criaturas portadoras de males gravíssimos que as impedem de viver ou, pelo menos, de desfrutar uma vida em melhores condições. Abre-se a ciência para a tentativa heróica de dar esperança para muitos seres impossibilitados até de esperar por milagres.


Se o ordenamento jurídico prevê a exclusão do caráter criminoso do ato de matar em algumas circunstâncias, como em legítima defesa ou em estado de necessidade, por que se há de considerar crime a utilização de células-tronco inviáveis para a vida para que viabilizem vidas de seres fadados ao sofrimento, a moléstias sem volta, à morte?


Os que pretendem que seja crime a utilização de células-tronco incapazes de se transformarem em gente com fundamento em princípios religiosos, lembrem-se de que a vontade de Deus haverá de ser cumprida dando-se às células-tronco incapazes de prosseguir seu ciclo evolutivo normal o poder de serem viáveis para a salvação de pessoas incapacitadas de desfrutar a graça de viver em condições mais condizentes com sua dignidade.


Quando se pensa em tais seres padecentes de tanto sofrimento, há de se pensar também naqueles que repartem com eles tamanha dor e que vêem na pesquisa que o Ministério Público e entidades religiosas pretendem proibir uma esperança final para a salvação dos seus entes queridos.


Indago, pois, e o faço agora como cristão: por que se posiciona a igreja de forma tão intolerante, inadmitindo a tentativa de cura de muitas criaturas, optando por desprezar o uso de tais células na luta por salvar vidas?


Qual a razão teológica, moral, ética para impedir que a pesquisa contribua com a obra do criador?


Sem atrever-me a penetrar na seara de tais temas, ouso lançar argumento intuitivo que me parece dever ser refletido. A utilização, em outro ser, de células-tronco consideradas inviáveis é a forma mais digna de dar continuidade ao seu projeto vital.


O voto do ministro relator Carlos Ayres Britto é histórico, profundo e extremamente humano. A ministra Ellen Gracie, antecipando-se com seu voto, marcou também sua posição de coragem. Aguarda-se o voto do ministro Carlos Alberto Direito, que pediu vista. Se é verdade que se trata de um respeitado jurista conhecido como homem fiel aos mandamentos da igreja, cresce a esperança de que se apóie na virtude da caridade para o fundamento moral de seu voto, já que sobejam motivos de ordem jurídica.


E, de qualquer forma, qualquer que seja a orientação de seu voto, espera-se que permita que seus pares se pronunciem o quanto antes, para que a questão seja definida de uma vez por todas.


Estamos nós, ansiosos, diante de um momento grandioso da história do Supremo Tribunal Federal, aguardando uma decisão sábia e urgente, decisão que deverá vir calcada na justiça e na compaixão.


JOSÉ CARLOS DIAS, 68, é advogado criminalista. Foi presidente da Comissão de Justiça e Paz de São Paulo, secretário da Justiça do Estado de São Paulo (governo Montoro) e ministro da Justiça (governo FHC).’


 


PROPAGANDA
Folha de S. Paulo


Justiça condena governador a pagar R$ 37,2 mil


‘A Justiça de Santa Catarina condenou o governador do Estado, Luiz Henrique da Silveira (PMDB), a ressarcir os cofres públicos em R$ 37,2 mil por fazer propaganda irregular.


Quando o governador era prefeito de Joinville (180 km de Florianópolis), em 2001, a administração municipal publicou material publicitário na revista ‘Veja’ em referência ao aniversário da cidade.


Para o juiz Carlos Adilson, o material tinha como finalidade ‘exaltação pessoal’. O governador nega que tenha cometido irregularidade e sustenta que o material foi feito para promover a cidade. Também informou que vai recorrer da decisão.’


 


Silvana de Freitas


TSE alerta contra propaganda na internet


‘O presidente do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), ministro Marco Aurélio Mello, disse ontem que os candidatos nestas eleições que utilizarem a internet para fazer propaganda eleitoral irregular correm o risco de ser impedidos de concorrer por abuso na campanha.


Segundo o ministro, até mesmo quem alegar que a publicidade foi feita por outra pessoa e que ele não tem responsabilidade por ela poderá ser punido, a não ser que prove que a intenção era prejudicá-lo.


Marco Aurélio lembrou que a Lei Eleitoral libera a propaganda em geral a partir de 6 de julho. Antes disso, ela é irregular. Para ele, neste momento essa prática já está ‘generalizada’.


‘Que se faça a propaganda a partir de 6 de julho, mesmo assim com cuidado, pois o uso abusivo dos meios de comunicação, e a internet é um meio de comunicação, pode implicar a cassação do registro do próprio candidato.’ Também afirmou: ‘Os candidatos devem colocar as barbas de molho porque a conseqüência é em relação ao candidato, ao beneficiário da propaganda, ainda que implementada por terceiros’.


Não há lei específica sobre o assunto. A resolução do TSE sobre propaganda autoriza o candidato a criar site destinado exclusivamente à campanha. A Justiça Eleitoral aplica à internet as normas existentes para televisão e rádio.


Os ministros do TSE estão para responder a uma consulta do deputado José Aparecido (PV) sobre a possibilidade de uso de ferramentas como banner, e-mail marketing, blogs e sala de conversa. Um parecer da área técnica recomenda a proibição de todas elas. O argumento é que, na área eleitoral, está proibido tudo o que não é expressamente permitido. Não há previsão para o julgamento.


