A reportagem ‘O blablablá da educação’, publicada pela revista Nova Escola na edição de dezembro de 2008, apresenta ‘as expressões que o professor usa sem saber o que significam’. Logo, chamamos a atenção para os possíveis imbricamentos em apresentar essa reportagem em relação ao que de fato deveria ser mostrado. Assim, é essencial que nos perguntemos: quais as possibilidades que essa matéria oferta para a construção de um novo discurso? Na tentativa de (re)pensarmos os pontos discutidos, designo abaixo o texto dessa revista e como ele se edifica.
O texto em análise mostra algumas expressões usadas pelos professores, destacando palavras-chave e avaliando o texto, analisando sua coerência interna e originalidade, evidencia também qual a postura que os educadores e/ou escolas devem tomar acerca dessa problemática e os porquês não realizam esse trabalho.
Visão de formação
Todavia, essa matéria deixa entender que esses discursos usados por esses professores são algo relacionado ao despreparo dos mesmos, uma vez que a precariedade da formação dos educadores revela uma realidade pedagógica inadequada. Assim, a revista Nova Escola como agência de formação, que acompanha o professor há mais de duas décadas, toma esse posicionamento em divulgar uma matéria que denigre a imagem do professor e torna nosso entendimento no mínimo confuso, já que pensamos que o procedimento adequado seria a revista oferecer mecanismos, meios para que esses professores transformem suas ações equivocadas em ações inovadoras.
No entanto, a Nova Escola traça um perfil irresponsável do professor brasileiro, quando na verdade deveria construir pontes para que suas matérias propiciassem aos professores alternativas didático-metodológicas na execução de suas atividades como ações inovadoras para processo de produção do conhecimento, fazendo com que educadores e alunos trabalhem e produzam de forma coletiva. Deveria articular uma formação que aproxime o professor de língua portuguesa às mais recentes abordagens sobre a língua, à linguagem e aos diversos objetos a elas implicados e a seu ensino.
Desse modo, nos perguntamos se a visão de formação que nasce a cada matéria exposta por esse meio de comunicação constitui uma tentativa de refletir e construir a compreensão de objetos próprios do ensino/aprendizagem da língua materna?
‘Discurso vazio’
Agindo dessa forma, com a escolha de seu discurso, a revista menospreza todo processo de discussão que permitiu que saíssemos do período obsoleto e monótono que aplacava nossos professores na antiguidade. E nos remete a idéia de professor que foi construída às margens do mercantilismo e que já era observada por Geraldi (1991: 88), que diz que o professor se constituirá socialmente como um sujeito que domina certo saber, ou seja, o resultado do trabalho científico, a quem tem acesso em sua formação sem se tornar ele próprio produtor de conhecimentos (…) sua competência se medirá pelo seu acompanhamento e atualização (…). Como se trata de achar um modo de transmitir, com certa facilidade, as informações colhidas no estudo dos resultados da pesquisa, (…) e, principalmente, a compreensão destes resultados como definitivos, cristalizam como verdade o que é apenas uma verdade dentro de certa perspectiva.
Nesse momento nos perguntamos: que idéia de identidade a revista Nova Escola mantém sobre professor? E qual sua real atuação nesse processo de formação docente? Entendemos que essa preocupação acerca da formação de professores nasce da necessidade de melhorar a qualidade educacional. Contudo, entendemos que essa formação tem sido freqüentemente observada a partir de critérios que a priori visam estabelecer um perfil desejável de profissional em um quadro de atribuições práticas genericamente delineadas.
Seguindo esse pensamento, vemos claramente que a proposta de uma formação docente é direcionada às estruturas da atual sociedade, que se pauta pelo sistema neoliberal, o qual busca a construção de sujeitos de forma homogenias, iguais na procura da produtividade. Quando a matéria em questão recebe o título de ‘Discurso Vazio’, nosso raciocínio nos direciona a outras possibilidades, como a idéia de que tal discurso está cheio, repleto de implicações sobre as ações docentes e suas formações de um modo geral.
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Estudante de Letras, Campo Alegre, AL