A imprensa informa, explica, educa, mas a imprensa também deve funcionar como um despertador público. Se abdica da função de chamar a atenção, descumpre uma das suas principais missões sociais.
No caso do novo surto de devastação da floresta amazônica, a Folha de S.Paulo acionou o alarme na segunda-feira (28/1). Nos dias seguintes, os jornais anunciavam dados assustadores fornecidos pelo INPE: só no último trimestre, foi desmatada uma área equivalente a quase cinco vezes a área da cidade de São Paulo.
O presidente Lula ficou impressionado, mandou checar. Fez o que se espera de um governante: alertado, tomou providências.
Na quarta-feira (30/1), o presidente deu marcha-ré: preferiu minimizar o alarme do dia anterior e saiu-se com nova metáfora ao afirmar que não se pode tratar uma simples ‘coceira’ como doença grave.
Ora, coceiras às vezes indicam um câncer de pele. A situação da Amazônia é grave, não é de hoje e a imprensa faz bem em ligar as sirenes quando flagra a devastação. Um governante sensível aos alarmes e advertências inspira mais confiança do que um chefe de estado desatento e bem-humorado.