A velocidade e gravidade dos acontecimentos em Honduras vai obrigar a mídia brasileira a rever com urgência o seu distanciamento analítico dos últimos dias.
Agora é irrelevante discutir a qualificação de quem está no poder em Tegucigalpa – se é um governo golpista, interino ou de facto. Também não interessa, neste momento, procurar os erros e os culpados pelo lamentável desfecho e a inconfortável posição em que ficamos. Estamos sendo ameaçados por uma republiqueta de bananas contrariando todas as normas, tradições e convenções internacionais em tempos de paz.
Uma embaixada ou representação diplomática de um país é uma continuação do seu território, a quebra desta inviolabilidade por ações diretas ou indiretas é um ato de guerra. Assim foi em 1979 quando estudantes iranianos ocuparam a embaixada dos Estados Unidos em Teerã.
Antes da segunda-feira passada (21/9) o Brasil era considerado um mediador, um dos poucos capazes de ajudar a OEA a negociar uma solução para o impasse político hondurenho. Com a inesperada entrada de Manuel Zelaya e sua comitiva na embaixada brasileira fomos transformados – à nossa revelia, diga-se – em parte do conflito. E o pior: estamos sendo ameaçados por quem controla o país.
Pouco importa que o hóspede esteja assumindo posições claramente desafiadoras ao contrário do que recomendam os anfitriões – nós. O que importa são as ameaças ao Brasil. Isso não significa que a mídia deva abandonar a sua função crítica e entregar-se ao delírio patrioteiro. Significa apenas que há momentos em que o interesse nacional deve sobrepor-se aos interesses setoriais e partidários.