Leia abaixo os textos de segunda-feira selecionados para a seção Entre Aspas. ************ O Globo
Segunda-feira, 30 de julho de 2007
RADIODIFUSÃO
Rádios comunitárias são loteadas por políticos
‘BRASÍLIA. A antena fica no alto da Torre de Oração, um edifício de cinco andares com janelas protegidas por vidro fumê. No térreo, um auditório de cinco mil assentos reúne os fiéis da Igreja Tabernáculo Evangélico de Jesus, que tem outros dois mil templos espalhados pelo Brasil e no exterior. Um andar acima fica o estúdio, decorado com adesivos de campanha do pastor evangélico e deputado distrital Rubens Brunelli (DEM). De lá, transmitem-se cultos e música gospel aos fiéis da cidade-satélite de Taguatinga.
No ar há quatro anos, a emissora Casa da Bênção é um retrato do loteamento das rádios comunitárias entre políticos e entidades religiosas. Abertas para democratizar o acesso de associações de moradores e ONGs à comunicação, as ondas curtas se tornaram território livre para a ação de prefeitos, vereadores e deputados em todo o país. Levantamento inédito do Instituto Projor, ligado ao site Observatório da Imprensa, mostra que 50,2% das concessões outorgadas de 1999 a 2004 pertencem a entidades – muitas vezes de fachada – controladas por políticos. Coordenador do estudo, o pesquisador Venício Lima, da Universidade de Brasília (UnB), batizou o fenômeno de neocoronelismo eletrônico, uma nova face da histórica partilha de concessões comerciais de rádio e TV entre parlamentares.
– As licenças para o funcionamento de emissoras comunitárias se tornaram moeda de barganha política. Mesmo quando o pedido surge numa associação independente, o vínculo partidário passa a ser uma necessidade para se conseguir a autorização legal – explica Lima.
De 20 mil emissoras, cerca de 2,7 mil são autorizadas
No terreno pantanoso das rádios comunitárias, a clandestinidade ainda é regra após nove anos de regulamentação por lei federal. Das cerca de 20 mil emissoras que funcionam no país, pouco mais de 2.700 têm autorização da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) para funcionar. A dificuldade para se obter a licença caminha ao lado da rejeição de entidades do setor ao conceito de rádio pirata, usado pela Polícia Federal nas operações que lacram equipamentos de som e podem condenar os programadores a até três anos de prisão.
A burocracia criou atalhos para a intervenção dos políticos, explica Venício Lima. Para conquistar a outorga, os interessados têm que reunir uma pilha de documentos e percorrer um labirinto que começa no Ministério das Comunicações, passa pelo Palácio do Planalto e atravessa diversas comissões na Câmara e no Senado até chegar ao Diário Oficial. Em 2002, o fim das delegacias regionais do ministério transferiu para Brasília o início do processo, que acontecia nas regiões de origem das rádios. Em estados como Tocantins, a hegemonia dos políticos já chega a 85,7% das licenças.
– O trâmite é viciado desde o início. Se a associação não tiver um padrinho político, é muito difícil que consiga chegar até o fim – diz o pesquisador da UnB.
A tese é confirmada pela disparidade na duração dos pedidos. Alguns processos se arrastam desde 1998, enquanto outros recebem o último carimbo em menos de dois anos. No governo Lula, a fila ganhou um novo guichê: a Secretaria de Relações Institucionais da Presidência da República, que encaminha cada reivindicação ao Congresso. Ninguém sabe explicar a diferença de velocidade nos ritos.
O estudo do Projor revela outra novidade: no lugar de deputados e senadores, que disputam as concessões comerciais de rádio e TV desde a ditadura militar, entraram em cena agentes de expressão local, como vereadores, prefeitos e dirigentes municipais de partidos. São esses políticos que controlam os pequenos redutos eleitorais. Nas cidades menores, a legislação que impede a abertura de duas emissoras comunitárias a menos de um quilômetro de distância torna-se um instrumento para o monopólio dos microfones.
Participação de rádios em receita publicitária é reduzida
A corrida às comunitárias também tem explicação financeira: nos últimos anos, a participação das rádios no bolo da receita publicitária da mídia foi reduzida a 4%. Com custos menores e menos encargos fiscais e trabalhistas, já que os funcionários só podem receber ‘ajuda de custo’, investir em emissoras comunitárias tornou-se um bom negócio.
– Quando perceberam que esse filão era interessante, políticos e igrejas desviaram rapidamente o foco dos pedidos de autorização. Hoje, mais de 70% dos novos processos dizem respeito a rádios comunitárias. Além disso, o dial comercial já está congestionado nas maiores cidades do país – diz o coordenador-geral do Fórum Nacional de Democratização (FNDC), Celso Schröder.
