Saturday, 23 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

O despertar da Arábia Saudita

A notícia é mais que bem-vinda e vem da Arábia Saudita. Na verdade, o mundo árabe está em polvorosa. O grito de democracia é candente no Egito, Iêmen, Mauritânia, Líbia e Bahrein. Pela democracia, a grita toma as ruas, praças, avenidas e cidades. Ditadores caem. Esses ventos, que exigem liberdade e democracia, chegaram ao país.

O site iG, (25/9), deu a seguinte notícia: “Rei da Arábia Saudita anuncia direito de voto às mulheres”. Síntese da informação: o rei Abdullah, da Arábia Saudita, divulgou que a partir de 2015 as mulheres vão poder votar e concorrer às eleições municipais. Por se tratar de um país que segue à risca os ensinamentos do profeta Maomé, a notícia é surpreendente. Afinal, numa nação de maioria praticante da religião islâmica não há muito espaço para as mulheres, em se falando de conquistas e direitos sociais. Elas não têm seus direitos respaldados pela lei.

O Corão, que é o livro sagrado, contém o código religioso, moral e político dos muçulmanos ou maometanos – ensina o respeito às mulheres. Mas, não é isso o que ocorre. Com raras exceções, no mundo árabe, elas são caçadas e maltratadas. Vivem sob um rígido código de conduta que prevê submissão aos maridos. Existem para procriar e são obrigadas a se cobrir com o abaya– um manto negro que cobre todo o corpo, exceto os olhos. Nas escolas, professores e alunas não podem ter contato direto. Ao contrário das mulheres ocidentais, as sauditas não podem ser motoristas.

Um avanço gigantesco

Berço do Islã, a Arábia Saudita desrespeita os direitos humanos. Para o sexo feminino, a realidade é ainda mais dura. Não podem, por exemplo, viajar para o exterior sem o marido, dirigir e mostrar em público o rosto. São proibidas de blogar. As penalidades são severas. Ainda assim, há anos, algumas delas desafiam a proibição de blogar, de dirigir e os muros que as impedem de ser cidadãs. É claro que são punidas por isso. Quanto ao Corão, não prevê nenhum impedimento à mulher de dirigir, bem como sua submissão aos maridos e mesmo ser blogueira. Ou seja, os ensinamentos de Maomé são deturpados de forma estrábica. O objetivo disso é impedir a emancipação feminina e mantê-las em posição inferior, ou seja, é não lhes garantir o direito à cidadania.

De outro lado, é incontestável que os protestos populares na Tunísia, Líbia e Egito levaram à queda dos ditadores desses países. Portanto, são essas ideias libertárias que atingem a monarquia saudita. É cedo para dizer se a democracia vai permanecer por lá. Ainda assim, não se pode ignorar que a era das tiranias e ditaduras, no Norte da África e Oriente Médio, dão sinais claros de desgaste. O fim desses regimes autoritários está na mesma proporção que a sede do cidadão em poder exercer o direito de escolha.

Em conclusão, preocupado com o despertar do Oriente e a fúria que toma a região, o rei Abdullah inclui politicamente as mulheres. Para nós, ocidentais, que vivemos em países de tradição democrática, pode parecer pouco. Mas não é. Do ponto de vista histórico, essa pequena mudança, é um avanço gigantesco. Afinal, trata-se da nação que mais oprime e maltrata as mulheres em todo mundo. Some-se a isso, a existência de grupos radicais islâmicos conservadores que são aferrados à tradição. São eles que controlam a política e fazem as leis. Portanto, garantir o direito de voto às sauditas é passo fundamental para que os ventos democráticos se instalem mesmo que timidamente no país.

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[Ricardo Santos é jornalista e professor, São Paulo, SP]