O mês de outubro foi rico em notícias envolvendo a educação. No início, o roubo das provas do ENEM, algo mais, talvez, do que mero amadorismo, permitiu ao MEC demonstrar capacidade de superação em meio à crise. O ministro Fernando Haddad, em lugar de perder credibilidade, ocupou espaço na mídia de modo positivo. Saiu fortalecido.
Se houve interesse em desgastar a imagem de uma nova liderança política, aconteceu o contrário. Em longa entrevista ao Estadão neste domingo (01/11), Haddad, conversando com a jornalista que denunciou o vazamento, Renata Cafardo, aproveitou para elogiar – ‘a prova não foi realizada […] graças ao bom jornalismo que nós temos no Brasil’ – e, com igual senso de oportunidade, afirmou seu empenho em combater a anomalia do vestibular da decoreba. Outro recado: ele espera que o incidente não seja usado como pretexto para adiar a implantação do novo ENEM.
Premiar o talento individual
A educação pública brasileira será melhor (ou seja, haverá aprendizado!), quando, entre outras ações, os professores forem valorizados. Ruy Castro denunciou em ‘Ao mestre, com desprezo‘ (Folha de S.Paulo, 13/10) o que já sabemos. Festejar o Dia do Professor está cada vez mais difícil. Os mestres se sentem desprezados: salários incompatíveis com o grau de responsabilidade, insegurança nas escolas, falta de comprometimento dos alunos.
O caso de São Paulo é emblemático. O secretário de Educação Paulo Renato Souza, entrevistado pela revista Veja (28/10) e adotando atitude ‘racional’, supostamente acima de qualquer ideologia, termina por ser ideológico também. Sua bandeira é a da meritocracia, cuja base é o darwinismo social. Não há diálogo com a ‘espécie’ professor. Que vençam os indivíduos mais fortes! Que seja premiado o talento individual! Só assim aumentará, segundo ele, ‘a eficácia das políticas públicas para a educação’.
Mais verbas
O mês terminou com uma boa notícia, não suficientemente comemorada. O Senado aprovou a extinção gradual da DRU incidente sobre os recursos destinados à educação, o que representa a liberação, para já, de R$ 11 bilhões. A ideia é que o MEC ajude Estados e municípios a universalizar a educação básica. Desmonta-se, assim, uma trava para a educação criada em 1994 pelo governo FHC.
Sem dinheiro para a educação, e dinheiro bem administrado, teremos apenas discursos demagógicos, ou autoritarismo sem um pingo de sensibilidade para com a tarefa (a arte) de ensinar.
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Doutor em Educação pela USP e escritor; www.perisse.com.br