A equação monetária é menos atraente para quem não conta com fontes externas de renda. Os programadores independentes reclamam que a proibição de veicular anúncios mantém as emissoras comunitárias na penúria, à mercê da boa vontade de amigos e parentes para permanecer no ar. A lei prevê a figura do ‘apoio cultural’, mas não estabelece valores máximos para a venda de espaço publicitário.
Ligado ao vice-governador do Distrito Federal, Paulo Octávio (DEM), e candidato derrotado a deputado distrital no ano passado, o radialista Gervásio Oliveira, que comanda a Regional FM, na região administrativa do Cruzeiro, mantém um ‘departamento comercial’ com tabela de preços na internet. O site informa que ‘as grandes emissoras cobram muito caro’ e oferece spots de 30 segundos por R$18.
– Mesmo assim, não consigo pagar nem metade dos custos da rádio – queixa-se Oliveira, que diz completar o orçamento de R$7 mil mensais com outros veículos do seu pequeno grupo de comunicação, entre os quais um jornal quinzenal com tiragem de cinco mil exemplares.’
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O Estado de S. Paulo
Segunda-feira, 30 de julho de 2007
TELEVISÃO
TV fatura com o Pan
‘A audiência não foi lá essas coisas, mas em faturamento, a transmissão do Pan compensou para as emissoras abertas.
Globo, Record e Band faturaram juntas, somente com cotas de patrocínio, algo em torno de R$ 620 milhões, sendo, desses, R$ 400 milhões da Globo, R$120 milhões da Band e R$ 100 milhões da Record.
A Globo vendeu suas seis cotas de patrocínio do evento, a Band 5, e a Record, 4 cotas.
Segundo levantamento da Controle da Concorrência, empresa que monitora inserções comerciais para o mercado publicitário, a Globo, por incrível que pareça, foi a emissora que mais abriu espaço em sua programação para o Pan, com boletins, links e transmissões ao vivo das modalidades. Com isso, conseguiu um pequeno ganho de audiência, mas uma boa alavancada em seu faturamento com a venda de espaço em seus breaks.
Ainda segundo o levantamento, a Band, que faturou bem com patrocínios, conseguiu também com o Pan inflar sua média de audiência em 2 ou 3 pontos em alguns horários. Já a Record não teve grande ganho de audiência nem abriu tanto espaço quanto a concorrência para o evento.
entre-linhas
Anunciada pela Record como tecnologia trazida exclusivamente pela emissora da Suíça para os Jogos Pan-americanos do Rio, o dart fish, que congela o passo-a-passo dos atletas durante as competições, é recurso presente na Globo desde 2001.
Lágrimas à vista em Milagres do Amor, próxima novela das 6 da Globo. No elenco da trama, que estréia em agosto, estará a menina Bruna Marquezine.
Associação Brasileira de TV por Assinatura, a ABTA anuncia amanhã seus números mais recentes e o menu de seu encontro anual, que será de 7 a 9 de agosto, no ITM Expo, em Sampa.
Jô Soares volta a gravar hoje, após breves férias, e diversos medalhistas do Pan devem passar pelo programa esta semana.
O canal VH1 estréia amanhã, às 23 horas, o reality show Papai Hogan Sabe Tudo, com o campeão de luta livre Hulk Hogan numa versão lar, doce lar.
Fani e Rodrigo Faro gravaram participação no Casseta & Planeta Urgente, ainda sem data para ir ao ar. A dupla é perseguida pelo rei dos paparazzi, vivido por Reinaldo.
Ivete Sangalo está por toda parte. Amanhã, a cantora conversa com Luciano Amaral no Fala + Joga, da Play TV, às 21h30.
A Universal anuncia para 29 de agosto o lançamento do box com a 1ª temporada de Heroes. Além dos 23 episódios, a caixa traz extras com making of, cenas inéditas, dublês e perfis.’
INTERNET
Todos os livros do mundo
‘Ler um livro na Open Library é um prazer. Ela não é o único desses projetos que pretende digitalizar todos os livros do mundo – o Google tem um; a Amazon, outro – mas é o mais interessante, por muitos motivos.
O primeiro, qualquer bibliófilo vai compreender. Pegue-se As Aventuras de Tom Sawyer, na primeira edição, de 1876. Outras bibliotecas digitais oferecem o texto do clássico de Mark Twain, que poderá ser lido, consultado, buscado, impresso, seja lá o que quiser o leitor.
