Tuesday, 03 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1316

O país e seus políticos

O título da ‘Carta ao Leitor’ da edição nº 2119 da revista Veja (de 1/7/2009) anuncia com pompa: ‘Um país melhor que seus políticos’. E mostra que, apesar de a vida pública viver em permanente crise – que passou sucessivamente do Executivo para a Câmara dos Deputados e agora para o Senado –, o resto do país estaria dando lições ao mundo ‘de resiliência, coragem, inventividade, organização, disciplina e arrojo’. Alguns desses exemplos: Obama já louvou o papel civilizatório do Brasil em relação aos seus vizinhos e a condução impecável da política econômica dentro de nossas fronteiras; o sistema brasileiro foi lembrado como exemplo a ser imitado quando presidentes de bancos centrais dos principais países do mundo discutiam na Basiléia como regular os mercados financeiros; em todos os fóruns ambientais globais a vanguarda brasileira no domínio dos combustíveis limpos é reconhecida e invejada.

‘Nesse contexto’, diz a revista, ‘a política clientelista e coronelista de Brasília é um contrassenso em termos, herança de atraso e privilégios que já foi superada em outros campos da vida nacional.’ Crassa ignorância: no Brasil, votam todos os cidadãos com mais de 16 anos: homens, mulheres, negros, brancos, descendentes de imigrantes de dezenas de nacionalidades, doutores e analfabetos. De eleições assim amplas emerge, inevitavelmente, um retrato perfeito do que é o país e, por tabela, sua população.

Moralidade não dá voto

O Parlamento, tal como o temos hoje, começou a nascer na Inglaterra, ainda no século 18, quando plebeus ricos proprietários de terras e incipientes estabelecimentos industriais ou comerciais começaram a lutar para ter seus interesses representados e defendidos junto ao governo. Até ali isso era privilégio dos nobres. Pouco mais tarde, as revoluções americana e francesa pintaram com cores mais nobres essa realidade, mas não há porque duvidar: nos Parlamentos, defendem-se interesses de categorias sociais e negocia-se a melhor maneira de harmonizá-los.

Se, como podemos constatar diariamente, a pestilenta rotina parlamentar decorre sem a mais leve preocupação com a moralidade pública é porque moralidade pública não é interesse de nenhuma categoria social no Brasil. Trocando por uma linguagem mais rasteira e inteligível: moralidade não dá voto a ninguém. E para que não se duvide, um exemplo: o longo domínio da família Sarney no governo do Maranhão foi interrompido nas eleições passadas por um candidato que, para vencer, precisou lançar mão dos mesmos métodos utilizados pelo adversário ao longo de muitas décadas. E por isso teve o mandato cassado pela Justiça, que devolveu o poder aos seus legítimos donos.

******

Chefe do Núcleo de Redação, Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, São Paulo, SP