Marco Aurélio, que deixará a presidência do TSE em maio, criticou proposta de aprovação de projeto de lei que autorize a cassação de registro de quem responde a processos judiciais, defendida por TREs. ‘Temos uma regra básica, que está na Constituição, que é o princípio da não-culpabilidade.’’


 


TODA MÍDIA
Nelson de Sá


Quer controlar internet…


‘Começou pelo blog de Sérgio Amadeu, exatamente uma semana atrás, com o post ‘TSE quer controlar campanha na internet…’. É que o tribunal de Marco Aurélio Mello definiu e postou que a propaganda na web ‘somente será permitida na página do candidato destinada exclusivamente à campanha’. Nada de campanha em blogs, YouTube, Orkut, Twitter, enfim, em toda a web colaborativa. Final da semana e o blog de Marcelo Tas e outros se revoltavam, ‘TSE quer controlar a livre expressão na internet!’.


E ontem a notícia chegou a Folha Online e demais, com declarações de Marco Aurélio Mello.


NOVO VELHO BLOG


Com breve post, Nemo Nox registrou ontem os exatos 10 anos da blogosfera em português, iniciada com seu Diário da Megalópole. Alexandre Inagaki e outros festejaram a data


‘CITIZEN HUFF’


Dois dias depois de Lisa Tozzi, editora on-line do ‘New York Times’, debater com Arianna Huffington como a web está mudando a política, o ‘NYT’ deu perfil da fundadora do The Huffington Post, resposta liberal à era Bush. Antes um coletivo de blogs políticos e celebridades, o HuffPost vem crescendo em cobertura, com ‘editorias’ de negócios e, anuncia o perfil, esportes e internacional.


‘OUT OF PRINT’


O jornal foi precedido em alguns dias pela ‘New Yorker’, na longa reportagem ‘Fora de circulação’, que contrastou as dificuldades do mesmo ‘NYT’, do editor Bill Keller, com o modelo on-line que o HuffPost estabelece agora -ao lado de Politico. com, Talking Points Memo e outros. Na ilustração da ‘New Yorker’, Arianna Huffington aparece estrangulando editor vestido de papel-jornal.


SEM QUERER


Se existiu, a decisão de tirar Dilma Rousseff de cena não durou um dia. Em vídeo da estatal NBR reproduzido on-line por todo lado e depois nos telejornais, o governador Sérgio Cabral a chamou ‘sem querer’, segundo o UOL, ou ‘em ato falho’, segundo a Folha Online, de presidente. Antes, em ‘O Globo’ e ‘O Estado de S. Paulo’ de papel, já falaram como porta-vozes palacianos do ‘dossiê’ ou ‘banco de dados’ os ministros José Múcio e Gilberto Carvalho, respectivamente.


NO REINADO LULISTA


O site do ‘WSJ’ creditou o ‘recorde’ do apoio a Lula, no Datafolha, à economia e aos programas sociais. Na Folha Online, Fernando Canzian detalhou com números e disse que, ‘no reinado lulista de bolsos e bolsas inchando, dossiês e CPIs continuarão sendo, no máximo, ruídos’.


‘LULA TEM MEDO’


Em entrevista ao ‘Valor’, Luiz Gonzaga Belluzzo, ‘um dos economistas consultados pelo presidente’, sugeriu medidas para ‘administrar o crescimento da demanda’. Avisando que ‘Lula tem medo da inflação’, defendeu menor gasto de custeio e controle do crédito. Elevar juros, não.


COMO POLICIAR MERCADO…


Na manchete do ‘WSJ’, o plano dos EUA que ‘abre a batalha de como policiar o mercado’. O jornal prevê longo embate entre os dois partidos. O ‘NYT’ noticiou antes que a idéia é ‘poder ao Fed’.


Mas seu colunista Paul Krugman, ontem, já caiu sobre o projeto, dizendo ser ‘estratégia Dilbert’, da tira célebre. Sem ‘idéias’, os gerentes fazem ‘grande show’ e mudam no escritório ‘as linhas de quem responde a quem’.’


 


IMPRENSA NA JUSTIÇA
Folha de S. Paulo


Juiz julga improcedente ação de fiel da Universal contra a Folha


‘O juiz Vincenzo Bruno Formica Filho, de Andradina (SP), julgou improcedente ação de indenização proposta por Luiz Fernando de Souza contra a Folha e a repórter Elvira Lobato, autora da reportagem ‘Universal chega aos 30 anos com império empresarial’, de dezembro.


Já foram ajuizadas 77 ações em nome de seguidores da Igreja Universal do Reino de Deus. Do total, 22 foram julgadas, todas favoráveis à Folha.


O autor alegou que, após a reportagem, passou a ser ‘alvo de ofensas em razão de sua convicção religiosa’, e que lhe foram dirigidos impropérios, no sentido de que ‘não passaria de um bandido disfarçado de crente para esconder que faz parte de uma máfia de criminosos’.


Para o juiz, ‘sob qualquer prisma que se analise a demanda, inviável é sua procedência’. O autor ‘sente-se ofendido não pela conduta das rés [a Folha e a repórter], mas, sim, pelo comportamento de terceiros’.


‘A conduta das rés não lhe atingiu liberdade de culto, de crença ou de organização religiosa’, concluiu o juiz.’