A Open Library oferece a imagem do livro. De cada página. Na tela, é um livro aberto. Clica-se na página da direita, viramos a folha à frente. Na da esquerda, vamos às anteriores. Sim, pode-se buscar palavras-chaves, nessas imagens. Mas, se a textura do papel poroso do século 19 não está lá, ao menos vemos o tom amarelado e as manchas quase marrons, as letras às vezes tortas da composição em tipografia. Só não tem buraco de bicho. É quase como sentir o livro.
Nesse caso, o texto é de domínio público. Como resultado, a Open Library oferece para quem desejar um arquivo PDF para download com todas as imagens do Tom Sawyer – dessa edição e de outras. Quem preferir, poderá comprar uma edição fac-similar, impressa sob demanda, com capa dura e tudo. Sai por algo como US$ 12 (cerca de R$ 23) mais a taxa de entrega.
O objetivo dessa biblioteca aberta é ter todos os livros do mundo de uma forma ou de outra. Não é pouco: trata-se de 32 milhões de títulos, desde que o homem começou a escrever. Desses, 10% estão no catálogo de editoras em países diferentes. O resto, ou está fora de catálogo ou já é domínio público.
E muita coisa se perdeu, queimada em fogueiras de vaidades ao longo da história, apodrecida em bibliotecas seculares, naufragada em navios pelos tempos ou, simplesmente, perdida em prateleiras que existem, só esperando a descoberta.
De alguns filósofos pré-socráticos, sabe-se que eles escreveram, mas só de orelhada, de segunda mão. De vários cientistas da Antiguidade, sabemos que publicaram tratados e descobriram coisas que só redescobriríamos na Renascença. Perdeu-se tudo.
Mais um motivo para a Open Library ser fascinante. Ela é uma wiki – o modelo é similar ao da Wikipédia. Isso quer dizer que gente cadastrada pode entrar lá e publicar entradas para livros distintos. Uns encaminharão as imagens de cada página. Outros, publicarão resenhas. As peças de Shakespeare poderão ser acompanhadas de textos que ajudem o leitor a compreendê-las. Links cruzados relacionarão as obras de Freud às de todos que o sucederam.
Cada livro terá uma ficha com tanta informação quanto houver. Isso quer dizer que mesmo aqueles livros que não existem mais e sobre os quais sabemos tanto, estarão de alguma forma presentes.
Livros com direitos autorais conhecidos e edições na praça poderão ser comprados com um clique do mouse, em livrarias virtuais. Outro link informará a respeito das bibliotecas que os têm para consulta ou mesmo empréstimo.
O projeto exige uma quantidade estarrecedora de espaço em disco e banda de sobra para envio de muitas imagens simultaneamente. Talvez por isso, e pela ambição, quem o está bancando é a trupe do Archive.org, capitaneada por Aaron Swartz. Eles já fazem uma coisa parecida com a internet: arquivam uma cópia da rede, sempre atualizada. Lá, navegamos por uma internet passada, congelada no tempo. Basta digitar o endereço de um site e clicar numa data até de dez anos atrás. Vale a visita.
Agora, cá estará o equivalente livreiro em OpenLibrary.org.’
Gustavo Miller
‘Winning Eleven’ com jeitinho brasileiro
‘Jornalista de tecnologia que se preza precisa fazer, de vez em quando, uma visitinha à Santa Ifigênia, rua de São Paulo que reúne grande número de lojas especializadas. Sabe como é, ficar por dentro das novidades, bater um papo com os vendedores. Da última vez que esse repórter esteve por lá, algo curioso aconteceu: em quase todas as lojas que vendiam games ‘alternativos’ haviam TVs passando jogos de futebol.
Era São Paulo contra Palmeiras de um lado; Flamengo e Vasco, do outro. Todas os televisores estavam sintonizadas na Band Sports, e Éder Luiz narrava os confrontos.
Mas peraí: não existe jogo de futebol nas tardes de terça-feira, e como Éder, que na verdade é da TV Record, podia narrar vários jogos ao mesmo tempo? Com a resposta, um dos vendedores.
‘É o último game feito pelo Brazukas, desta vez eles se superaram. Vai levar?’ Levei (Ei! Não confundam pirataria com curiosidade jornalística, por favor).
O game era realmente impressionante. Os 20 clubes brasileiros da série A estavam lá, com uniformes iguaizinhos aos da vida real e as torcidas gritando os mesmos hinos que ouvimos nos estádios . E o que dizer dos jogadores? Parecidíssimos, seja na aparência ou no jeito de chutar uma bola ou dar um drible.
