Monday, 25 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Na seara da arrogância

Alguns procedimentos da nossa grande imprensa são rigorosamente contraditórios. Na maioria das vezes os jornalões nacionais e regionais procuram alinhar-se e adotar procedimentos e posições assemelhadas. Esta, digamos, sintonia passa uma impressão negativa, corporativa. Contradiz os postulados e os ideais do pluralismo e do contraditório, essenciais ao funcionamento da democracia.


No entanto, quando um dos parceiros rompe o imobilismo e procura avançar, os demais veículos se retraem, não o acompanham. Sequer registram o feito que, embora individual, acaba se estendendo à própria instituição jornalística.


É o caso da comemoração dos 20 anos da criação, pela Folha de S. Paulo, do cargo de ombudsman. O atual ouvidor da Folha – Carlos Eduardo Lins da Silva – e o próprio jornal lembraram a efeméride nesta semana e, por coerência, procuraram convertê-la numa oportunidade para ampliar o debate sobre a responsabilidade de informar e a busca da excelência jornalística.


Avessos a cobranças


Despeitados com a festa do outro jornal ou simplesmente contrariados com esta concessão da Folha ao leitorado mais exigente, os competidores e a mídia em geral ignoraram o evento. Assim, inadvertidamente, deram razão aos comentários do ombudsman da Folha que considera a simples existência da função como um valioso antídoto à arrogância dos jornalistas.


Neste caso, ignorar o tranco na arrogância equivale a uma arrogância ainda maior. Mesmo reconhecendo que a maioria dos jornais brasileiros é contrária a qualquer tipo de cobrança, ainda que interna, o isolamento da Folha deixou clara uma divergência extremamente salutar.