Patrícia Arriaga responde pela programação infantil do Canal ONCE do México. Em entrevista ao site da 4ª CMMCA, ela afirma que a América Latina tem uma dívida para saldar com suas crianças e adolescentes. ‘O público aprecia e procura produções locais. Gosta de se ver e reconhecer na mídia. No entanto, ao contrário da programação voltada para os adultos, 90% da programação infantil que é transmitida pelos países da América Latina são de origem estrangeira’.
Isto não quer dizer que os produtos estrangeiros não tenham qualidade, afirma Patricia. Pelo contrário. Na sua opinião, um programa de qualidade é aquele que tem excelência em quatro áreas: conteúdo, história ou roteiro, produção e apresentação do ponto de vista das crianças.
‘O problema é que acham que qualquer pessoa pode produzir programas para crianças. Acreditam que elas se entretêm com qualquer coisa e que os orçamentos não precisam ser altos. É preciso lutar contra isso’, resume Patrícia, uma das presenças confirmadas na 4ª CMMCA. Patrícia participará da sessão plenária do dia 21 de abril (América Latina: mercado, audiência e valores em um mundo globalizado).
O Canal Once tem uma programação específica voltada para crianças e adolescentes. Qual é a receita de uma produção de qualidade?
Patricia Arriaga
– Na televisão mexicana, onde praticamente não existem produções nacionais para crianças e as que existem trazem adultos vestidos de crianças, a receita é simples: dar voz e espaço às crianças. O êxito das produções do Canal Once reside na apresentação das crianças mexicanas na televisão tal como elas são. As produções escutam as crianças, desenvolvem conteúdos a partir de suas inquietudes e apresentam sempre o ponto de vista delas.Como vocês definem qualidade?
P.A. – É difícil definir qualidade, já que se trata de algo intangível, além de subjetivo e circunstancial. Não podemos dizer que as séries norte-americanas não sejam de qualidade, pelo contrário, são de alta qualidade. Mas na mídia pública, cujos objetivos não lhe permitem ver os telespectadores apenas como consumidores, os padrões de qualidade são muito mais amplos. No Once Niños, falamos de qualidade quando há excelência em quatro áreas: conteúdo, história ou roteiro, produção e apresentação do ponto de vista das crianças.
Como assegurar a qualidade da produção da mídia para crianças e adolescentes?
P.A. – Acredita-se no México que qualquer um pode realizar produções para crianças, porque elas se entretêm com qualquer coisa e porque os orçamentos destas produções podem ser do tamanho do seu público-alvo. É preciso lutar contra isso, primeiro procurando orçamentos adequados e, depois, contratando profissionais qualificados em todas as áreas que trabalham no processo de produção desta mídia – implementando um programa permanente de capacitação.
Qual é o desafio na produção de um programa infantil?
P.A. – As opções de entretenimento para o público infantil são muitas e boas. O desafio de qualquer produção reside em saber se situar num entorno cada vez mais competitivo e atraente para as crianças. Delas (crianças) depende a continuidade dos projetos e a obtenção de financiamento para produzi-los.
Como conciliar mercado, audiência e valores num mundo globalizado? Qual é o papel da América Latina neste cenário?
P.A. – Se o objetivo é fazer parte do mundo globalizado, é preciso procurar histórias e temas universais que a América Latina tem – tanto quanto qualquer outra região. Mas nem tudo é globalização. O público aprecia e procura produções locais. Gosta de se ver e de se reconhecer na mídia. Neste sentido, a América Latina tem uma dívida para com suas crianças e adolescentes pois, ao contrário da programação voltada para os adultos, 90% do que se transmite para o público infanto-juvenil é de origem estrangeira.
Qual é a importância da realização da 4ª CMMCA?
P.A. – É uma oportunidade única para refletir, debater e conhecer o estado do avanço da mídia para crianças e jovens no mundo. Para escutar diferentes vozes e abordagens sobre a função que deve cumprir esta mídia nas sociedades e nas vidas das crianças e jovens.