‘O jogo oficial não tem graça de jogar’, diz Erivan José, de 32 anos, o DivX. Ele é o chefão do Brazukas Team, um grupo de internautas que cria, por pura paixão ao videogame e ao futebol, ‘patchs’ para o jogo Winning Eleven.
Patchs são modificações, espécies de remendos de jogos originais. No caso do WE, o patch do Brazukas inclui clubes brasileiros, o que não há na versão original do jogo.
DivX cria patchs do game desde o começo do século. Em 2002, ele criou o Brazukas após uma tentativa frustrada de reunir os grupos de edição Wenomine e W11. Daí, ao lado de José Bezerra (JBDF), de 26 anos, reuniu os melhores membros de cada equipe e criou o Brazukas.
Desde então foram lançados 12 patchs. Todos são lançados no fórum do grupo, onde o internauta deve baixar o arquivo e gravar em um disco. No site e no próprio jogo não faltam avisos para que o pessoal baixe o game gratuitamente e não o compre nos piratões.
‘Somos contra a pirataria. Quando um patch é lançado, a gente ensina a baixá-lo e depois a gravar no CD’, diz DivX. ‘Mas eu sei que tem muita gente que age com má fé. 30, 40 % dos usuários do fórum são lojistas que vendem o jogo depois’, diz.
Cada patch para PlayStation 2 ou PC demora cerca de dois meses para ficar pronto. Nesse ano eles prometem uma versão para Xbox 360.
DivX é o editor e cuida da montagem. Ele trabalha com um programa desenvolvido por programadores de outros países que serve justamente para editar o WE. Ele roda o game no micro e, com esse software, acessa todos os arquivos do jogo, separando-os um por um.
Cada parte fica aos cuidados de um membro da equipe. O curitibano Idelvan, de 19 anos, é designer e faz o fundo de tela do jogo. O campineiro Edvaldo, de 28 anos, cuida da narração. Para a versão Brazilian Champions League, que o repórter jogou, ele gravou vários jogos com a participação do narrador Éder Luiz.
Seu trabalho é dureza, pois precisa limpar o áudio e saber inseri-lo em certos momentos do jogo. Exemplo: se o goleiro defende uma bola e a joga para o escanteio, Edvaldo precisa inserir uma fala do locutor que reproduza fielmente essa ação. ‘Ao todo são 3.500 falas e costumo levar um mês para terminar minha parte’, diz ele, que considera Galvão Bueno como o pior narrador para se trabalhar. ‘Ele é repetitivo demais’, ri.
Os adolescentes paulistanos Rafael e Felipe colocam a face dos jogadores. Eles recortam os rostos dos atletas, em jornais, revistas ou sites, editam as imagens com Photoshop e as aplicam no jogo. Já o carioca Rômulo Costa, de 19 anos, cuida da base de dados: a qualificação dos jogadores, atribuindo valores para suas habilidades. Sua tarefa é a que mais provoca chiadeira. ‘Tem sempre alguém que diz que eu favoreci tal jogador ou piorei tal time’, ri.
Há ainda responsáveis por disponibilizar os arquivos na web e mexer nos uniformes.
INTERNAUTAS ATIVOS
O trabalho do Brazukas é bem avaliado e faz sucesso na web porque o nível de qualidade é similar ao original. E eles são detalhistas ao extremo… ‘Se o Palmeiras lançou uma camisa nova, quero jogar com ela no dia seguinte. Se meu time contratou um jogador novo, quero contar com ele amanhã’, diz DivX.
Outro detalhe legal é que pessoas fora do grupo também participam da criação. Rômulo, de 14 anos, é o moderador da comunidade da equipe no Orkut, espaço que reúne pitacos que vão desde sugestões de músicas a erros nas versões anteriores.
Os internautas também fazem as capas dos jogos e contribuem com algo muito importante: os gritos das torcidas.
Apesar do Brazukas ser um grupo com 12 pessoas, não há ninguém da equipe que more em Recife (PE) para gravar o áudio da torcida do Sport, por exemplo. Quando eles não conseguem uma gravação com as torcidas uniformizadas, o jeito é pedir para que algum torcedor faça o serviço, o que sempre acontece.
Eles dizem ter toda essa dedicação porque sabem que o jogo original dificilmente incluirá os clubes brasileiros. ‘O foco da Konami (que produz o game) é a Europa’, diz DivX. Ele também não entra na onda quando alguém diz que o grupo deveria ser contratado pela Konami. ‘Eles têm os melhores editores. O que a gente faz é bolar um jeito de melhorar o jogo para o torcedor brasileiro’, continua.