 


EDMAR VIANA
Willian Vieira


O fino traço do humor em jornais do RN


‘Pivete era um menino negro e pobre que não se dava por vencido, cheio de artimanhas para driblar a vida de rua. ‘Era nosso Chaves potiguar’, define um chargista, referindo-se ao personagem da série de TV. E era a síntese da ponta do lápis de Edmar Viana.


Nascido em Natal, cresceu em Nova Cruz (RN), para onde o pai, recenseador do IBGE apaixonado por fotografia, foi transferido. E lá se abasteceu de revistas de quadrinhos, logo rabiscando cópias dos personagens de bangue-bangue dos gibis.


De volta a Natal, aos 16, tinha já um contorno atrevido, quando deixou, na portaria do ‘Diário de Natal’, a charge para a coluna esportiva de Everaldo Lopes, sobre o jogo do ABC na África. Conquistou o primeiro emprego.


‘Ele tinha o lado esquerdo, racional, e o direito, criativo, igualmente grandes’, diz a viúva, ao explicar por que ele fez matemática e especialização em análise de sistemas; deu aulas na universidade e trabalhou como analista de sistemas da Cosern (Companhia Energética do Rio Grande do Norte) -mesmo após criar, com o amigo Lopes, a coluna ‘Cartão Amarelo’, com charges futebolísticas picantes.


Edmar revivia a infância devorando os faroestes de John Wayne, relendo sua ‘coleção incalculável’ de revistas e gibis (que escondia da filha adotiva e dos três enteados) e no bloco de rua ‘Poetas, Carecas, Bruxas e Lobisomens’, que criou e cujas roupas desenhava. Esse foi o quarto ano de folia -sem ele. Morreu na última terça, aos 52, do coração.’


 


ESPORTE
Folha de S. Paulo


Jornal acusa Max Mosley de ‘orgia nazista’


‘Presidente da Federação Internacional de Automobilismo desde 1993, advogado renomado, ex-piloto de F-2 e dono de equipe na F-1, Max Mosley, 67, é agora peça central de um escândalo sexual na Inglaterra.


O episódio já abala sua permanência à frente da entidade. Ex-pilotos da F-1 questionaram sua manutenção no cargo. O dirigente também foi criticado por grupos de conscientização sobre o Holocausto.


No domingo, o ‘News of the World’, tablóide sensacionalista britânico, deu destaque à suposta participação do dirigente em uma orgia com cinco mulheres numa casa em Chelsea, bairro classe média de Londres.


O jornal trouxe imagens extraídas de um vídeo que, afirma, tem cinco horas de duração. Nas imagens, de qualidade ruim, um homem identificado como Mosley paga 2.500 libras esterlinas (cerca de R$ 8.700) para praticar atos sadomasoquistas. Em determinado momento, fantasia-se de oficial nazista e faz sexo com duas mulheres vestidas como prisioneiras de campos de concentração da Segunda Guerra Mundial.


O jornal relaciona o suposto fetiche de Mosley a seu histórico familiar. Seu pai, Oswald Mosley, foi líder do partido fascista inglês, importante aliado de Adolf Hitler no pré-guerra.


A FIA foi econômica ao tratar do assunto. No domingo, por meio de um porta-voz, disse apenas que trata-se de uma questão pessoal envolvendo seu presidente e a publicação.


Ontem, informou que Mosley ‘já colocou os seus advogados em contato com o jornal’.


Personagens ligados à F-1, porém, foram mais prolixos.


‘O que as pessoas fazem em suas vidas privadas é assunto particular. Conheço bem o Max e se aquilo aconteceu deve ser uma grande piada’, afirmou Bernie Ecclestone, chefe comercial da F-1, vice-presidente da FIA e parceiro político de Mosley desde meados dos 70.


Ídolo do automobilismo britânico, quatro vezes vice-campeão da F-1, Stirling Moss disse ter ficado chocado. ‘Espero que ele possa [continuar na FIA], francamente, pois acho que ele é muito bom no que faz. Mas a situação é difícil. Suponho que o que acontece por trás de portas fechadas é particular, mas, quando uma coisa como essa vem à tona, é um choque absoluto’, afirmou Moss.


Martin Brundle, outro ex-piloto inglês, foi mais incisivo. Atualmente o principal comentarista de F-1 da TV britânica, ele considera que Mosley não tem mais condições de ficar no cargo. ‘Não é um comportamento apropriado para um chefe de qualquer entidade global como a FIA’, declarou.


As cenas também foram criticadas por Karen Pollock, chefe de uma organização que educa os jovens ingleses sobre o Holocausto: ‘Isso é doente e depravado. Estou absolutamente apavorada.’ Para Stephen Smith, diretor do Centro Britânico de Estudos do Holocausto, ‘Mosley, que já condenou o racismo na F-1, deveria viver segundo seus discursos’.


Com agências internacionais’


 


DOCUMENTÁRIO
Lucas Neves


Documentário vê Paulo Gracindo ‘de filho para pai’


‘‘Não sei por onde vou/ Não sei para onde vou/ Sei que não vou por aí!’ Declamados na TV por um Paulo Gracindo (1911-1995) maduro, os versos finais de ‘Cântico Negro’ são um testemunho de seu grito de emancipação juvenil: cansado de ‘viver aprisionado pelo amor’ do pai, ele partiu do casarão alagoano da família rumo a Recife antes dos 18 anos e, pouco depois, na carona do movimento tenentista, foi bater no Rio.


