O jornalismo de celebridades ganha cada vez mais espaço na mídia. Trata-se de mero entretenimento, e não de informação jornalística. Proporciona um rápido deleite ao seu público que, por sua vez, comporta-se como um voyeur: quer dar uma olhada pelo buraco da fechadura na vida privada de gente famosa. Os famosos, em geral, iniciam o jogo aguçando a curiosidade pública sobre a sua vida íntima. Isso rende audiência e gera publicidade. Os donos do quarto poder sempre lembram que, sem publicidade, não há como sustentar um veículo de informação.
Na contramão, há jornalistas comprometidos com o seu trabalho. Alguns chegam a perder a própria vida em virtude deste compromisso. É o caso de Luiz Carlos Barbon. Com 37 anos, foi assassinado, em 5 de maio passado, em Porto Ferreira, no interior paulista. Enquanto bebia em um bar com amigos, dois motoqueiros pararam e vieram em sua direção. Um deles apontou uma espingarda, a dois metros de distância de Barbon, e atirou. Para a polícia, foi uma execução.
O jornalista publicou matérias denunciando um esquema de aliciamento de meninas, em Porto Ferreira, envolvendo empresários e políticos da cidade. As crianças eram aliciadas na porta de suas escolas. O caso chocou o país e levou para a prisão figuras importantes. Recentemente, Barbon teria encaminhado ao promotor local denúncias sobre corrupção na Câmara e na Prefeitura e recebia ameaças.
Lucros e audiências
Em Belém, o jornalista Lúcio Flávio Pinto responde a inúmeros processos por causa de reportagens investigativas que levantam denúncias contra figuras políticas e do mundo empresarial que atuam na região. Ele acabou virando notícia ao ser espancado por seguranças do diretor do jornal O Liberal, Ronaldo Maiorana, durante um almoço em um dos restaurantes mais conhecidos da cidade.
Por não encontrar espaço na grande imprensa, Lúcia Flávio edita, há 20 anos, o Jornal Pessoal. Suas edições são marcadas por denúncias, embasadas por investigação e muitos anos de experiência. Entretanto, o custo deste trabalho tem sido alto para o jornalista: além de responder a processos, ele sofre ameaças de morte. Por causa de tanto problema com a Justiça, não consegue nem se ausentar da cidade, contou em entrevista dada ao jornalista André Vieira e publicada na revista Rolling Stone Brasil.
A ênfase atual no entretenimento reduz as possibilidades de atuação de jornalistas como Bardon e Lúcio Flávio. Essa ênfase supostamente se justifica pela preocupação com lucros e audiências. Quem perde é o público, que, além de não poder usufruir de importantes informações sobre a realidade em que vive, ainda vira objeto de domesticação.
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Poeta, jornalista, professora universitária e articulista da revista Griffe