Um dia após a inclusão de 10 países da Europa Oriental e do Mediterrâneo na União Européia, a organização Repórteres Sem Fronteiras divulgou uma análise positiva da relação dos novos países com a mídia. Segundo o relatório anual da organização, Chipre, República Tcheca, Estônia, Hungria, Letônia, Lituânia, Malta, Polônia, Eslováquia e Eslovênia respeitaram a liberdade de imprensa em 2003. O relatório faz questão de enfatizar que ‘nenhum jornalista foi morto na região por causa de seu trabalho’.
Apesar do bom parecer, os novos membros da União Européia enfrentam desafios para manter a liberdade de imprensa e a qualidade no jornalismo. Uma gama de tablóides sensacionalistas tem tomado conta do mercado editorial na Europa Oriental nos últimos meses.
Jornalismo superficial
O fenômeno que mais chama atenção é o da Polônia. Há sete meses, o editor alemão Axel Springer, que publica o Bild – tablóide mais vendido na Europa – lançou o jornal diário Fakt no país. Na ocasião, o diretor do jornal, Jankowski, assegurou que o novo tablóide polonês não iria apostar na combinação de ‘sensacionalismo, sangue e esperma’, seguida à risca pelo Bild. Entretanto, o tempo provou o contrário. Com reportagens agressivas e populistas, artigos curtos e tendenciosos, e um modesto preço de US$ 0,30, o Fakt criou seu nicho próprio na Polônia.
Mas o estilo não agrada a todos. ‘É um jornal superficial e sensacionalista’, diz a estudante polonesa Dobrawa Szymlik. Mesmo com críticas, os números sugerem que o país tem bastante consumidores interessados em escândalos e obscenidades. O Fakt vende cerca de 300 mil exemplares diários, número considerável para um país em que apenas 60% da população de 38 milhões de pessoas lêem jornais diariamente.
A tendência dos tablóides também tem afetado outras ex-nações comunistas, como a República Tcheca. Peter Uhl, colunista do jornal Pravo, afirma que observa o fenômeno há alguns anos. Segundo ele, o problema é que, para competir pelos leitores com os tablóides sensacionalistas, a imprensa considerada ‘séria’ acaba tendo que apelar para os mesmos artifícios usados por eles. Uhl explica que a liberdade e a diversidade de expressão estão ameaçadas pelo aumento do sensacionalismo e da simplificação das notícias. ‘É preciso mais do que uma grande foto e uma manchete dramática para denunciar escândalos, fraudes e corrupção’, conclui. Informações de Andreas Noll [Deutsche Welle, 10/5/04].