Sunday, 22 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

O Estado de S. Paulo

ELEIÇÕES 2006
Sandra Cavalcanti

Pesquisas – visibilidade e credibilidade

‘O noticiário policial continua fervendo. O País ainda vive horas de aflição e agonia. E Lula prossegue, tranqüilo, em sua campanha eleitoral, debochando do povo de forma cínica, percorrendo o País, usando das regalias e dos confortos que o cargo põe a seu dispor.

Tudo é pretexto para alegres excursões, com platéias garantidas. A própria cobertura jornalística dá a impressão, às vezes, de que se deixa empolgar pela excelência do tratamento VIP que, graças ao nosso rico dinheirinho, o Tesouro Nacional oferece à caravana… Não pode causar surpresa, nem estranheza, que todas as recentes pesquisas eleitorais retratem o que está ocorrendo.

A realidade é que, nesta fase que antecede o período legal de campanha, não podem ser utilizados parâmetros confiáveis para uma comparação justa. As entrevistas técnicas, por exemplo, estão captando até agora, com bastante precisão, a grande diferença que existe entre o presidente e os demais pretendentes ao cargo, em matéria de visibilidade e popularidade.

É como se, numa corrida de 200 metros rasos, o corredor da raia 1 tivesse o direito de largar 100 metros na frente dos outros.

Os meios de comunicação, as televisões de maior audiência e as redes de rádio projetam diariamente a figura do presidente. Transmitem, quase sempre na íntegra, os mesmos intermináveis monólogos e as mesmas surradas tiradas pedagógicas que são a marca registrada das lideranças populistas sul-americanas.

O fato real, portanto, é o seguinte: Lula não precisa conquistar sua visibilidade junto ao eleitorado. Aliás, não tem nem como ampliá-la, pois mais de 90% de todos os eleitores sabem quem é Lula. Afinal, esta vai ser a quinta vez que ele pede voto aos brasileiros para presidente da República…

Quanto às pesquisas realizadas nesta fase, é importante saber ler e decifrar, com espírito crítico, alguns quesitos que têm que ver com a disposição dos eleitores. O porcentual de indefinidos é impressionante!

Pelos números obtidos até agora, a conclusão óbvia é a seguinte: a fantástica exposição de Lula e a sua contínua visibilidade não significam muita coisa, a não ser como propaganda enganosa.

E como andam os outros candidatos em matéria de visibilidade? Estão cumprindo a lei. Não podem fazer campanha. Aparecem muito pouco e, mesmo quando isso acontece, correm o risco de ser matéria negativa, vinda exatamente dos Planaltos da vida…

Diante dessas restrições, acho até que os índices deles estão sendo bastante expressivos. Principalmente os que vêm sendo alcançados pelo candidato Geraldo Alckmin. Afinal, esta é a primeira vez que seu nome sai do reduto de seu Estado e tenta ser conhecido no restante do País. Do ponto de vista de visibilidade e exposição na mídia, a senadora Heloisa Helena, por exemplo, era até bem mais conhecida do que ele.

Alckmin partiu da estaca zero – ali pelos 9%. Assim que tornou seu nome mais conhecido, com o lançamento da pré-candidatura, dobrou o índice. Foi só aparecer melhor para ser alvo de todas as flechas da mídia ligada ao PT. Com tudo isso, ele se vem mantendo tranqüilo, num patamar excelente. Para Alckmin e para os outros, a lei existe. Não podem fazer campanha…

No caso de Alckmin, tenho uma opinião muito positiva. Quando a campanha começar para valer, ele vai ser a grande surpresa política deste pleito. Não tenho receio algum. Acho que o eleitorado dele vai aumentar do mesmo modo que ocorreu na eleição para o governo de São Paulo em 2002. Na hora em que Alckmin alcançar o mesmo patamar de visibilidade, ele vai ter todas as condições para ser um páreo duro na hora de conquistar a credibilidade!

É exatamente no quesito credibilidade que reside a fraqueza de Lula e do PT. Esse é seu ponto fraco. Eles jogaram esse trunfo pela janela… O País inteiro sabe, hoje, à custa de grandes decepções, o que Lula e seus companheiros de cobiça aprontaram para o País. Não perderam só a confiança de grande parte da sua gente, mas perderam completamente a confiança de todos os que, ingenuamente, romantizaram o que seria o poder na mão calejada do bom operário…

Nosso país vai às urnas, em outubro, mais traumatizado que nunca. Mesmo que venha o hexacampeonato mundial de futebol, até lá os gritos da torcida já terão silenciado. Até lá o MST continuará invadindo propriedades, roubando gado, destruindo centros de pesquisa, amedrontando todos os que plantam e produzem no País. Até lá continuarão impunes todos os que se utilizaram do poder para enriquecimento ilícito. Até lá o presidente Lula continuará achando que as facções criminosas só existem porque brasileiros pobres não estudaram e não arranjam emprego! Até lá ele continuará a envergonhar o Brasil perante o mundo, permitindo que um caudilhozinho atrevido nos deixe acuados, como se fôssemos uma Nação imperialista e exploradora.

