Monday, 23 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Os meus, os seus e os direitos dos outros

No dia 12 de março deste ano, o jornalista José de Souza Castro publicou no site do professor Fernando Massote o artigo ‘Coronelismo no Ministério Público Mineiro‘, com fortes acusações ao Ministério Público e a uma juíza federal.

No dia 23 de março de 2009, no mesmo site foi publicado um artigo meu, mesmo sem qualquer destaque, no espaço reservado aos comentários, com diversas ponderações, apontando, inclusive, erros de informação contidos no artigo do José de Castro.

O jornalista José de Castro me dedicou uma tréplica, também publicada no mesmo dia e no mesmo espaço, na qual até mesmo reconhecia que os erros de informação que eu apontei eram pertinentes. No entanto, eu escrevi e encaminhei ao site do professor Massote uma nova resposta, mas que, infelizmente, não foi publicada por ele. Artigo que, aliás, está publicado no site novaE, no campo de comentários do texto do jornalista José de Castro que pode ser acessado aqui. Ele não publicou porque não quis, talvez não o tenha achado relevante. Longe mim de afirmar que fui censurado pelo professor.

Democracia vale para os dois lados

Vejo agora neste novo texto do professor Massote, publicado no seu blog (‘Solidariedade ao jornalista José de Castro e em defesa da liberdade de imprensa‘) que o Ministério Público ou a juíza – não há uma informação precisa do autor – entraram com uma interpelação judicial, certamente movida pelas graves acusações e insinuações contidas no texto do jornalista.

E vejo, com assombro, que essa iniciativa é apontada por ele como uma ação contra a liberdade de imprensa. Não consigo entender assim a iniciativa e o que vejo, na verdade, é o caráter autoritário desse raciocínio. Ou será que agora, cursando o oitavo período do curso jurídico, tudo o que aprendi sobre Estado Democrático de Direito está errado?

Na minha opinião, o jornalista José de Castro tem o direito de fazer as críticas que quiser e quando quiser. Da mesma forma que quem se sentir caluniado por elas tem o mesmo direito de tomar as iniciativas que a lei democraticamente prevê. Essa é a verdadeira liberdade e tem que valer para os dois lados. Para garantir o direito da acusação, mas também para garantir o direito de quem se sentir caluniado. Os dois direitos têm o mesmo valor. Isso é democracia.

Não-publicação e censura

Relato a seguir dois exemplos de acusações de ‘censura’ à imprensa feitos pelos mesmos Cristina Moreno (filha do José de Castro) e Fernando Massote e que, no meu entender mostram que essas acusações são motivadas muito mais por questões pessoais do que pela própria realidade.

Há algum tempo, a jornalista publicou no Observatório da Imprensa um artigo em que acusa o Comunique-se e o Blog do Noblat de censurarem (ver aqui)

Já o professor Massote, em seu blog, trouxe recentemente uma ‘denúncia’ de censura praticada pelo jornal Estado de Minas: ‘O artigo (censurado) do prof. Delcio Salomon‘. A evidência da censura? O fato do jornal não ter publicado um artigo encaminhado por ele contra o massacre na Faixa de Gaza. É isso mesmo. Segundo o professor, o fato do jornal não ter publicado o artigo é a prova da ‘censura’. Então, caro professor, aquele comentário que enviei, que o senhor não postou, é censura? Eu penso que não.

Não vou mencionar o óbvio, que os veículos recebem diariamente dezenas de artigos, dentre os quais selecionam os poucos que vão ser publicados. Imagine se todos os autores de artigos não publicados (por razões que imagino vão desde a falta de espaço, pertinência do tema ou qualidade dos textos) se sentissem ‘censurados’. Quantos artigos a Folha de S.Paulo e o Globo não ‘censuram’ todos os dias? E o New York Times? Será que professor encaminhou o mesmo texto a outros veículos? Quantos publicaram?

Já disse que não tenho procuração para defender os jornalistas de Minas, mas não abro mão de dar a minha opinião sobre a questão.

O autoritarismo tem muitas faces

Neste caso, para quem não é de Minas, é preciso explicar que até pouco tempo atrás o professor Massote era assíduo colaborador do Estado de Minas. Durante esses anos nunca criticou o jornal. Há alguns anos o jornal entrou em uma fase de mudanças de colaboradores. O professor teve a sua colaboração interrompida, intelectuais respeitados como o jornalista Ângelo Oswaldo, atual prefeito de Ouro Preto, deixaram o jornal. Novos colunistas chegaram, como o também jornalista e escritor Maurício Lara, uma liderança histórica do Partido dos Trabalhadores e vinculado ao ministro do Desenvolvimento Social, Patrus Ananias.

Para todos que entraram e saíram do jornal é uma mudança interna, que alguns podem aceitar ou discordar. Para o professor Massote, a sua saída foi por ‘censura’ e ele iniciou a sua cruzada contra o jornal. Mas esse é outro assunto, para ser tratado em outro espaço.

Hoje, gostaria de tratar da reflexão em torno da conduta autoritária que, na minha opinião, envolve algumas posições. Ou seja: caso os editores e repórteres aceitem e concordem com tudo o que eu escrevo ou mando para que seja publicado, o jornal e os profissionais são isentos e éticos; os cidadãos que não questionam os meus argumentos são pessoas sérias. Mas aqueles que questionem os meus argumentos, que não concordem comigo, não comunguem das minhas teses e com minhas suspeitas e acusações, são censores, opressores e corruptos. Simples, não?

O autoritarismo, infelizmente, tem muitas faces. Precisamos ficar atentos a todas elas.

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Publicitário, graduando em Jornalismo pela Faculdade de Comunicação e Artes da PUC-Minas e bacharelando em Direito pela Faculdade Milton Campos, Belo Horizonte, MG