Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

O cardápio do almoço das estrelas

‘Nem amarrada’ virou a expressão predileta da ministra Dilma Rousseff para responder sobre sua candidatura à presidência da República em 2010. Expressão que ela usou novamente no sábado (6/6), ao participar de mais um ato de campanha, em São Paulo, e desta vez para um pequeno e selecionado grupo de mulheres, as convidadas especiais da ex-ministra do Turismo Martha Suplicy, para um almoço informal (O Estado de S.Paulo, 7/6/2009).

A escolha das convidadas deixou bem claro – coisa que a imprensa não disse – que, além do apoio dos pobres, Dilma está em busca do apoio das mulheres. As convidadas eram apresentadoras de TV, jornalistas, filósofas e empresárias (todas na categoria de formadores de opinião, mas muitas delas sem qualquer opção ideológica) que, segundo disse a ministra, são mulheres especiais porque simbolizam mulheres bem-sucedidas: ‘É um momento significativo para mim. São pessoas que têm algo a dizer, é um encontro de diálogo’.

Neste ‘encontro de diálogo’ a ministra fez questão de dizer que a tese do terceiro mandato para o presidente Lula ‘está fora de cogitação e que o projeto de governo do PT pode continuar mesmo sem Lula’.

Candidata das mulheres?

Sempre se negando a falar da candidatura – segundo a lei, fazer campanha antes da data oficial pode dar processo –, a ministra se mostra disposta a enfrentar as urnas e justifica: ‘Passar pelo crivo do eleitor é algo muito importante, nunca me neguei, não tive oportunidade. Não me nego a isso, não, algo a que qualquer pessoa que tem compromisso com a cidadania e com o Brasil tem de se submeter’.

A imprensa tem obrigação de noticiar eventos políticos, tem o dever de tentar falar com os presentes, mas esquece do bom jornalismo que esse tipo de acontecimento permite fazer. Noticiar é o papel da imprensa, mas, nesses tempos de internet e notícias instantâneas, a imprensa escrita deveria ir além, analisando os fatos, sem esperar que isso seja feito exclusivamente pelos comentaristas. Não custava nada aos repórteres mostrarem, mesmo que fosse em poucas linhas da matéria, o significado maior do encontro, dizer quem são as convidadas, suas convicções políticas e as implicações de uma reunião prévia entre a candidata com outras mulheres de sucesso.

Será que ao reunir jornalistas – que não tiveram seu nome divulgado na matéria do Estadão – e apresentadoras de TV (conhecidas freqüentadoras de revistas de fofocas, como é o caso de Adriana Galisteu e Ana Maria Braga), o objetivo era caracterizar Dilma como a candidata das mulheres? Se era isso, os interesses das mulheres deveriam ter sido a pauta das conversas, e não – como transpareceu pela mídia – a continuidade ou não do governo Lula.

Massa de manobra

Se o objetivo é dizer às mulheres que com Dilma no governo elas terão uma representante das causas femininas – igualdade de salários, oportunidades de trabalho, fim da violência doméstica, ampliação da assistência médica e apoio às mulheres que precisam creches para poder trabalhar etc. etc. –, o tom da conversa deveria ter sido bem diferente. Parece que a intenção era apenas conseguir adeptas à campanha de Dilma, que, depois da cirurgia plástica e da reforma visual, se tornou mais parecida com suas convidadas.

Se o objetivo era conseguir o efeito Oprah Winfrey (que com sua adesão à campanha do então candidato Barack Obama levou junto os votos de milhões de americanas), o PT vai ter que pensar duas vezes. Por mais influência que uma Ana Maria Braga possa ter junto ao eleitorado, por mais que as mulheres se fascinem com Adriana Galisteu e seus cabelos loiros, isso é pouco para convencer as eleitoras que Dilma Rousseff é a pessoa certa para mudar a cara da política brasileira.

E resta saber também se as convidadas vão se deixar usar, se um almoço é suficiente para garantir adesão a uma campanha, ou se elas perceberam que estão querendo fazer delas – com toda sua celebridade – massa de manobra de um projeto político.

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Jornalista