JBDF concorda, e resume o espírito do grupo. ‘O mercado de games esquece nosso País. Nosso trabalho é uma forma que encontramos, com o nosso jeitinho brasileiro, de driblar esse esquecimento. Não há nada melhor do que poder jogar o melhor simulador de futebol do mundo com o seu time do coração’, completa.’
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Folha de S. Paulo
Segunda-feira, 30 de julho de 2007
MÍDIA & POLÍTICA
Um charuto é apenas um charuto
‘RIO DE JANEIRO – Eça de Queiroz escreveu um conhecido moto dos fumantes ao definir que pensar e fumar consistem em atirar pequenas nuvens ao vento. A foto da diretora da Anac Denise Abreu fumando um charuto, registro feito na festa de casamento da filha de um outro diretor da entidade em Salvador, causa um vendaval de críticas na internet como símbolo de descaso e prepotência das autoridades aéreas brasileiras.
Há momentos em que um charuto fala por aquele que o desfruta. Por exemplo, o que Denise Abreu fumava no casamento era um da marca Dona Flor, segundo atestou um cronista social de Salvador. Custa menos de R$ 15 e foi produzido no interior baiano pela empresa formada a partir da sociedade entre famílias brasileira e cubana, tendo esta deixado seu país natal com a assunção de Fidel Castro ao poder.
Apontada como indicação de José Dirceu, ex-asilado político em Cuba, Denise de Abreu sabia que, de alguma maneira, o charuto que escolhera era contra Fidel? Sim, porque produzido por uma família que se sentia protegida sob a ditadura de Fulgêncio Batista, mas não sob aquela que Fidel estabeleceria e foi então obrigada a emigrar.
A seguir José Dirceu, a diretora da Anac deveria ter escolhido um Cohiba, o charuto de Fidel, celebrizado como embaixador extraordinário da ilha, porque, de 1966 a 1982, só existiu para ser um presente do ditador cubano a seus diletos. Dirceu já foi presenteado; Lula também, mas, adepto das cigarrilhas, costumava repassá-los adiante.
Por caminhos tortos, as baforadas da diretora no charuto baiano poderiam até ser ato em favor da democracia ou mesmo da igualdade entre homens e mulheres. Mas, na maior parte das vezes, um charuto é apenas um charuto e só produz tempos nebulosos a quem deve buscar um céu de brigadeiro.’
TODA MÍDIA
‘Raça não existe’
‘O Pan fechou no sábado sem chance de passar Cuba. E o ‘Jornal Nacional’ festejou então um Brasil em que ‘raça não existe’. Ouviu Sérgio Danilo Pena, que aprontou o festejado estudo que ‘provou’ que, no sarcasmo de Tutty Vasques, ‘somos todos brancos’ -o mesmo estudo questionado por Luiz Felipe de Alencastro, sem resposta. Entre outras passagens do ‘JN’, ‘fisicamente eles’, brasileiros, ‘têm aparência muito diferente’, ‘mais cores’, mas, ‘fundidos como medalhas, são mais que o amontoado de diferenças’. E ‘assim se faz o brasileiro, juntando fôlegos’.
Domingo, nas últimas, o Terra destacou na home que, ‘sem motivo aparente, muitos espectadores na Arena Olímpica participaram de coro com diferentes gritos ofensivos a Galvão Bueno’, que foi hostilizado até ter a ‘segurança reforçada’ pela Força Nacional.
MEDALHA, MEDALHA
Ontem na manchete do site do ‘Granma’, ‘Cumprido o compromisso com a pátria’, mais o sobretítulo ‘Cuba, segundo lugar em nações’. Antes, no ‘Granma’ de papel, a quarta ‘reflexão’ de Fidel Castro sobre o Pan atacou ‘a repugnante compra e venda’ que tirou dois boxeadores num novo ‘roubo de talentos, o pior problema dos países pobres’. O texto fecha com menção ao ‘golpe baixo’ e o registro de que, ‘apesar de tudo’, Cuba obteve as medalhas para cumprir o tal ‘compromisso’.
Enquanto isso, o ‘Fantástico’ insinuava que a delegação cubana viajou antes da hora para evitar novas defecções.
POR HIPÓTESE
Na primeira manchete do ‘JN’ de sexta, ‘Gravações das caixas-pretas do Airbus voltam ao Brasil’. Na última do ‘JN’ de sábado, após seis enunciados sobre esporte, ‘Veja também as imagens do massacre na escola de Beslan, há três anos, e as investigações do desastre com o Airbus’. Por ‘investigações’, entenda-se ‘mais uma hipótese’, como a Globo qualificou a reportagem da revista ‘Veja’ apontando, a partir da caixa-preta, falha do piloto.