Mas até lá, felizmente, ele vai ter de descer do palanque único. Vai ter de se explicar. Vai ter de dialogar. Vai ter de mostrar que sempre soube de tudo ou que nunca soube de nada.

Vai ser a fase que dará ao povo os elementos para discernir. Vai ser igualzinho ao que foi em São Paulo quando o Alckmin veio lá de trás e atropelou… Lembram-se? É só perguntar ao Genoino.

Visibilidade é uma coisa. Credibilidade é outra. Visibilidade é TV, rádio, jornal, dinheiro… Credibilidade é biografia! É patrimônio ético! É seriedade de palavra!

Estou tranqüila, pois. Como dizia o letreiro que vi num carro de Rio Verde, em Goiás: ‘Vou de Alckmin. E você?’

Sandra Cavalcanti, professora, jornalista, foi deputada federal constituinte, secretária de Serviços Sociais no governo Carlos Lacerda, fundou e presidiu o BNH no governo Castelo Branco.’



TV DIGITAL
Sonia Racy

Rousseff não tem pressa na definição da TV digital

‘O governo Lula não está preocupado com o prazo de escolha do padrão da TV digital no Brasil. ‘Não trabalhamos com esta pressão’, avisou ontem a ministra Dilma Rousseff, em conversa com esta coluna, destacando que a opção principal engloba muito mais que a tecnologia a ser aplicada. Envolve um processo muito mais amplo que, entre outras, trata da inclusão do desenvolvimento de novas tecnologias brasileiras, a serem utilizadas, no primeiro momento, pela indústria nacional de olho no mercado externo. ‘Pensamos no longo prazo, no que é melhor para o Brasil, pegar o trem que nos coloque de volta no trilho do desenvolvimento tecnológico, de forma sustentável’, frisa a ministra, deixando claro que é preciso ter pesquisadores e indústrias protagonistas no cenário global.

Conta a ministra, neste caso específico, com tecnologias já desenvolvidas pela PUC/RJ, pela Universidade Católica do Rio Grande do Sul, pela USP e pela Universidade da Paraíba, só para citar algumas. ‘Somos bons no laboratório, mas temos dificuldade em transformar as inovações em realidade’, considera Rousseff, para quem a Lei da Inovação é vital neste processo. ‘Ela vai permitir o estabelecimento de uma ponte entre a indústria e os centros de pesquisa.’

O melhor modelo de TV digital, portanto, segundo a ministra, é aquele que, além de atender ao País com nova tecnologia, permita simultaneamente que o Brasil desenvolva tecnologia própria dentro da arquitetura da TV digital, que é composta de vários elementos. O que a ministra chama de ‘middleware’ (modulação, uma espécie de software) terá carimbo brasileiro.

O pensamento de Rousseff coincide com as linhas defendidas, em entrevistas recentes ao Estado, pelo ministro Luiz Furlan e pelo empresário Eugênio Staub. ‘Na escolha do modelo, podemos conhecer e dominar uma nova tecnologia do HDTV, possibilitando que instituições de pesquisa e universidades brasileiras possam fazer adaptações e aprimoramentos que deságüem num sistema brasileiro de TV digital, baseado em tecnologia estrangeira’, disse Furlan, em uma das entrevistas.

O fato é que o governo está considerando nesta decisão, além do desejo do consumidor, aspectos das políticas industrial, tecnológica, o papel das telecomunicações e radiodifusão, mais o papel dos provedores de conteúdo. Parece não ser o caso do ministro Hélio Costa, que vem alardeando, há meses, que o governo bateu o martelo pelo modelo japonês e ponto. O processo da escolha mostra características (memorando de entendimento, não impositivo, entre Japão e Brasil) que tendem para o japonês, mas há inúmeros ‘senões’ neste processo, que ainda não está resolvido.

IMPRESSÃO DIGITAL

Indagado novamente ontem sobre o andamento do processo de escolha do modelo de TV Digital, o empresário Eugênio Staub, da Gradiente, observou que ele está sendo levado com muita competência. Está prestes a ser resolvido? ‘A minha idéia é que temos que ir devagar justamente porque temos pressa. Sem a ponderação cuidadosa de todos os ângulos que envolvem a questão, podemos optar mal e criar um problema para o futuro.’

Diferentemente da maioria dos fabricantes de televisores no Brasil, Staub acredita que o sistema japonês pode sim ser o melhor, após aperfeiçoado por meio de tecnologia brasileira.’



