Não é por falta de diagnóstico que os desafios colocados para a educação deixam de ser enfrentados. A cobertura da educação em 75 jornais e quatro revistas semanais no período de 12 a 23 de abril traz resultados de novas pesquisas na área. Entre elas, a que obteve maior destaque foi aquela produzida pela Fundação Getúlio Vargas e patrocinada pelo movimento Todos Pela Educação, Fundação Educar DPaschoal e Instituto Unibanco, com foco na evasão escolar de jovens entre 15 e 17 anos.
A iniciativa foi divulgada pela imprensa em 16/4 e repercutiu até 22/4, gerando notícia em O Globo, Jornal da Tarde, Correio Braziliense, Tribuna do Brasil (DF), Zero Hora, A Gazeta (MT), Diário Catarinense, Folha e O Estado de S. Paulo, editoriais no Zero Hora, A Gazeta (MT), A Notícia (SC), Jornal do Comércio (PE), Folha de S Paulo e Diário Catarinense; e artigo de opinião na Folha S. Paulo.
Nas reportagens, de maneira geral, faltou repercutir os resultados entre pesquisadores do tema, e avançar na identificação de proposições: se os dados indicam falta de interesse, há informações sobre quais aspectos despertam interesse nos jovens, levando em conta a diversidade da juventude – sexo, pertencimento étnico-racial, perfil socioeconômico, região de moradia, etc.?
Entre os textos produzidos, destaca-se a matéria de Ana Paula Bortoloni, de A Gazeta (MT), em16/4, que buscou informações na secretaria estadual de educação do Mato Grosso sobre as ações da gestão pública destinadas à superação da evasão escolar no estado que, segundo a pesquisa, é o 8º maior índice do País.
Principais problemas
O Correio Braziliense (12/4) foi o único jornal a publicar os resultados de outra pesquisa, realizada pelo Ibope/Inteligência, por solicitação do movimento Todos pela Educação e a Confederação Nacional da Indústria (CNI), que buscava identificar a opinião ‘dos brasileiros’ sobre quais são os maiores problemas da educação pública no País. O texto é bastante informativo, mas faltaram outras perspectivas de análise dos resultados. Por exemplo, o fato de o papel das secretarias de educação figurar como o fator menos importante para a motivação dos professores mereceria reflexão. Também, suscitou curiosidade o que as pessoas ouvidas entendem por ‘violência na escola’, um dos principais problemas apontados.
Interessante notar que essas duas pesquisas foram estimuladas e patrocinadas por fundações empresariais, fato que pode ser um gancho para a elaboração de reportagens sobre a relação do setor privado com a educação pública, para além da terceirização dos serviços.
Violência na escola
A violência na escola é tema de pesquisa que o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) está realizando e os resultados preliminares foram divulgados em bela reportagem publicada pelo Diário Catarinense (13/4). Além de completa informação sobre a metodologia do estudo, a reportagem trouxe diferentes fontes para comentar os resultados e abordou as diversas formas de violência identificadas, destacadamente os apelidos depreciativos.
Sobre a cobertura do tema, que vem ganhando espaço na mídia, algumas observações. A primeira está relacionada ao risco de desqualificação da escola pública. É sempre bom lembrar que os fatos noticiados como atos de violência são particulares, e não generalizados em todas as escolas, independentemente de serem públicas ou privadas.
Também, é preciso qualificar o que vem sendo chamado de violência na escola e informar que não existem dados estatísticos que comprovem o aumento de situações de conflito no ambiente escolar. Isso, obviamente, não diminui a importância e complexidade do tema.
Outra dimensão pouco explorada é a relação dos conflitos que se transformam em atos de violência física entre estudantes com o número de funcionários nas escolas. Trata-se de identificar se as escolas contam com pessoas adultas, além dos professores, para intermediar as situações de tensão.
Dificuldade em matemática
Já O Dia (RJ), de 13/4, divulgou pesquisa inédita sobre a aprendizagem em português e em matemática no ensino fundamental, feita por seis universidades que acompanharam o desempenho de 20 mil estudantes de escolas públicas e privadas do Rio de Janeiro (RJ), Belo Horizonte (MG), Campinas (SP), Salvador (BA) e Campo Grande (MS). O texto estimula a busca por mais dados da pesquisa, e indica que a reportagem deveria ter continuidade, trazendo informações sobre as possíveis alternativas para superar o principal resultado encontrado: a dificuldade dos alunos do 3º ano (antiga 2ª série) em aprender matemática.
Mobilização e greve dos professores
O período também foi marcado por notícias de greves dos professores no Distrito Federal, Santa Catarina, Paraná e Paraíba, além de mobilizações dos docentes em Pernambuco e na rede municipal da capital paulista. Apenas em Pernambuco o movimento foi impulsionado pelo não cumprimento da lei do piso nacional – além de protesto contra os diários de classe, por não apresentarem espaço para anotações pedagógicas.
A partir de 24/4, como noticiado pela Gazeta Mercantil (22/4), a Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE) está liderando um movimento de greve em defesa da lei do piso (ver aqui). Importante que jornalistas, ao cobrirem as diferentes manifestações, atentem para a motivação da paralisação, sobretudo aquelas envolvendo as redes municipais de ensino e busquem identificar estados e municípios que não cumprem o valor indicativo para o piso. Da mesma forma, é preciso explicitar a condição orçamentária de municípios e estados e, caso comprovadamente não tenham recursos, elucidar o papel da União na complementação das verbas.
Outra importante informação a ser verificada é a remuneração dos docentes de escolas privadas, que não são reguladas pela lei do piso. Carta da professora Rejane de Almeida, publicada na Folha de Londrina em 9/4, e comentada pela dona de casa Denise Ueda Vaz Ronque em 14/4, informa que há estabelecimentos que pagam aos docentes o valor do salário mínimo (R$ 480), o que coloca em xeque a própria noção de piso salarial nacional para professores.
19 de abril
O ‘Dia do Índio’ não estimulou pautas sobre a educação escolar indígena ou a implementação da lei 11.645. A Secretaria de Estado da Educação de São Paulo forneceu um bom gancho para abordar o tema ao divulgar os resultados do Saresp, que colocou a Escola Estadual Djekupe Amba Arandy, localizada na tribo indígena Tekua Ytu, no Jaraguá (zona norte de SP), com a pior nota em matemática, conforme publicou o Agora, em 14/4.
Apesar das reportagens produzidas por este jornal para repercutir os resultados do exame paulista, a situação da educação escolar indígena poderia ter sido mais explorada. Por exemplo, seria importante ouvir pesquisadores sobre a pertinência de aplicar o exame às escolas indígenas, quando a legislação vigente assegura o direito à educação diferenciada para as nações indígenas.
******
Coordenadora do Observatório da Educação da Ação Educativa