Já na primeira manchete do ‘Jornal da Record’, ‘Caixa-preta: revista diz que erro do piloto causou acidente’.
DO PILOTO
Em título no blog de Josias de Souza, ‘Erro do piloto desencadeou a tragédia, informa ‘Veja’. Na AFP e outras, ‘Reportagem: erro do piloto culpado por acidente’. No ‘El País’, ‘Erro humano provocou tragédia aérea’.
NO LOCAL
Ontem no fim da tarde, nos sites de busca de notícias e de jornais, o destaque já era que ‘Milhares protestam no local do acidente, atacam governo’. Era um despacho da Reuters.
Por aqui, o tom foi bastante diverso, em sites e televisão.
‘BARDOT’S’
Em meio à crise imobiliária nos EUA, o ‘RealState Journal’, do ‘WSJ’, destacou casa à venda na ‘Búzios de Bardot’, a atriz francesa que ‘pôs a península no mapa’
‘VITÓRIA’ 1
No ‘WSJ’, a ‘vitória’ dos democratas na Câmara, ao aprovar projeto que mantém proteção aos fazendeiros americanos. No texto, o aviso de que no mesmo momento o Brasil vencia ação comercial contra subsídios ao algodão.
‘VITÓRIA’ 2
Já o ‘Financial Times’ deu destaque à ‘vitória’ do Brasil, mas também relacionando as duas e dizendo que a decisão ‘sublinha os avisos de que o projeto’ aprovado na Câmara americana ‘ameaça detonar onda de disputas comerciais’.’
INTERNET
Ataque à blogosfera
‘George Orwell não entendeu o futuro. Em seu clássico ‘1984’, o escritor temia pelo desaparecimento do direito à expressão individual, mas, no atual mundo da internet, o verdadeiro horror é justamente o oposto: a abundância de autores e de opiniões.
O raciocínio é do historiador britânico Andrew Keen, 46, ex-professor das universidades de Massachusetts e Berkeley (EUA) e um dos pioneiros do Vale do Silício, que na primeira onda da internet fundou o site de música Audiocafe.com.
Keen tornou-se um dos líderes da crítica à internet graças a seu livro ‘The Cult of the Amateur: How Today’s Internet Is Killing Our Culture’ (o culto ao amador: como a internet de hoje está matando nossa cultura), recém-lançado no exterior e ainda sem edição no Brasil.
Sua cruzada não é contra a tecnologia em si, mas contra a revolução da segunda geração da internet, a web 2.0, baseada na interatividade e no conteúdo gerado pelos usuários, cujos marcos são os blogs e sites como o YouTube e a Wikipedia -que, segundo Keen, estão gerando ‘menos cultura, menos notícias confiáveis e um caos de informações inúteis’.
Graças ao livro, Keen tornou-se uma espécie de anticristo entre os blogueiros, sendo chamado desde ‘prostituta das grandes corporações’ até ‘um mastodonte rosnando contra os ventos da mudança’.
Em entrevista à Folha por telefone, ele explicou suas idéias e por que, mesmo com toda sua crítica, tem um blog.
FOLHA – O sr. fala em ‘darwinismo digital’ para descrever o funcionamento dos blogs.
ANDREW KEEN – Sim, é a sobrevivência do mais adaptado, o que, no caso dos blogs, significa os que escrevem mais. A blogosfera é muito competitiva e masculina, é um jogo em que, para você ganhar, alguém tem que perder. Não é lugar para conversas ponderadas.
FOLHA – O sr. também vê um resquício da cultura hippie na web 2.0?
KEEN – Há um legado hippie na filosofia libertária da blogosfera, no desprezo à autoridade, à mídia tradicional. Acho que a autoridade do Estado, da mídia, são coisas que devemos prezar, porque têm valores significantes que, se minados, criariam a anarquia. A rejeição da autoridade vista nos blogs não é progressista, é anarquista.
FOLHA – Mas o sr. é contra experiências como o Creative Commons [sistema de licenciamento de obras artísticas pela internet]?
KEEN – Acho que é um movimento que inclui moderados e radicais. Eu o respeito, mas temo que ele esteja desvalorizando a credibilidade da propriedade intelectual. Acho que a idéia funciona quando você é um sofisticado professor de direito como Larry Lessig [criador do Creative Commons], mas me preocupa que as pessoas se apóiem em um conceito como o que ele criou para roubar idéias alheias, me inquieta essa permissividade geral em relação aos direitos autorais, em especial entre os jovens.
