Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Nelson de Sá

‘A exemplo de FHC, Bill Clinton ensaia sua volta ao jogo político.

Como noticiou o ‘Atlanta Journal-Constitution’ e depois o ‘Washington Post’, ontem, a campanha do democrata John Kerry tem uma ‘sombra’ nos bastidores.

É Clinton quem está por trás das duas maiores financiadoras da campanha Kerry, em especial dos comerciais contra George W. Bush na TV, a Moveon.org e o Media Fund.

O ex-presidente está fazendo até solicitações de dinheiro por e-mail, tendo arrecadado US$ 2 milhões num único dia.

Com Clinton na articulação, o pouco empolgante John Kerry bateu o recorde de arrecadação de recursos eleitorais do Partido Democrata nos primeiros três meses -e encostou em Bush, agora financeiramente.

A internet é protagonista da eleição não só na arrecadação. A blogosfera, como se diz, com os sites pessoais de comentaristas influentes tipo Andrew Sullivan, se institucionalizou na opinião pública que corre em torno da campanha.

Um dos blogs, do liberal kos, abriu o jogo em favor de Kerry e passou então a ser atacado pelo InstaPundit, este um blog dado como conservador.

No meio do ruidoso conflito virtual, entraram a revista ‘The Weekly Standard’, de Rupert Murdoch, com ataques a kos, e até mesmo o ‘Washington Post’, ontem.

SADR

O clérigo muçulmano Moqtad Sadr, proscrito pelos EUA, deu face à revolta xiita no Iraque e vai ganhando aura de herói na mídia islâmica -e em outras.

A Al Jazeera dedicou um longo perfil a ele. Um jornal iraquiano, ‘Al-Mashriq’, afirmou que ‘o rifle é o último meio’, mas sustentou a decisão de Sadr de ‘rejeitar a ocupação e tudo o que ela implantar’.

Até Naomi Klein, célebre pelo livro antiglobalização ‘No Logo’ e hoje correspondente do canadense ‘Globe and Mail’ em Bagdá, diz que ele ‘tem seu mercado’ -e descreve como o monumento erguido no lugar da estátua de Saddam Hussein está coberto de imagens de Sadr.

Fórum

O sociólogo Emir Sader escreve da Itália, para o site Carta Maior, que ‘o Fórum Social nunca mais será o mesmo’. Não só porque será bienal a partir de 2007, mas pelo ‘espírito da Índia’, local da última edição. Agora vai buscar:

– Por um lado, a participação popular, marcante na Índia. Por outro, ações concretas.

Latinos

Sader, também no site, foi o primeiro intelectual brasileiro a criticar o novo e polêmico ensaio de Samuel Huntington na revista ‘Foreign Policy’.

Huntington, de ‘O Choque das Civilizações’, afirma agora que a invasão ‘latina’ ameaça o modo de vida americano.

Necessidade

Sites católicos pelo mundo, como o Zenit.org, destacam comentário de João Paulo 2º, ‘em português’, sobre a formação dos padres brasileiros:

– O Brasil tem necessidade de ministros bem formados.

Pitbull

Após o programa em que a Record atacou a Globo, o Jornal Nacional retribuiu ontem:

– Polícia investiga morte de rapaz de 13 anos encontrado em terreno da Igreja Universal, atacado por um cão, cruzamento de boxer e pitbull. A igreja não quis dar mais informações.

Império

‘O Globo’ dizia semanas atrás que a Igreja Universal está se tornando ‘uma multinacional’. A Agência Latino-Americana de Comunicação, de notícias evangélicas, detalhou:

– A igreja expandiu seu império midiático com um canal em Atlanta, afiliado a uma das maiores redes dos EUA. E negocia rádio em Nova York.

Urânio

O ‘New York Times’ deu ontem a resposta do Brasil à denúncia de que o país vem evitando inspeções.

O curioso é que o ‘NYT’, a exemplo do ‘Valor’, já havia publicado tanto a notícia como a resposta do país em dezembro, há quase quatro meses.

Morcegos

Mais do que o urânio, o que tem recebido cobertura diária de ‘USA Today’, ‘Guardian’ etc. é o caso dos morcegos assassinos de Belém do Pará.

Pelo mundo, ecoam as reportagens do paraense ‘O Liberal’, como a notícia de que 13 pessoas já morreram, com raiva.