Em primeira pessoa, o relato das duas ‘despedidas’ abre o documentário ‘Paulo Gracindo – O Bem Amado’, exibido hoje no braço paulista do festival É Tudo Verdade. A voz que narra aflições e incertezas púberes é de Gracindo Jr., filho do homenageado e diretor do filme.


‘Tento falar por ele. Como o meu pai deu muitos depoimentos sobre esse período a revistas, resolvi vocalizá-los. Além disso, existia uma grande semelhança vocal entre nós; gosto dessa coisa meio confusa [de não se saber se quem fala é o pai ou o filho].’


A costura de fotos, vídeos caseiros, depoimentos de colegas e trechos de filmes e novelas em que Paulo atuou consumiu cerca de três anos, mas o diretor acha que ‘estava devendo isso a papai’ há pelo menos 13 (data de sua morte). ‘Ele conta, melhor do que ninguém, o que foi ser ator no Brasil dos anos 30 até hoje, do teatro de revista à televisão’, diz o diretor.


Do rádio ao ‘Bem Amado’


No filme, Paulo desfila sua versatilidade em registros que lembram desde o galã promissor da radionovela ‘O Direito de Nascer’ até a consagração definitiva com o Odorico Paraguaçu de ‘O Bem Amado’, passando pelos papéis nos filmes ‘A Falecida’ (1965) e ‘Terra em Transe’ (1967).


Também comparece o ‘primo rico’, que atordoava o parente pobre (Brandão Filho) com lamúrias frívolas. O personagem, descobre-se, foi inspirado no sogro de Paulo, morador de um palacete carioca.


‘Havia nele uma esquizofrenia muito interessante. Era uma festa e, na hora da ação, entrava um monstro de um ator altamente preparado e com uma bagagem de estudo sobre o seu papel que nunca vi’, diz a certa altura Fernanda Montenegro, colega em ‘A Falecida’ e ‘Tudo Bem’ (78).


É também ela que, ao ler ‘O Caso do Vestido’ (em que se narra a história de um chefe de família que abandona o lar), de Carlos Drummond de Andrade, dá a senha para o segmento que trata da vida íntima do Paulo.


‘Papai nunca se ausentou, mas tinha uma vida de alguém de sua geração. Quis colocar isso da forma mais poética e elegante possível. Sabia dos pecadilhos dele, mas o via como um romântico’, diz Gracindo Jr.


PAULO GRACINDO – O BEM AMADO


Quando: hoje, às 19h


Onde: Cinesesc (r. Augusta, 2.075, tel. 0/xx/11/3087-0500)


Quanto: grátis’


 


IRÃ
João Pereira Coutinho


Ensaio sobre a cegueira


‘EM SETEMBRO passado, o presidente do Irã visitou Nova York. Bizarro, sobretudo para quem deveria estar preso por suas exortações genocidas? Nem por isso. O momento bizarro da visita aconteceu na Universidade Columbia, uma vetusta casa por onde já passaram Lionel Trilling ou Jacques Barzun. Bons tempos, esses, em que a universidade não era uma pocilga.


Em 2007, e perante a platéia erudita do momento, Mahmoud Ahmadinejad, internacionalmente conhecido por sua sanidade mental, declarou que no Irã não havia ‘homossexuais’. Toda a gente riu.


Toda, exceto o próprio Ahmadinejad. E com inteira razão. Não pretendo ser internado no manicômio na companhia dele. Mas sou obrigado a concordar com o presidente. Como é possível acreditar que o Irã tem ‘homossexuais’ dentro das suas portas quando o regime tem sido exemplar a persegui-los, a torturá-los e a executá-los?


Os números não mentem: em 1979, uma data que será lembrada na história da humanidade como hoje recordamos a Revolução Russa de 1917 ou a chegada de Hitler ao poder em 1933, o aiatolá Khomeini iniciava a sua ‘revolução islâmica’. E, em três décadas, o regime executava 4.000 ‘homossexuais’, aplicando a rigorosa (mas altamente discriminatória) lei penal iraniana sobre a matéria.


Digo rigorosa mas discriminatória porque a lei penal concede às donzelas uma benevolência que está interdita aos machos: a sodomia é punida com a morte; mas o mesmo não acontece com a homossexualidade feminina. As senhoras recebem ‘apenas’ cem açoites nas três primeiras infrações lésbicas.


Só à quarta vez conhecem o fatal destino dos homens. Quem disse que não existem vantagens em pertencer ao ‘sexo fraco’?


Aliás, as vantagens não se ficam pelo chicote. E não será exagero afirmar que, no Irã, só morre por homossexualismo quem quer.


Li em tempos, num artigo da jornalista portuguesa Alexandra Prado Coelho, que o regime iraniano pode condenar os homossexuais à morte. Mas o regime não se opõe a operações cirúrgicas para mudança de sexo. Pelo contrário: o financiamento estatal é bastante generoso para esse fim.


De acordo com os números oficiais, existem entre 15 a 20 mil transexuais no Irã. Mas os números ‘clandestinos’ multiplicam a cifra por dez, o que transforma o Irã no segundo país do mundo, logo a seguir à Tailândia, com o maior número de homossexuais que optaram pelo bisturi para jogarem por outro time. O presidente Ahmadinejad sabia do que falava. Homossexuais? É tão difícil encontrar um no Irã como encontrar o saci a pular no mato brasileiro.


