Sunday, 24 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

O furo que não houve

Digna de Honduras, apropriada à Guiné, tão respeitável quanto uma corte do Afeganistão. É uma afronta ao Estado Democrático de Direito a nova artimanha adotada pelo Tribunal de Justiça de Brasília remetendo o caso da censura prévia imposta ao Estado de S. Paulo ao foro maranhense.


O mais grave é que nem o Estadão, a vítima do abuso judicial, tem ânimo para espernear. Na edição de quinta-feira (1/10), depois de 62 dias de censura, a primeira página do jornalão parecia normal, burocrática, aparentemente resignada com a mutreta produzida pelo clã dos Sarney. Os demais jornais apenas registraram o fato, cansados da solidariedade.


Embora concluísse que o desembargador Dácio Vieira era suspeito e não tinha condições morais para continuar no caso, o Tribunal de Justiça de Brasília manteve a sua liminar e proibiu o jornal de continuar noticiando o inquérito da Polícia Federal sobre as trapalhadas comandadas por Fernando Sarney, filho do presidente do Senado.


Trechos proibidos


Não contente com a contradição, o egrégio tribunal brasiliense preferiu embarcar em contradição ainda maior e remeteu o caso para apreciação dos colegas do Maranhão sem anular a decisão tomada por um de seus magistrados considerado suspeito pelos pares.


O circo forense está armado e ninguém tenta disfarçá-lo. A mídia, que teoricamente tem a obrigação de denunciar desmandos em qualquer um dos poderes da República, está cheia de dedos com o Judiciário. Afinal, depois de ganhar duas votações no Supremo Tribunal – o fim da Lei de Imprensa e o fim da obrigatoriedade do diploma de jornalismo para o exercício da profissão – nossa mídia prefere moderar sua indignação.


Se os grandes jornais estivessem efetivamente solidários já deveriam ter publicado há muito tempo os trechos do processo da Polícia Federal proibidos ao Estadão pelo TJ de Brasília. Este é um furo que faria bem a todos.