FOLHA – É isso que causa o que o sr. chama de ‘assalto à economia’?
KEEN – Talvez eu tenha estabelecido, no livro, muita causalidade entre a ascensão da nova mídia e o declínio da tradicional. As novas mídias são uma das causas do declínio, mas a indústria de música, os estúdios de Hollywood, os grandes jornais e TVs têm outros problemas. Dito isso, acho que deveríamos prezar pela existência de mídia tradicional.
FOLHA – Mas não é apenas a falta de adaptação às novas tecnologias que prejudica a mídia tradicional?
KEEN – Não me oponho à tecnologia, entendo que ela sempre muda tudo e que temos que mudar com ela. Mas nem todo avanço tecnológico é bom e, em algumas circunstâncias, pode ser bom gerenciar ou conter as mudanças tecnológicas, se elas minam a sociedade. A Escola de Frankfurt se mostrou correta, emburrecemos nossa cultura e me preocupa que a internet continue fazendo isso, acabando com nossa vitalidade cívica e com a economia do entretenimento e da informação.
FOLHA – Por que a ‘democratização da internet’ é falaciosa?
KEEN – Porque há novos oligopólios anônimos na rede, nos jogos on-line, nos pequenos grupos de ativistas que editam a Wikipedia, nos poucos blogueiros que dominam a maior parte dos acessos entre os 70 milhões de blogs. Não vejo como a web 2.0 está democratizando a mídia, acho que acontece o oposto: a mídia tradicional fornece informação de qualidade acessível às massas e não acho que a segunda geração da web esteja reproduzindo isso.
FOLHA – O fato de o sr. ter um blog não é paradoxal?
KEEN – Tenho blog para vender o livro e construir minha marca. A internet é uma grande plataforma de marketing, mas é preciso ter algo por trás. Meu livro não defende que as pessoas não tenham blogs, apenas que não finjam que são substitutos da mídia tradicional ou representantes de fontes de informação confiáveis sobre o mundo. Como as pessoas saberiam da crise aérea brasileira, por exemplo, sem jornalistas profissionais? Iam ter de se basear em blogueiros, que podem ser representantes das companhias aéreas ou do governo?’
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‘Rival’ elogia variedade de idéias na web
‘Os antagonistas de Andrew Keen são numerosos, mas entre eles têm se destacado o pesquisador de Harvard David Weinberger, 57, autor do também recém-lançado livro ‘A Nova Desordem Digital’ -este já disponível no Brasil, pela editora Campus (280 págs., R$ 65).
A dupla tem discutido seus pontos de vistas antagônicos em diversos eventos de tecnologia e nas páginas de jornais como o ‘The Wall Street Journal’.
‘O fato de a informação estar se mudando para a internet é bom, porque a torna mais acessível e utilizável. Podemos encontrar relações entre idéias de modo muito mais fácil’, disse Weinberger à Folha.
Para horror de Keen, Weinberger vê vantagens no declínio das ‘velhas autoridades’, ‘porque elas não funcionam neste novo mundo, não conseguem se adaptar à gigantesca escala da informação na rede’.
Ambos concordam em um ponto: há muito lixo no gigantesco fluxo de informação on-line. Para Weinberger, no entanto, igualmente numerosas são as maneiras de localizar o que é valioso.
‘A solução para o problema do excesso de informação sempre foi mais informação, notícias falando de notícias’, argumenta.
‘Uma das coisas mais importantes na internet atual é o surgimento dos filtros sociais: em vez de acreditar apenas em especialistas, estamos confiando em nossos amigos e pessoas de gostos semelhantes para escolher o que pode ser de interesse.’’
QUADRINHOS
HQs incorporam o universo do rock’n’roll
‘Histórias em quadrinhos combinam com rock? Dois lançamentos trazem a mesma resposta (‘sim’), mas em ritmos diferentes: o nacional ‘Música para Antropomorfos’, de Fabio Zimbres, e ‘Red Rocket 7 – A Saga do Rock’, de Mike Allred, publicado originalmente nos Estados Unidos e que ganha agora sua versão brasileira.
‘Música para Antropomorfos’ é um projeto engenhoso que envolve a HQ homônima e o CD ‘Music for Anthropomorphics’. O quadrinista Fabio Zimbres e o quarteto goiano Mechanics trabalharam juntos em um projeto em que a música influenciasse os quadrinhos e vice-versa.
Assim, o Mechanics compôs as músicas que viriam a integrar seu próximo álbum. Elas foram enviadas ainda sem letras a Zimbres, que desenvolveu o conceito da história e dos personagens. O roteiro foi enviado à banda, que criou as letras e gravou a versão definitiva de suas músicas. Cada capítulo da HQ equivalendo a uma faixa do álbum.