Mas alguns ainda pulam. Para sermos mais exatos, alguns pulam fora e procuram salvação no corrupto mundo ocidental.


Pior: de acordo com as notícias dos últimos dias, existem casos em que ‘homossexuais’ islâmicos abandonam a riqueza e a tolerância das suas culturas locais, entregando-se de alma e coração a potências opressores e imperialistas. Como a Grã-Bretanha. Como Israel.


Na Grã-Bretanha, o governo de Gordon Brown, depois de uma ridícula hesitação diplomática, decidiu conceder asilo político a um homossexual iraniano de 19 anos.


Parece que o rapaz, de seu nome Mehdi Kazemi, depois de assistir à execução do namorado em Teerã, achou por bem não ficar mais tempo no país. Inexplicavelmente, há gente que não gosta de balas. Ou de bisturis.


Mas o caso da semana veio de Israel, essa entidade maligna que continua a envenenar o Oriente Médio: em decisão rara, Tel Aviv concedeu visto de permanência para palestino homossexual que vivia na Cisjordânia e se preparava para ser morto pelos vizinhos. Segundo parece, os palestinos não se limitam a jogar pedras contra os judeus; também praticam esse desporto contra os seus próprios homossexuais.


Exatamente como o leitor médio da imprensa ocidental média pratica o seu desporto favorito: abominar as democracias liberais onde vive pelo aplauso irracional a culturas retrógradas e até sinistras. As mesmas culturas que o condenariam facilmente à morte caso o leitor tivesse uma orientação sexual, ou religiosa, ou política, que os fanáticos considerassem intolerável.


A cegueira física é um infortúnio, sem dúvida. Mas a cegueira mental, sobretudo quando voluntária, não deixa de ser um infortúnio maior. Ela começa no dia em que a distinção entre civilização e barbárie deixa de fazer sentido.’


 


 


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O Estado de S. Paulo


Terça-feira, 1 de abril de 2008


TECNOLOGIA
Paulo Ghiraldelli Jr.


Cada diabinho com seu computador


‘Há pesquisas nos Estados Unidos com dados alarmantes sobre a queda de rendimento na aprendizagem de crianças que passaram a dispor de laptops individualizados em sala de aula. Essas pesquisas, segundo as universidades que as realizaram, apontam para o fato de que os alunos pioraram ou ficaram na mesma situação a partir do uso do laptop, e isso quase que independentemente do nível socioeconômico das turmas ou de suas diferenças étnicas. Pesquisadores da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) afirmam ter feito investigações na mesma linha, obtendo resultados desanimadores.


Li as pesquisas mais importantes e creio que posso dizer sem medo que elas tropeçam em pontos significativos.


É importante considerarmos as variáveis que realmente interessam e olhar essas pesquisas com carinho, pois o governo brasileiro atual quer levar adiante o programa ‘um computador por aluno’. Há cálculos nada tolos que mostram que o projeto brasileiro, com as metas de custos que vislumbra, não se efetivaria, talvez apenas acumule um conjunto de laptops destinados ao lixo. Computadores com internet têm manutenção dispendiosa, em vários sentidos. Bem, mas a questão aqui, no caso de nosso governo, é decidir se quer ou não sair do mundo do marketing político e fazer algo, ou se quer apenas dizer que fez algo.


Do ponto de vista técnico-pedagógico, qual a maior falha das pesquisas disponíveis? O problema todo é que tomam o laptop como meio didático neutro. O que esperam dele é que entre na sala de aula, caia nas mãos de cada diabinho diante de um professor e, então, passe a ajudar no ensino, que, enfim, deverá ser o mesmo de sempre. Mas a tecnologia da educação nunca foi neutra. A apostila não é neutra e, por isso, ela difere do livro. O laptop não é neutro e, por isso, ele difere da apostila, do livro e do quadro-negro. Não é pelas suas características físicas que ele difere, é claro; como qualquer outro novo meio da tecnologia educacional, ele reformula o conteúdo (sim!), torna prioritários outros conteúdos e, enfim, gera uma transformação num sentido muito mais amplo e profundo do que o imaginado pelos incautos. Ele próprio é um conteúdo!


Quando você aprende um conteúdo por meio de uma apostila, que é um resumo dirigido, os macetes são prioridades. Em vez da longa dedução ou de todo o raciocínio que aparece no livro, a apostila dá-lhe os resultados do raciocínio. Ela ensina a utilizá-los em casos que exigem presteza e velocidade. Isso é bom? Ora, para o aprendizado substancial, não. Isso vale para os cursos de treinamento, em que há o pressuposto de que o aprendizado já tenha ocorrido ou, ao menos, já se tenha iniciado de forma satisfatória e que o treinamento deverá apenas melhorar o desempenho do treinado diante de baterias específicas de exames. Portanto, o que é cobrado de alguém que melhora o seu desempenho por meio de apostila não é comparável, termo a termo, com o que é cobrado de alguém que aprende com o livro. Aprender é uma coisa, ser treinado é outra.


