O apaixonado artigo do jurista Saulo Ramos na edição de domingo (12/7) da Folha de S.Paulo, em defesa de José Sarney, pode ser lido de duas maneiras.
A primeira, como um esforço do jornal em equilibrar o debate em torno do senador-colunista. Como a mídia é majoritariamente anti-Sarney – e aparentemente com sólidas razões para isso – a Folha estaria à procura de uma diversidade a fim de dissipar a impressão de que nossa grande imprensa é monolítica e funciona como um pool.
A outra leitura sugerida pelo artigo desvenda o grau de comprometimento do jornal com o ex-presidente da República. É preciso não esquecer que Saulo Ramos é amigo da casa, escreve com alguma freqüência na Página 3 e tão logo Sarney terminou o seu mandato assumiu imediatamente o papel de seu defensor ostensivo.
Já naquela época corriam insistentes informações nos bastidores de Brasília sobre insólitos negócios patrocinados pelo grupo que deixava o poder. As investigações não prosseguiram, em parte para não macular o primeiro mandato de um civil depois dos 21 anos de ditadura militar. Quando Fernando Collor entrou no clima de licenciosidade, então a mídia sentiu-se livre para escancarar as falcatruas do segundo presidente civil.
Coluna diária
A extremada defesa de Sarney vocalizada agora por Saulo Ramos não responde a qualquer uma das denúncias contra o presidente do Senado publicadas inclusive pela Folha, embora de forma constrangida.
É a defesa de um amigo ou parceiro, na base de uma retórica subjetiva, distante do objetivo de estabelecer um clima de objetividade jornalística. E torna ainda mais suspeita a obsessão do jornal em manter Sarney como articulista, contrariando sua praxe de dispensar os que ocupam cargos nos altos escalões.
À Folha só resta uma saída: contratar Saulo Ramos para escrever uma coluna diária em defesa de Sarney. Será mais transparente, mais jornalístico e mais empolgante. Sua primeira tarefa será explicar a história da conta JS-2 do Banco Santos que pertencia ao amigo comum, o ex-banqueiro Edmar Cid Ferreira.