Rússia na fila

Do ‘Pravda’, de Moscou, em texto sobre o avanço nas negociações Mercosul/China:

– Isso é algo que pode encorajar o Brasil a travar negociações sérias com a Federação Russa no curto prazo.

O PORTO

Desta vez a culpa não foi creditada ao governador Roberto Requião, mas a Globo destacou longamente (acima) a nova fila no porto de Paranaguá. Foi causada por ‘um caminhão que bateu num poste’, mas a rede disse que é ‘exemplo das dificuldades que os nossos produtores enfrentam’.

O conflito está longe de terminar, no porto. Requião, no site do governo paranaense, diz que não vai exportar soja transgênica e que a paralisação recente, de impacto mundial, foi locaute, não greve. Reclama das pressões que ‘prejudicam a imagem do porto’ no exterior.

Não é como ‘o maior exportador de soja, a Cargill,’ vê as coisas. Para um diretor, na Globo e em ‘O Globo’, ‘vários problemas reduzem a produtividade do porto’.

Mas Requião não tem parada. A Bloomberg destacou ontem a proibição pelo governador dos pesticidas da Monsanto no Paraná. Comentário da Bloomberg:

– É o passo mais recente de Roberto Requião, que vem preocupando investidores ao reverter contratos.’



JORNALISMO & DENUNCISMO
Zuenir Ventura

‘Denúncia e denuncismo’, copyright O Globo, 7/04/04

‘Os personagens aqui tratados não têm nada em comum: nem partido, nem orientação política ou ideológica. Os que os une é o fato de terem sido vítimas de acusações levianas ou de má-fé atingindo suas reputações. Do primeiro, Rafael Greca, recebi um e-mail em que agradece o escândalo Waldomiro por ter lançado luz sobre seu ‘antigo calvário’. Quanto ao segundo, o ex-governador do Amapá João Capiberibe, está ameaçado de perder na Justiça o mandato de senador, junto com a deputada Janete, sua mulher.

Greca diz que foi acusado pelo procurador Luiz Francisco de Souza, ‘então filiado ao PT e muito celebrado por parte da mídia’, com base em textos do repórter Mino Pedrosa. ‘O demolidor de ministros, que fazia dueto com Luiz Francisco, era assessor do bicheiro Carlinhos Cachoeira, como mostrou a fita veiculada pelo ‘Jornal Nacional’. O jornalista me acusava de estar ligado ao crime organizado quando ele, sim, era pago com o dinheiro da contravenção.’ O ex-ministro de Esporte e Turismo do governo FH se sente enfim redimido: ‘Graças a Deus, o mundo é redondo. E a gente, quando tem saúde para vê-lo girar, pode assistir a essas coisas.’

A história do casal Capiberibe é pior. Uma ação acusando-os de compra de votos foi julgada improcedente pelo Ministério Público Federal e pelo TRE do Amapá, mas mesmo assim acabou no TSE, em Brasília. No dia 1, os dois já tinham contra si três votos, quando o ministro Fernando Neves, o quarto a votar, pediu vista do processo. A acusação se baseia no depoimento de duas mulheres, que teriam confessado a venda de seu falso testemunho ao ex-senador pelo PMDB Gilvan Borges, que move a ação e, se Capiberibe for cassado, assume uma cadeira no Senado.

Famoso por suas idéias e projetos extravagantes, como a apologia do nepotismo (‘parente em cargo de confiança é defesa contra as intrigas e as traições políticas’) e a proposta de anexar a Guiana Francesa ao Brasil, Gilvan não tem nada de bobo. Quando senador, conseguiu arrematar cinco concessões de rádio e uma de televisão.

Contra Capiberibe, que implantou no Amapá um programa modelar de desenvolvimento sustentável, há poderosas forças, como o crime organizado que ele desafiou ao apoiar a CPI do narcotráfico. Em sua defesa, têm-se levantado vozes de todos os partidos (ele é do PSB), inclusive do PMDB, como Pedro Simon: ‘Chega a soar mal querer atingir um homem como Capiberibe em um país como o Brasil, que não atinge ninguém.’ Ou então atinge errado. O denuncismo é tão nocivo e perverso quanto útil pode ser a denúncia.’