Todos os jornais de circulação nacional publicam, nas edições de sexta-feira (12/6), a comprovação científica daquilo que os ambientalistas vêm afirmando há décadas: a riqueza criada pelo desmatamento da Amazônia se esgota rapidamente, aumenta as desigualdades sociais e provoca o agravamento da miséria em menos de vinte anos.
O estudo, reproduzido da edição da revista americana Science que circula a partir dessa mesma sexta-feira, é resultado da análise feita por especialistas sobre os indicadores da qualidade de vida em 286 municípios localizados no território brasileiro da Amazônia.
A conclusão, em resumo: atividades econômicas produzidas com o desmatamento criam um curto ciclo de riqueza, mas para poucos, e que logo se esgota. De volta ao ponto zero, a população remanescente já não conta com os recursos naturais para escapar da miséria, que acaba se agravando.
Outro modelo
A publicação do estudo em todos os jornais de maior reputação pode influenciar na decisão a ser tomada pelo presidente da República com relação ao uso e ocupação da Amazônia. Sobretudo, estabelece argumentos científicos que permitem contestar o poderoso lobby da bancada ruralista no Congresso, e que até o presente momento vinha recebendo o apoio dissimulado da imprensa.
Estão em andamento processos legislativos que consolidam a continuidade do modelo de desenvolvimento sem sustentabilidade adotado até aqui para a região, como a controversa Medida Provisória da regularização fundiária, a tentativa de transferir a responsabilidade pela política ambiental para estados e municípios e a pretensão de reduzir a proporção de áreas naturais a serem preservadas nas propriedades agrícolas da Amazônia.
A ação dos parlamentares que representam os predadores do maior patrimônio biológico do planeta vinha sendo tratada como tema secundário pela imprensa. O estudo científico que a partir desta semana se coloca à disposição dos interessados expõe toda a irracionalidade dessa trama e impõe uma obrigação à inteligência nacional: é preciso mudar completamente o modelo econômico adotado para a Amazônia e em relação a todo o território nacional onde existam reservas a serem protegidas.
O futuro criado pelo desmatamento é a miséria.