E é assim que o projeto chega às mãos do leitor e ouvinte: um CD com letras em inglês e ritmo pesado e uma HQ experimental, com uma história crítica e experimental que se passa em uma cidade com problemas políticos e sociais chamada… San Paolo.
‘Red Rocket 7 – A Saga do Rock’ mostra a história de um roqueiro de sucesso que desaparece após quase ser assassinado. Uma jornalista investiga a vida do músico (o Red Rocket 7 do título) e descobre que sua história e a do rock se confundem. Ele estava lá quando Little Richard surgiu e já era amigo de Elvis antes de ele fazer sucesso. Tal qual Forrest Gump, ele teve contato com os principais nomes do rock: Beatles, Led Zeppelin etc.
Em paralelo, a investigação sobre seu sumiço leva a alienígenas e a um confronto entre civilizações extraterrestres.
O criativo Mike Allred é um artista de estilo próprio, esteja ele desenhando o Superman ou heróis mutantes. Em ‘Red Rocket’, é como se ele deixasse sua banda de lado e partisse para um belo projeto solo.
MÚSICA PARA ANTROPOMORFOS / MUSIC FOR ANTHROPOMORPHICS
Autor: Fabio Zimbres e Mechanics (Livros Voodoo e Monstro Discos)
Quanto: R$ 40 (206 págs. mais CD)
RED ROCKET 7 – A SAGA DO ROCK
Autor: Mike Allred (Devir)
Quanto: R$ 60 (216 págs.)’
TELEVISÃO
Rede TV! pode perder canal digital em SP
‘A Rede TV! corre o risco de ficar sem canal de TV digital em São Paulo e, conseqüentemente, em todo o país. A emissora perdeu o prazo, vencido dia 9, para entregar ao Ministério das Comunicações certidão negativa de débito no INSS (Instituto Nacional do Seguro Social).
A emissora não mostrou o documento porque não o possui. Deve ao INSS R$ 54,712 milhões, segundo a última lista da dívida ativa do instituto, divulgada em 31 de março. É o 244º maior devedor do INSS no país.
Sem a certidão, o governo não irá aprovar o projeto técnico para instalação da estação de TV digital em São Paulo. Em 9 de abril, o Ministério das Comunicações consignou à Rede TV! o canal 29, sob a condição de que a emissora apresentasse a certidão de débito em 60 dias.
Amanhã, o presidente da Rede TV!, Amilcare Dallevo Jr., tem agendado um encontro com o ministro Hélio Costa. Deverá pedir a prorrogação do prazo para apresentar a documentação. Assim, ganhará tempo para conseguir na Justiça uma liminar que obrigue o governo liberar seu canal digital. Mesmo que consiga, dificilmente a Rede TV! estreará as transmissões digitais com as demais TVs, em 2 de dezembro.
Procurada, a emissora afirmou apenas que ‘está cumprindo todos os prazos estabelecidos pelo Ministério das Comunicações’. A Rede TV! é a única emissora com pendências no processo de TV digital.
BERRANTE 1 A Band quer tornar a Festa do Peão de Boiadeiro de Barretos um ‘evento anual’ de sua grade, como faz há dez anos com o Carnaval de Salvador.
BERRANTE 2 A emissora está construindo um estúdio temporário em Barretos. Durante a festa, em agosto, fará entradas ao vivo em toda a sua programação, um boletim diário e dois especiais de uma hora cada _um sobre a história da festa e outro com o resumo dos shows.
NACIONAL A atriz Cléo Pires embarca hoje para Nova York. Vai gravar uma edição especial do ‘Cineview’, programa que apresenta no Telecine, sobre o quinto festival do cinema brasileiro em Nova York, que acontece de 5 a 12 de agosto.
ALUGA-SE A TV pública que o governo federal corre para lançar em dezembro procura estúdio para alugar em São Paulo. A emissora pretende gravar e gerar alguns programas na cidade. Sua sede será em Brasília ou no Rio.
RESERVA 1 Hélio Costa (Comunicações) enviou ao colega Franklin Martins (Comunicação Social, responsável pela TV pública) um ofício garantindo à futura emissora os canais 68 e 69 de São Paulo. O primeiro será analógico e o segundo, digital.
RESERVA 2 Costa avisou a Martins que esses canais ainda não existem, pois precisam ser oficialmente ‘criados’ pela Anatel. O Ministério das Comunicações, no entanto, poderá consigná-los em caráter experimental.’
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