O artigo ‘Professores de castigo’, de Camila Guimarães (revista Época, 22/2/2010), faz um elogio ao secretário de Educação de Nova York, Joel Klein, por lutar a favor da qualidade de ensino, destacando, dentre suas iniciativas, a de enclausurar professores considerados incompetentes em salas com o sugestivo apelido de rubber rooms, em alusão a quartos de hospício com chão de borracha destinados a pacientes neurológicos graves.
As salas não têm livros, nem mapas, nem computadores, algumas não têm janelas, e ali os professores não podem acessar a internet ou falar ao celular. Foram utilizadas, inicialmente, para afastar docentes que demonstrassem comportamento agressivo contra os alunos (violência física, assédio sexual e moral). Desde 2002, porém, acolhem não só os professores maus, mas também os maus professores, aqueles que não atendem a certos padrões de eficácia.
Os professores têm, em princípio, estabilidade de emprego. Não podem ser demitidos pura e simplesmente. A saída, mais política do que educacional, enquanto se aguardam os trâmites de investigação, foi criar esse ‘limbo’, espécie de depósito de supostos marginais que, em quarentena, recebem seus vencimentos normalmente, conforme a charge abaixo.
A solução paulista
O artigo prossegue lembrando que no estado de São Paulo a Secretaria de Educação adota outras formas de agir. Premia os que julga serem bons professores. E pune os maus, não lhes concedendo bônus e outros incentivos. Com a possibilidade de uma inovação para lá de meritória! Após recente avaliação dos numerosos professores temporários da rede pública, mesmo os reprovados poderão ser reutilizados (ver, neste Observatório, ‘Professores, modos de usar‘). Não haverá nestas situações, afinal, conivência por parte do poder público?
Em ambos os casos, nova-iorquino e paulista, a questão pedagógica parece ficar em segundo plano. Lá, o objetivo é punir o professor com uma sala sem aula, kafkiana, e os salários em dia. Aqui, temos baixos salários, e muitas salas de aula em circunstâncias degradantes, fator decisivo para que os professores, melhores ou piores, enfrentem dificuldades objetivas para desempenhar seu trabalho com a qualidade esperada.
Quando há suspeita suficiente de que determinado professor seja psicologicamente desajustado, compreende-se que as crianças devam ser protegidas imediatamente. Já em relação ao desempenho didático, seria muito mais motivador que todos os docentes, sem discriminações, recebessem formação exigente e orientação profissional contínua, vinculadas a uma remuneração verdadeiramente à altura de sua tarefa.
******
Doutor em Educação pela USP e escritor; www.perisse.com.br