O menino que tem a internet à disposição em sala de aula já deve ter passado por um processo de disciplina que não o deixa dispersar-se para além do normal. Além disso, é necessário criar mecanismos que possam fazê-lo lidar melhor com o fato de que a internet, ela própria, é uma grande autora. Ela própria cruza informações, nos seus vários mecanismos de busca, e gera uma informação que é, mutatis mutandis, um elemento desconstruído. Os significados de um texto ou de uma imagem, que comumente se espera que sejam os possivelmente apreendidos pelo aluno, podem não ser os que ele vai expor ao professor, depois de ter passado pela internet; ele simplesmente pode reproduzir significados que, à primeira vista, nos vão parecer loucura ou simplesmente falta de aprendizado. Ele próprio vai produzir significados que já não estarão nos padrões corriqueiros.


As pesquisas não têm considerado que as crianças com internet não vão aprender o que queremos que aprendam (ou que queríamos), mas não vão deixar de aprender; elas vão aprender outras coisas, aquelas que o laptop e a internet ‘querem’. Assim, para sabermos se houve progresso nessa aprendizagem, temos de ver – sem moralismo e falta de inteligência – o que é que esses meios estão colocando como objetivos. E, então, temos de mudar nossas avaliações escolares. Só depois disso poderemos decidir se o que queríamos que elas aprendessem é ou não mais válido e melhor do que o que de fato aprenderam. E, além disso, temos nós mesmos de ser bons usuários da internet para não gerarmos preconceitos na nossa visão do que são as máquinas e do que são os nossos conteúdos realmente importantes para a vida futura, não para a vida que tivemos, pois essa já acabou para os muito jovens.


A idéia já ficou velha, mas ela continua válida: o meio é a mensagem/massagem. Lauro de Oliveira Lima repetiu esse dito à exaustão. Mas os pesquisadores brasileiros, às vezes jovens, não sabem quem é Lauro de Oliveira Lima. E, no exterior, Marshall McLuhan se tornou um desconhecido de alguns importantes professores universitários. Então, as pesquisas sobre o ensino com computador e internet não conseguem ver o poder real do meio no âmbito dos processos comunicativos e pedagógicos.


Por fim, outro dado problemático é que, no Brasil, os textos dos que são a favor do programa do governo ‘um computador por aluno’, em parte, também consideram o meio como algo neutro. Terminam por gerar a idéia da restrição no uso dos computadores. Aliás, é isso que as faculdades fazem: criam ‘bloqueios’ ridículos de certas áreas da internet. Nesse caso, a falta de entendimento do que é a internet gera o antiensino por excelência, que é a censura.


Paulo Ghiraldelli Jr. é filósofo’


 


ESCUTAS
Fausto Macedo


CPI mira juízes que permitem número excessivo de grampos


‘A CPI dos Grampos vai atrás dos juízes que autorizam escuta telefônica por atacado. A comissão trabalha com a informação de que nesse universo há juiz trabalhista e até de vara de família que determina a interceptação. A Lei do Grampo, que é de 1996, estabelece que a escuta pode ser usada exclusivamente para prova em investigação criminal e instrução processual penal. ‘Já está patente o descontrole’, afirmou o deputado Marcelo Itagiba (PMDB-RJ), presidente da CPI.


Em 2007, a Justiça ordenou 409 mil grampos. A informação é oficial. Foi levada à CPI pelas operadoras de telefonia, a quem cabe a execução dos decretos judiciais. Uma companhia entregou aos parlamentares planilha mostrando que, em 2004, executou 5 mil grampos. Em 2005, fez 10 mil interceptações. Em 2006, deu um salto para 20 mil ocorrências. Em 2007, bateu na marca de 28 mil.


A CPI mira também a renovação dos prazos de interceptação. Segundo a comissão, são muitos os casos em que a concessão de mais tempo para o grampo não obedece a um mínimo de segurança e cuidado. Juízes não exigem relatórios pormenorizados que dêem sustentação à continuação da interferência. A comissão quer identificar ainda os grampos clandestinos, feitos sem autorização da Justiça.


Claudio Montesso, presidente da Associação Nacional dos Magistrados do Trabalho, disse desconhecer casos de juízes trabalhistas que teriam ordenado escuta. ‘Concordo com a CPI que a interceptação só pode ser autorizada para apurações de ordem criminal. Mas é muito pouco provável que algum juiz do Trabalho tenha autorizado grampo. O que pode ocorrer, eventualmente, é a quebra do sigilo telefônico de alguém para instrução de processo.’


O presidente da Associação dos Juízes Federais (Ajufe), Walter Nunes, não admite a acusação de que seus colegas não estariam fiscalizando os grampos. ‘Não há descontrole algum. Além disso, as gravações ficam armazenadas por 5 anos. É uma garantia. O presidente da CPI é delegado e já dirigiu inquéritos em que houve quebra de sigilo. Afirmo que nem ele próprio conseguiu escutar todos os grampos.’


O juiz Mozart Valadares, presidente da Associação dos Magistrados Brasileiros (AMB), disse que o grampo é excepcionalidade. ‘Não se pode vulgarizar esse instrumento porque vai atingir a privacidade do cidadão e violar uma garantia constitucional. O juiz tem de estar muito consciente. Em alguns casos, no entanto, alguns colegas podem não estar tendo esse cuidado. O executor do grampo não pode ir um milímetro além dos termos da decisão.’’


 


TELES
Lorena Vieira e Renato Cruz


Anatel já analisou regra nova para a BrOi


‘A Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) já analisou quais mudanças serão necessárias no Plano Geral de Outorgas (PGO), um decreto presidencial, para permitir que uma concessionária de telefonia fixa compre outra. Elas teriam como objetivo viabilizar a compra da Brasil Telecom (BrT) pela Oi (antiga Telemar).


