Sunday, 24 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Osvaldo Martins

‘Hoje começa uma nova etapa nesta experiência pioneira na televisão brasileira que é a função de ombudsman criada há um ano na TV Cultura. Como já havia informado em comentário anterior, meu foco agora está fechado exclusivamente na programação de jornalismo. A demanda de telespectadores sobre todos os demais temas passa a ser atendida pelo ‘Fale conosco’ e/ou pelos endereços eletrônicos dos respectivos programas, pelo menos até a Fundação Padre Anchieta organizar e pôr em funcionamento, como pretende, a sua Ouvidoria.

A análise periódica do jornalismo da Cultura passa a levar em consideração dois aspectos: 1 – A qualidade do jornalismo produzido aqui, com as características e os compromissos inerentes a uma TV pública. 2 – Eventuais comparações, quando for o caso, com os conteúdos de informação oferecidos pelas outras emissoras de sinal aberto.

Antes do início desta nova etapa eu pedi à direção da TV Cultura que definisse, pelo menos em linhas gerais, os parâmetros daquelas características e daqueles compromissos, pois não seria correto cobrar do jornalismo da casa atuação e comportamento diferentes do estabelecido. A questão era: o que fica estabelecido?

A direção da FPA e a direção de jornalismo discutiram o assunto, com a participação dos profissionais da TV Cultura, e estabeleceram os tais parâmetros – dos quais estou ciente. A rigor, o principal marco limitador (como em qualquer outra emissora) é o tamanho do orçamento. A indústria da informação opera com margens de desperdício (publica menos do que produz), o que torna o jornalismo uma atividade dispendiosa por natureza.

Não se espere, pois, da Cultura, uma cobertura jornalística de dimensão planetária, com correspondentes espalhados pelos quatro cantos do mundo. O noticiário internacional regular continua a ser fornecido principalmente pelas agências. Mesmo aqui, dentro do país, o orçamento do jornalismo da Cultura não permite a produção própria (equipes de reportagem) em todas as principais praças. Exceto Brasília, onde o serviço próprio já existe e será ampliado, a saída é aproveitar o material fornecido por outras emissoras enquanto, simultaneamente, é montada a estrutura de afiliadas da futura Rede Cultura.

O que se pode esperar da Cultura – e da minha parte, como defensor do público cobrar – é um telejornalismo que cumpra o seu elementar dever de informar com exatidão, diariamente, a respeito dos principais assuntos da atualidade. E que, ao fazê-lo, procure sempre aprofundar e explicar, até de forma didática (se não em todos, pelo menos em alguns casos), o por que dos fatos do cotidiano. Essa receita, tornada compromisso, tem a pretensão de oferecer ao público da Cultura conteúdos de qualidade que a diferenciem, para melhor, das demais emissoras.

Esse diferencial, com linguagem e estética televisivas inovadoras e atraentes, pode perfeitamente ser alcançado. Ele requer inteligência, criatividade, agilidade, acuidade e muito suor – mas cabe nos limites do orçamento.’