MÍDIA / EUA
Andy Robinson

Murdoch mais perto dos democratas

‘Um noite típica de lazer nos Estados Unidos: assistir no canal Fox o final de American Idol ou no canal Fox News o O’Reilly Factor, o espaço de debate de maior audiência da televisão a cabo, com 2 milhões de telespectadores. Os jovens talvez dediquem algumas horas a fazer amigos no Myspace, que tem 75 milhões de usuários, a última moda na internet. Outros talvez saiam para assistir A Era do Gelo 2, o filme de animação mais lucrativo do ano, com uma bilheteria de mais de US$ 200 milhões. Também poderiam decidir ler o último livro de Douglas Brinkley sobre a inundação em Nova Orleans ou o best-seller Freakonomics, editados pela Harper Collins.

Há ofertas culturais para todos os gostos nos EUA, e grande parte delas, como as atividades mencionadas aqui, provêm de Rupert Murdoch, o mais influente magnata da comunicação. Seu grupo de comunicação, o News Corporation, é onipresente e excepcionalmente rentável. Seus ativos são avaliados em US$ 60 bilhões e as ações do grupo tiveram um aumento 19% maior que as de seus rivais no ano passado.

O grupo controla mais de 30 canais de televisão aberta, 19 canais a cabo ou via satélite e quatro estúdios cinematográficos em Hollywood. Edita 26 jornais, principalmente na Austrália e no Reino Unido, embora tenha o controle jurídico de apenas um nos Estados Unidos. Sob a marca Harper Collins, controla uma das maiores editoras do mundo. Agora Murdoch, apesar de seus 79 anos, é proprietário do Myspace, um dos sites da moda entre os adolescentes. Comprou-o no ano passado por US$ 580 milhões e poderá obter grandes vantagens econômicas se fechar um acordo com o Google ou a Microsoft. Murdoch acaba de anunciar que publicará uma edição americana do jornal britânico The Times.

Diante do domínio que tem da mídia e da influência que exerce, a decisão de Murdoch de promover um jantar em favor da candidatura de Hillary Clinton à presidência dos Estados Unidos deu o que falar. Para muitos, as circunstâncias se remetem a um evento semelhante que Murdoch, ferrenho defensor de Margaret Thatcher, organizou na década de 1990 em favor de Tony Blair.

Consciente de que o governo Bush conta com o apoio de apenas 30% da população, ‘é preciso se acautelar’, disse Craig Aaron, da ONG Freepress. ‘Se for ganhar um democrata, que seja alguém com quem possa fazer negócios’, disse Jim Nareckus, do grupo Fair.

Murdoch, um australiano de nascimento que se tornou cidadão americano não se sabe se por amor ao país ou se para burlar os controles sobre a propriedade estrangeira no setor de comunicação nos EUA, foi durante uma década um grande aliado do governo Bush. A Fox News aplainou o caminho para os republicanos com suas agressivas campanhas contra Clinton, no caso Lewinsky, e a forte defesa da guerra no Iraque.

Os EUA de classe média vêem o canal Fox como aquele que diz a verdade. ‘Como são bons os jornalistas da Fox, o que eles dizem o presidente anuncia no dia seguinte’, disse uma camareira de Nova Orleans depois do furacão Katrina. O semanário Weekly Standard é o mais lido no gabinete do vice-presidente Dick Cheney, e o New York Post dá voz a um dos colunistas mais conservadores, apesar de ser vendido num feudo democrata. Mas agora Murdoch não pode se dar ao luxo de ser neoconservador.

É difícil saber o que Hillary Clinton lhe oferecerá em troca mas, no ano passado, o império de Murdoch aumentou de 35% para 39% sua participação no mercado de televisão nacional em que pode operar o mesmo grupo de comunicação. Neste verão, disse Aaron, a Comissão Federal de Comunicações (FCC) volta a se reunir para reexaminar uma outra lei que impede que um grupo tenha vários canais de televisão na mesma cidade ou que seja proprietário simultanemente de órgão informativo impresso e de canais de televisão em cidades pequenas.

A última vez em que se falou em eliminar esses controles houve manifestações de protesto entre os jovens ativistas democratas, precisamente o tipo de gente que respeitaria as opiniões de Hillary Clinton.’



TELEVISÃO
Cristina Padiglione

Metrópolis aumenta

‘O Metrópolis, programa cultural que figura como único do gênero na grade diária da TV aberta, ganha mais espaço a partir desta segunda-feira na TV Cultura. Sua existência como programa solo perde alguma coisa em função da mudança de horário – em vez de 20 minutos na faixa nobre, o programa passa a ter 30 minutos, mas na hora do almoço – das 13h às 13h30. De todo jeito, durante o Jornal da Cultura – das 19h às 20h (também ampliado e reformado a partir de segunda-feira), o Metrópolis terá um bloco de 12 minutos.

