Bem-vindos ao Observatório da Imprensa. Você viu nos telejornais de ontem [segunda, 19/9], rapidamente, o motim na pequena Goianésia, no Pará, onde a população arrasou todas as instalações públicas da cidade. Nenhum dos jornais nacionais que circularam nesta terça-feira (20/9) em São Paulo destacaram na primeira página esta inédita ruptura da ordem. Não era importante, ou era longe demais.
Há 10 dias, outro ineditismo: em Marília, a 400 quilômetros de São Paulo, um grupo armado incendiou as instalações de uma empresa de comunicação onde estão instalados o principal jornal da cidade, Diário da Marília, e duas rádios. Houve algum movimento: a ANJ, Associação Nacional de Jornais, divulgou um protesto, o próprio presidente da República prometeu providências, um dos criminosos já foi detido, começam a aparecer pistas sobre os mandantes, mas o país ainda não sabe exatamente o que aconteceu em Marília, por que aconteceu e o que está sendo feito para punir os culpados.
Não se trata da velha incapacidade da nossa imprensa em acompanhar o desdobramento dos fatos. No caso de Marília, está parecendo que há uma inércia consensual para deixar as coisas como estão. E nesta meia omissão reside um dos grandes problemas da nossa mídia: ela só se interessa por alguns grandes fatos e, mesmo assim, momentaneamente. Nossos grandes veículos não prestam atenção num dado elementar – os grandes fatos começam bem pequenos lá nos cafundós. O caso de Severino Cavalcanti, por exemplo, não é um problema que se localiza na Praça dos Três Poderes, em Brasília. Severino é um problema do interior de Pernambuco que chegou a Brasília.
A nossa grande imprensa não toma conhecimento do que diz a pequena imprensa regional e assim o país deixa de saber o que se passa nas suas entranhas. O atentado ao Diário de Marília é emblemático.
Em condições normais pode ser classificado como atentado terrorista, intimidação para calar a imprensa e manter a sociedade afastada da verdade. Mas envolto em tantos mistérios, o caso do Diário de Marília parece ser antes um caso de falta de informação.
Este Observatório da Imprensa, repetimos mais uma vez, não é tribunal, muito menos instância policial. Este Observatório é um fórum para provocar discussões, para estimular ações e sobretudo para aproximar a sociedade da sua imprensa. Juntas, ficarão protegidas e imunes contra as fagulhas e os incêndios.