Os jornais paulistas finalmente assumiram em suas pautas o tema que vinha sendo levantado pelo Globo há mais de dez dias. O jornal carioca havia alertado, em várias reportagens, que muitas comunidades pobres do Rio estavam sendo fechadas por milicianos e traficantes a candidatos que não fossem de seu agrado.
O assunto é de extrema gravidade e revela que o crime organizado tenta consolidar seu avanço sobre as instituições políticas.
A recente prisão do deputado estadual fluminense Natalino Guimarães, cujos seguranças trocaram tiros com a polícia, expôs o grau de envolvimento de autoridades diretamente com os criminosos.
O vereador Jerominho Guimarães, do Rio, irmão do deputado, já estava preso por envolvimento em cinco mortes e pela tentativa de assassinato de um delegado da Interpol. Jerominho elegeu-se pelo PMDB e Natalino é deputado eleito pelo Partido Democratas.
Folha corrida
O episódio do fim de semana, durante o qual traficantes tentaram impedir o trabalho de jornalistas durante visita do candidato a prefeito Marcelo Crivella a um bairro da Zona Norte do Rio, finalmente uniu a imprensa em torno do problema.
Os jornais revelam que um assessor de Crivella, que é senador e dirigente da Igreja Universal do Reino de Deus, havia mantido entendimentos com os traficantes para evitar distúrbios durante a visita. Mas parece que os bandidos fugiram ao controle do senador.
Na segunda-feira (28/7), O Globo informa que o Tribunal Superior Eleitoral vai reunir uma força-tarefa para combater os criminosos em todas as favelas do Rio, garantindo o direito de acesso a todos os candidatos.
Mas a imprensa precisa cobrar dos partidos políticos que tomem a iniciativa de eliminar de seus quadros os criminosos ou seus asseclas que conseguiram uma legenda para disputar as eleições.
O tal Claudinho da Academia, apoiado por traficantes como único candidato a vereador pela favela da Rocinha, é filiado ao PSDC e responde, segundo o Globo, a nada menos do que 14 processos criminais.
Cenário semelhante
Mas não é apenas nas comunidades pobres que a política anda infiltrada pela ação de grupos que nada deveriam ter em comum com o ambiente parlamentar.
A Folha de S.Paulo revela que o deputado federal Alberto Fraga, do Partido Democratas, foi usado pelo grupo Opportunity em uma representação junto ao Tribunal de Contas da União.
Afinal, quando um banqueiro com a biografia de Daniel Dantas consegue que um parlamentar lhe empreste o nome para uma ação controversa envolvendo o interesse público, o cenário não é muito diferente do que o que se revela nas favelas cariocas.