Sunday, 22 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Os novos números da violência

 

Os jornais paulistas chamam atenção para o fato de que a violência segue aumentando em São Paulo, tanto na capital quanto nas demais cidades. A realidade dos números se torna ainda mais impactante porque a imprensa havia “comprado” a ideia de que a criminalidade estaria sob controle com ações mais contundentes da polícia.

Em agosto deste ano, na comparação com o mesmo mês de 2011, os índices de latrocínio – roubo seguido de morte – aumentaram 71,4%, e o número de estupros cresceu 31% em todo o estado de São Paulo. Dos 17 tipos de crimes cujos dados foram divulgados pelo governo paulista, apenas três modalidades – roubo a banco, roubo e homicídio culposo – não apresentaram aumento.

Uma análise rápida dos indicadores apresentados pela Folha de S.Paulo e O Estado de S.Paulo em suas edições de quarta-feira (26/9) revela que os números mais expressivos se referem a crimes violentos contra a pessoa, enquanto decresce a atividade criminosa que tem como objetivo apenas o patrimônio das vítimas. Os roubos de carros, por exemplo, tiveram um pequeno aumento, de 3,9%, no estado e uma queda de 0,9% na capital.

No limite

Os homicídios, que podem ter muitas causas, como brigas, alcoolismo ou conflitos familiares, são a causa maior de preocupações, segundo fontes citadas pelos dois jornais, porque refletem situações extremas consideradas difíceis de prever e controlar. A circunstância se revela ainda mais grave porque foi constatado um aumento na taxa de homicídios dolosos, ou seja, quando há a intenção de tirar a vida de alguém.

Alguns aspectos nos dados sobre esse tipo de violência demonstram que a questão se relaciona com a ação policial ostensiva, mas vai muito além disso. Observe-se, por exemplo, como destaca a Folha de S.Paulo, que mais da metade dos homicídios registrados na capital paulista ocorre nas regiões onde os moradores fazem a pior avaliação das condições de segurança.

Segundo a pesquisa intitulada “DNA Paulistano”, publicada pela Folha aos domingos, durante este mês, o extremo sul da cidade e o extremo leste, onde ocorreram, respectivamente, 30,8% e 25,7% dos homicídios entre janeiro e agosto deste ano, são as regiões onde o maior número de moradores deu nota zero à política de segurança.

Alguma coisa de muito grave está acontecendo no estado mais poderoso da Federação.

Como anota a Folha, nem sempre a percepção subjetiva de insegurança constatada em pesquisas de opinião coincide com as estatísticas de ocorrências. Mas quando a percepção geral coincide com os números reais de violência, é preciso rever estratégias.

Na análise do Estadão, fica claro que os números de assassinatos em São Paulo se estabilizaram num patamar mais elevado do que os índices de anos anteriores, principalmente na capital, onde as mortes violentas passaram de uma média de 85 casos por mês em 2011 para uma média mensal de uma centena de assassinatos em 2012.

Há duas hipóteses, segundo o Estadão, para explicar o aumento da violência: a adoção, por parte do governo paulista, da estratégia de confrontar as facções criminosas, estimulando a polícia a atirar contra suspeitos que estejam armados, estaria provocando atos de vingança dos criminosos; ou a tese de que a criminalidade, assim como os indicadores econômicos, apresenta comportamentos cíclicos.

Em qualquer das hipóteses, o fato é que a população paulista está submetida a uma crise de insegurança pública. E, segundo admite o Estadão, a eficiência das políticas adotadas pelo governo paulista parece ter chegado ao limite.

Cobrança necessária

Como não se pode admitir que a sociedade siga à mercê do crime, é preciso estender esse debate, mesmo porque alguns candidatos a prefeito andam fazendo promessas de soluções milagrosas para o problema.

O crime organizado, que no território paulista responde pela sigla PCC – Primeiro Comando da Capital –, deve ter alguma responsabilidade em muitos casos de latrocínio e execuções e na forma como se alternam certas modalidades de crimes contra o patrimônio.

Os números atuais indicam, por exemplo, que os ataques a bancos vêm sendo trocados por roubo de carro. No entanto, os dados mais preocupantes se referem à violência contra a pessoa.

As campanhas contra o abuso de álcool por parte dos motoristas parecem dar resultado, a julgar pela queda no número de homicídios culposos no trânsito. Mas o que poderia explicar, por exemplo, o grande aumento no número de estupros? Seria resultado de maior disposição das vítimas para denunciar seus agressores?

A imprensa precisa cobrar das autoridades uma resposta e uma ação mais efetiva.