Daí que não se consuma a tão alardeada redução do programa, que terá Cuca Lazarotto, e não mais Cunha Júnior, no comando.

Nas estréias desta segunda, o Cultura Meio-Dia passa a ser comandado por Maria Júlia Coutinho e Rodrigo Rodrigues, com uma hora de duração (das 12h às 13h). O Jornal da Cultura fica sob o comando de Celso Zuacatelli e Márcia Dutra – Heródoto Barbeiro fará entrevistas em estúdio. E tem ainda o Cultura Noite, novidade, apresentado por Salete Lemos, das 22h às 22h30.

As reformas são resultado da chegada de Albino Castro à direção de jornalismo da emissora, há coisa de dois meses.’



CONCURSO OESP
Dib Carneiro Neto

Estado quer que leitores ‘batam um textão’

‘Foram 1.022 inscrições, no curto prazo de um mês. Recordações de infância vieram aos montes, assim como homenagens a ídolos, bolas que falam, traves que rebatem, gols perdidos, vitórias comemoradas, gritos parados no ar. O tema futebol, a propósito da Copa do Mundo 2006, na Alemanha, recebeu forte adesão dos leitores do Estado, superando o sucesso de 2004, em que o assunto do primeiro concurso foi a cidade grande, na festa dos 450 anos de São Paulo. Cada um dos quatro jurados leu todos os 1.022 textos, encaminhados a eles sem identificação, para que nenhum dado da biografia dos autores influenciasse na escolha. Coincidentemente, os 11 escolhidos (não há ordem de classificação) são do sexo masculino, apesar de a participação feminina ter sido massiva. Só puderam participar autores estreantes – inéditos ou com, no máximo, duas obras publicadas. Além do saudável casamento entre jornalismo e ficção literária, os concursos de contos do Caderno 2 surgem para estimular nos leitores o sonho de escrever. A poucos dias do pontapé inicial para o primeiro jogo da Copa, o saldo de gols do concurso foi mais do que satisfatório e o resultado está aqui, neste caderno especial, que comprova o talento para as letras de um time de craques: 11 novatos ‘batendo um textão’. Boa leitura – e que venha a sexta estrela.’

Moacir Amâncio

No campo e nas letras

‘Mais de mil contos sobre futebol? Sim e não. Se de um lado os textos escritos pelos participantes deste concurso falam sempre desse esporte, no segundo nível descobre-se o mundo. No campo e na letra, o futebol assume o papel de representação.

Mesmo pessoas que não têm nenhuma afinidade com o futebol – e pode apostar, este foi o caso de alguns participantes – acabam sendo envolvidos positiva ou negativamente por essa malha de alegrias e tristezas, sonhos e pesadelos em que se resume qualquer existência. Isso me parece o melhor resultado.

Muitos temas são repetitivos, como a história do adulto que recorda a primeira ida ao estádio, na companhia do pai. O assunto é bom – não existe mau assunto – e o aparecimento reiterado apenas confirma sua importância. No entanto, como acontece com o lugar-comum, a exigência se torna maior. Tem de ser gol olímpico. Mas tanta freqüência passa a ser significativa, um índice da presença maciça desse esporte na cena brasileira, fora dos limites dos estádios.

Outra recorrência: os casos de amor, desamor e as cenas eróticas que se desenham no traçado invisível da bola no campo. E, claro, a violência, resumida no comportamento das torcidas, dos jogadores, da polícia, dos bandidos. Mais o sonho de redenção que é o jogo de bola para um número imenso de pais e filhos. Neste país, só uma coisa mágica dessas pode alimentar um sonho desses, até porque não tem nenhuma garantia e aí também se torna expressão da tragédia brasileira – não se trata de apelação política, mas do esporte como expressão disso tudo.

A morte é outra freqüência, seja a do torcedor que não resiste à catarse, seja a do que não resiste à derrota. A dor atinge um paroxismo na derrota de 1950, outra obsessão dos contistas, herança recebida dos pais, tios, avós. De modo simplista pode-se perguntar: quem ganhou tantas copas do mundo não sabe perder, mesmo que seja em casa?

Certa vez, o ex-aviador e romancista Oswaldo França Jr. contou como os pilotos, voando na linha de fronteira do País, podiam conferir visualmente se por acaso saíram do limite: bastava atentar para a presença ou ausência dos gramados. Mais de mil contos sobre futebol? Não e sim.’



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Folha de S. Paulo – 2

O Estado de S. Paulo – 1

O Estado de S. Paulo – 2

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