Segundo o conselheiro Plínio de Aguiar Júnior, da Anatel, o conselho da agência não deve avaliar a proposta nem esta semana nem na próxima, por falta de quórum. Em fevereiro, o Ministério das Comunicações solicitou à Anatel uma proposta de alteração nas regras do setor de telecomunicações, que permitiriam, entre outras coisas, a criação da ‘BrOi’, como foi apelidada a operadora que iria resultar da aquisição.


‘As mudanças do PGO já foram analisadas, mas ainda estamos avaliando o impacto em outros regulamentos’, disse Aguiar, que participou ontem do evento Encontro Tele.Síntese, em São Paulo. ‘O pedido do ministério pegou a agência de surpresa, porque não existia nenhuma política pública que determinasse as mudanças.’


De acordo com Aguiar, a proposta de alteração do PGO, que ainda precisa passar por consulta pública, pode vir condicionada a mudanças de outras regras, como a Lei do Cabo, que depende de votação do Congresso. ‘É um assunto que ainda pode levar meses para se resolver’, explicou o conselheiro.


Além da liberação da aquisição de uma concessionária pela outra, o que viabilizaria a BrOi, a Anatel estuda medidas para contentar outras operadoras, como o fim da proibição da entrada de concessionárias locais no mercado de TV a cabo. Hoje, a participação está limitada a menos de 20% nas áreas de concessão.


Essa outra mudança agradaria, por exemplo, a Telefônica. ‘Se entendermos a fusão como uma mudança pontual, é difícil de aceitar’, disse o diretor de Estratégia e Desenvolvimento de Negócios da Telefónica para a América Latina, Eduardo Navarro. ‘Teríamos muita preocupação se acontecesse como um tema isolado.’ Segundo o executivo, a formação da BrOi precisa ser vista como um marco de transformação do setor de telecomunicações, e não como um caso isolado.


Para ele, o direito de compra, além de ser extensivo a todas as competidoras, deverá também vir acompanhado de um conjunto de determinações que flexibilizem as leis do setor e permitam a atuação das empresas em novas áreas, compra de competidoras e oferta de serviços sem limitações.


Os executivos da Oi e da Brasil Telecom também preferem que a mudança de regras não seja vista como feita exclusivamente para atendê-los, para evitar acusações de favorecimento.’


 


MARKETING
Marianna Aragão


Pequenas empresas buscam ‘cara nova’ para crescer


‘Há menos de um ano no mercado, a empresa 100% Brasil já passou por uma crise de identidade. O ramo do negócio em que atua – eventos corporativos que usam conceitos de sustentabilidade – e a logomarca escolhida – um mapa do Brasil estilizado -, faziam a companhia ser freqüentemente confundida com uma ONG. ‘A marca não transmitia aos clientes a idéia correta, de que éramos uma empresa que vendia e lucrava com eventos’, conta a proprietária Sônia Manastra.


Mesmo lidando com aperto no orçamento típico de quem começa um novo negócio, a empresária resolver investir na mudança dessa imagem. Contratou uma agência de design para atualizar a logomarca, os materiais de apoio e a página da empresa na internet.


O objetivo era abandonar o aspecto ‘caseiro’ e mostrar credibilidade às companhias, a maioria de grande porte, para quem a 100% Brasil vende seus serviços. ‘Em um ambiente competitivo como o atual, a influência da marca pode fazer a diferença na decisão do cliente’, acredita ela.


Assim como Sônia, muitos pequenos e médios empresários têm recorrido à atualização de marca para dar um novo fôlego a seus negócios. Apesar de seguir uma tendência de mercado, as empresas de menor porte têm objetivos um pouco diferente das grandes companhias, como Vale e TAM, que reformularam sua imagem recentemente. Elas apostam na marca por um motivo simples: estampada em um cartão, um site ou um folder, ela pode ser a única forma de se comunicar com clientes e fornecedores.


‘Por não terem verba publicitária, a marca acaba sendo a principal ferramenta para essas empresas interagirem com seu público’, diz Hélio Moreira, diretor da New Growing, escritório de design especializado em pequenas e médias empresas (PMEs). As grandes corporações, afirma, têm outras formas para atrair clientes.


Segundo Moreira, o número de PMEs que procuraram a agência no último ano dobrou em relação a 2006. ‘Elas têm acordado para isso, muito influenciadas pelo movimento das grandes e também para se proteger da concorrência.’ Na agência BlueBossa, que também atende pequenos negócios, o crescimento foi de 50%, segundo o diretor Evandro Martins.


Em mais de 20 anos no mercado, a consultoria empresarial Consultax fez sua primeira atualização de marca no final do ano passado. Segundo o empresário Gilberto Carvalho, a decisão demorou porque todos os investimentos estavam voltados para a parte técnica da empresa, como infra-estrutura e pessoal. ‘Além disso, existia esse tabu de que não era coisa para pequeno’, afirma Carvalho. ‘Mas vimos que, se não fizéssemos agora, poderíamos perder mercado.’


Com as mudanças, o site, antes desatualizado, começou a receber pedidos de empresas e currículos de profissionais interessados em trabalhar na consultoria.


Carvalho conta que a logomarca, que de ‘artesanal’ passou a ‘moderna’, trouxe confiança aos clientes e até facilitou a participação em concorrência de grandes empresas. ‘Vimos que não são só as questões técnicas que contam.’’


