A vitória do governador José Serra e do PSDB sobre o sindicalismo do magistério paulista acabou de acontecer. E, desta vez, não foi a vitória do governador sobre uma greve. Foi uma vitória de mestre, de dar palmadas nas nádegas dos sindicalistas. A Apeoesp vai demorar na recuperação desta surra política (ver aqui).
A imprensa noticiou o fato como simples intransigência sindical. Mas a questão é de luta política. Este é o foco. E é neste foco que quem perde é a educação.
O que ocorreu foi o seguinte. O sindicato não concordou com a avaliação do governo do estado de São Paulo para contratar novos professores temporários. Entrou na Justiça e derrubou a validade do exame feito. Com isso, tornou viável uma barbárie: 1.500 professores que tiraram zero (sim, eu disse zero!) no exame do governo continuam agora na rede, ensinando (!), enquanto outros professores que foram muito bem no exame não podem ser contratados.
É claro que o sindicalismo se defende dizendo que o exame do governo foi uma ‘provinha’. Também está correto em dizer que o governo prefere contratar temporários, e não faz concursos para realmente ‘resolver o problema’. E os sindicatos estão mais que corretos ao baterem na tecla de que o governo do estado quer antes economia na educação que racionalização. A maneira como o grupo de Serra lida com a educação é tecnocrática; as medidas são sempre no sentido de antes conter despesas do que investir no ensino de forma correta. Tudo isso é verdade. Todavia, do ponto de vista político e, enfim, com alguma dose de acerto, o governo Serra conseguiu mostrar para a sociedade que o sindicalismo é antes meramente corporativo que eficazmente envolvido com a educação.
Sorte também conta
O sindicato deveria ter ido por outro caminho. A estrada que pegou mostrou que há pouca criatividade e que a defesa cega de interesses ilegítimos, mesmo quando justificada por uma série de bem intencionadas ‘outras medidas’ requisitadas, não ajuda muito. Então, agora, Serra e sua escudeira educacional, Maria Helena de Castro, estão rindo à toa em jantares comemorativos. Eles queriam quebrar a espinha dorsal (moral) da Apeoesp e tentaram por vários meios. Não conseguiram. Eis que a própria Apeoesp, num sinal típico da burrice que caracteriza os setores sindicais brasileiros, deu ela própria um tiro no peito.
Parece que a Apeoesp é simpática ao PT. E se é assim, então não dá para estranhar a atitude. Pois o PT é isso: quando está acertando, ele mesmo se arrebenta sozinho. Foi assim no ‘mensalão’. Lula tinha moral para transformar o país, mas resolveu se lambuzar em corrupção e perdeu tudo que tinha. Hoje é apenas ‘um igual aos outros’ – como bem disse FHC. Só não perdeu o mandato porque o PSDB e o DEM são incapazes de fazer oposição: são partidos governistas desde o tempo de Cabral (o Pedro Álvares). A Apeoesp sofre dessa síndrome petista. Incapaz de ser derrotada por um governo que vem agindo de modo pouco alvissareiro no campo educacional, ela resolveu dar uma chance a Serra. Então, passou a defender o ‘professor nota zero’. E a teimosia é tamanha que isso não vai parar. Talvez continuem nesse tipo de atitude, dando a cada dia chances para Serra implementar a política do que venho chamando de PTE (partido tecnocrático em educação).
Daqui em diante, Serra e Maria Helena vão ter razão de rir à toa. Podem não merecer ficar felizes pelo modo como agem com a educação, mas pelo modo como são premiados politicamente, eles dois merecem sorrir. Na política, sorte também conta – e como! E o adversário burro é o maior elemento de sorte que um governo pode ter.
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Filósofo, São Paulo, SP