O ombudsman do New York Times, Clark Hoyt, dedicou sua coluna de domingo [30/11/08] à cobertura da crise financeira das montadoras de veículos em Detroit, nos EUA. Em coluna publicada recentemente, Mitt Romney, ex-governador de Massachusetts, argumentou que, se Detroit ‘conseguir o que quer, você pode dar adeus à indústria automobilística americana’. Spencer Abraham, ex-senador de Michigan, escreveu que uma falência controlada pelo governo irá arruinar as montadoras. O jornal tomou seu lado sobre a situação, em editorial, declarando que a falha em oferecer ajuda ao setor seria ‘um ato totalmente irresponsável’.
As opiniões – fortes e diretas – estavam nas páginas editoriais. Mas jornalistas que cobrem a crise econômica têm seus próprios pontos de vista e não têm sido tímidos em inseri-los em colunas analíticas publicadas nas páginas noticiosas, aumentando o debate sobre uma cobertura influenciada por opiniões pessoais.
No dia 18/11, coluna assinada pelo jornalista Andrew Ross Sorkin, a favor de uma falência orientada pelo governo, afirmava que contribuintes não deveriam pagar um centavo para salvar a General Motors até que ‘acionistas tenham saldado as dívidas, a administração seja demitida e a indústria, reorganizada’. Seu colega Joe Nocera também escreveu, em coluna no dia 22/11, que a GM precisa de ‘um tapa duro da falência’ para forçar a mudança.
A coluna de Sorkin, em tom áspero, levou a uma discussão na redação. Craig Whitney, editor de padrão, consultou o editor-executivo Bill Keller – que considerou que a análise estava boa, mas ultrapassou o limite ao pedir a demissão de executivos da GM. O editor-executivo convocou uma reunião com editores e colunistas de economia para revisar as normas para colunas em páginas de notícias.
Linha tênue
Na opinião de Sorkin, sua coluna foi ‘impactante’. Ele recebeu respostas positivas de leitores e o texto foi lido por políticos em Washington. Sorkin alega que entende os diferentes papéis de um repórter e de um colunista. Para ele, entretanto, não houve conflito neste caso, pois ele não escrevia um artigo sobre o tema há mais de um mês.
Para Keller, Whitney e Larry Ingrassia, editor de economia, leitores desta seção querem mais que notícias sobre a economia; querem análises sobre assuntos que são naturalmente complexos. Editores reconhecem que o desequilíbrio entre notícias e opiniões representa um risco para a credibilidade do diário, mas alegam que peças analíticas para enriquecer a cobertura valem este risco.
Hoyt diz que não recebeu nenhuma queixa específica de parcialidade na seção de economia. A maior reclamação dos leitores, de maneira geral, é que o NYTimes é um jornal parcial. Em um mundo ideal, o ombudsman não colocaria repórteres escrevendo colunas sobre os mesmos temas que cobrem. Diante dos cortes de custos e enxugamento das redações, entretanto, torna-se difícil evitar que isso aconteça.