Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

O recuo da igreja

O dia de ontem, 21 de julho de 2014, tem todas as condições para entrar em nossa história política. Avançamos institucionalmente, mas nada a ver com política partidária ou disputa eleitoral. Com 123 anos de existência, a nossa República era nominalmente secular, mas, na realidade, a separação entre Igreja e Estado era fictícia, como também é fictícia a ideia de que a atual Carta Magna é inspirada nos princípios laicos.

Ontem, segunda-feira, 21 de julho, começamos a desconstruir estas fantasias e a construir a etapa mais complicada e mais séria do sistema democrático: a garantia do direito fundamental de crer e descrer.

Quando a Arquidiocese e o Vicariato do Rio de Janeiro reconheceram de forma inequívoca que não têm o direito de cercear a liberdade de expressão e que o símbolo do Cristo Redentor – não obstante o seu valor devocional – é um bem da cidade, do país e da humanidade, nossa democracia começou a tornar-se adulta. A tolerância deixou de ser retórica, adjetiva, é agora concreta, substantiva.

Efeméride duplamente importante porque este avanço resultou da coragem cívica de um dos três jornalões nacionais, o diário O Globo, historicamente submisso às percepções, interesses e dogmas da igreja católica.

Quando se sabe que a Santa Inquisição impediu durante mais de três séculos que funcionassem tipografias e circulassem periódicos impressos em nosso território, é possível avaliar a importância, tanto do avanço proporcionado pelo Globo como do recuo assumido pela Cúria.

Tempos novos. De verdade.

 

 

A mídia na semana

>> Unanimidade no país das divergências. O escritor sofisticado que chegava ao leitor com a maior simplicidade. O poliglota que verteu para o inglês sua própria obra. Jornalista empolgado e intelectual refinado. O baiano mais carioca com a mais gostosa gargalhada do país – João Ubaldo Ribeiro não se foi, está aqui, para sempre.

>> Evaporou a hospitalidade? A receptividade aos visitantes está esquecida? Na hora em que deveríamos mostrar uma ausência de preconceitos, a escolha do novo chefe da Comissão Técnica da CBF segue os velhos padrões de exclusão. A primeira enquete popular sobre as características do novo técnico da seleção priorizou a questão da nacionalidade, deve ser brasileiro ou estrangeiro? O resto ficou em segundo plano. Se o presidente da CBF ainda chama os estrangeiros de “gringos” não se pode esperar outra atitude dos pesquisadores do Datafolha. E este presidente da CBF é o responsável pela era Dunga Dois. Em vez de 7a 1, o placar será de catorze a dois.

>> A Primeira Guerra Mundial começou com dois tiros de pistola. Agora é a vez dos mísseis. Só uma imprensa verdadeiramente pacifista pode acabar com esta loucura.