Em tempos de jornalismo pasteurizado, locuções repetidas e merchandising aos montes que entulham as páginas dos jornais e subestimam a capacidade crítica do cidadão, vale a pena refletir sobre o que realmente é de interesse ou de algum modo contribui para a capacidade de discernimento cultural do leitor.
Entre as muitas hipóteses que me vêm à mente, apenas descreverei uma, por ser a mais crucial: a dica. Ao invés de apenas apresentar os produtos artísticos, as famosas dicas, em muitos episódios agem como promotoras das gravadoras, editoras, e assim por diante.
Subtraindo o conteúdo propagandístico, muito pouco resta de substância sedimentada que possa ser aproveitada por nós, brasileiros, para entendermos nossa sociedade, compreendermos as manifestações de nossa cultura, bem como a própria história por meio da arte.
Espaço ímpar no jornalismo, que deveria primar pela crítica cultural e propor o desafio diário da reflexão das peças, obras e lançamentos. Atualmente, os bens culturais desfilam nos jornais com as mais rebuscadas cores, tarjas, fontes, ilustrações e planejamento visual.
Conteúdo escondido
No jornalismo nacional, são raras as exceções verdadeiramente culturais que ilustram os noticiários impressos. No caso dos periódicos do interior do Brasil, a situação parece ser ainda mais horrível.
Talvez um dos motivos para o jornalismo cultural estar agonizando nas Unidades de Terapia Intensiva (UTI) se deva ao balcão cultural implantado há um bom tempo, que torna o paciente cada vez mais dependente das gotas cifradas dos ligeiros bens culturais do momento.
Enquanto isso, o conteúdo escondido, humilhado e submerso, aguarda doente, porém com esperança em dias melhores, entre as firulas do meio ‘cultural’, que não poupam esforços numa busca platônica pela performance.
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Jornalista e pós-graduando em Linguagem, Cultura e Ensino pela Unioeste (Universidade Estadual do Oeste do Paraná), Foz do Iguaçu, PR