 


1º DE ABRIL
Tutty Vasques


Uma data em extinção


‘Pense duas vezes antes de tentar fazer alguém de bobo neste 1º de abril. São grandes as chances de ninguém achar a menor graça na brincadeira inocente, cujo sentido original vai se perdendo à medida que quase tudo no noticiário parece mentira. Precisa ser muito criativo para inventar um absurdo que não seja absolutamente factível e publicável. Hoje em dia, como se sabe, não há má notícia que já não seja esperada.


Dia da mentira: a pegadinha da data talvez funcione com notícias tão boas quanto banais e inalcançáveis. Por exemplo: ‘Vim de casa em 15 minutos pela Marginal do Tietê, e ainda consegui vaga na porta da firma.’ O carioca não deixaria por menos: ‘E eu, que levei 5 minutos para internar meu filho com dengue num hospital público!’


A melhor de todas teria narração de William Bonner: ‘Governo e oposição deixam futricas de lado e decidem trabalhar juntos pelo Brasil.’ Já pensou? O problema vai ser encontrar quem cairia num 1º de abril desses, né, não? Acho que o Luis


Fernando Verissimo conhece alguém assim.’


 


CORCOVADO
Clarissa Thomé


Construção do Cristo Redentor vira livro


‘Em 1502, o navegador italiano Américo Vespúcio viu no Morro do Corcovado o Pico da Tentação, referência à passagem bíblica em que o diabo oferece riquezas a Cristo. D. Pedro I, ainda príncipe, guiou uma expedição ao cume, em 1824. Sessenta anos mais tarde, seria inaugurada a estrada de ferro que até hoje leva turistas de todos os cantos do mundo. Mas somente em 1931 a paisagem do Rio seria definitivamente modificada, com o fim das obras do Cristo Redentor.


O Morro do Corcovado e o Cristo, o mais importante monumento do Rio, ganharam um livro com todas essas histórias. Organizado pelo jornalista Leonel Kaz e pela filósofa Nigge Loddi e patrocinado pela Bradesco Seguros, Cristo Redentor – História e Arte de um Símbolo do Brasil (Editora Aprazível) reúne 160 fotografias – 100 em preto-e-branco – que mostram o Rio desde antes do Cristo.


As primeiras imagens são de fotógrafos como Augusto Malta e Marc Ferrez. Nos registros, surgem os morros do Rio ainda cobertos por matas (muito antes das favelas), a Praia de Botafogo da belle époque com praças pré-aterro e até um grande coreto – o Chapéu de Sol -, que mais tarde daria lugar à estátua. O título de um dos textos, assinado pelo professor de história Antonio Edmilson Martins Rodrigues, traduz a sensação de quem vê as imagens: ‘O Cristo Redentor sempre esteve lá, no alto de nosso imaginário.’


O livro também trata da construção da estátua. O monumento aparece em pedaços: a cabeça montada num sítio de Niterói, um braço ainda inacabado, as ferragens que sustentam o concreto, a estátua cercada por andaimes. E resgata detalhes da construção, como as moças do Círculo Católico que confeccionaram pacientemente as telas com caquinhos de pedra-sabão que revestem a estátua.


Para encerrar a obra, há ensaios fotográficos encomendados especialmente para o Cristo Redentor. O paulista Cristiano Mascaro procurou mostrar a relação da cidade com o monumento e o carioca Claudio Edinger, radicado em São Paulo, registrou o cotidiano do ponto turístico – funcionários da limpeza, guardadores de carro, garçons, motorneiros e suvenires.


REFERÊNCIA


Durante um ano, Kaz e Niggi se debruçaram sobre mais de 10 mil fotografias, garimpadas em 25 acervos. ‘Fizemos um livro de pesquisa, de referência para estudiosos’, disse Kaz. ‘Mais do que imagem sagrada, a cidade tem uma relação ininterrupta com o Cristo. Pode-se vê-lo de todos os lugares. É um ponto de referência.’’


 


TELEVISÃO
Etienne Jacintho


Dentro dos planos


‘Beleza Pura estreou com 32 pontos no dia 18 de fevereiro, na Globo. Até a semana passada, a novela da estreante Andrea Maltarolli, com supervisão de Silvio de Abreu, manteve uma média de 28 pontos de média no ibope e voltou a marcar, na terça-feira passada, 32 pontos. Não é uma média incrível – ainda não está nos sonhados 35 pontos -, mas a trama caiu no gosto do público. A autora diz que, desde a estréia, não mudou ‘uma só vírgula’ do roteiro original, mesmo após os resultados do grupo de discussão sobre a novela.


‘Acho bom ouvir a opinião do público e incorporá-la à novela, mas não mexi em nada até agora’, fala Andréa, que já sabia que iria encontrar uma dura batalha em audiência no horário. ‘Fui ‘cabeça’ de Malhação por dois anos, já sabia o que esperar. Novela, e especialmente nesse horário das 7, é uma batalha mais dura. Eu me cobrava (antes da estréia) e me cobro muito.’


A autora acredita que o segredo do sucesso de Beleza Pura está na leveza da história. ‘Fiz um texto divertido e simples, que respeita a inteligência do espectador. É o típico romance que a gente tem vontade de guardar na cabeceira’, fala ela.’


 


 


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