Correm à solta na internet as ‘pérolas’ dos exames vestibulares, do Enem e até de simples provas escolares. A TV também tira proveito dessa situação.
Quem assiste com freqüência ao Programa do Jô, certamente já se deliciou com os erros de nossa juventude. O gordo não dá moleza: lê o besteirol, gargalha e faz seu auditório rir à farta com as aberrações em todos os campos do conhecimento.
Há poucos dias, diante do ministro da Educação, Fernando Haddad, o humorista leu um texto em que o estudante confundia os fungos da Biologia com o simples ato de fungar. Era uma verdadeira redação sobre fungadas! Sabiamente, o ministro avaliou como um escárnio por parte do estudante.
Homem inteligente e culto, talvez caiba interpretar que o humorista esteja deixando implícito o recado de que algo vai mal na educação brasileira e de que providências são necessárias. Buscando, por outro lado, tirar vantagem da situação hilária, Jô continua divulgando as ‘pérolas’, alimentado, quase sempre, por educadores que lhe enviam os textos, valendo-se da velocidade da internet.
Humilhação injusta
É curioso que a informatização, enquanto permite o sigilo de informações, pode escancará-las de modo, no mínimo, questionável. Hoje, em muitas instituições de ensino, as notas dos alunos não precisam ser mais exibidas em murais. De posse de uma senha, o estudante conhece o seu resultado. Reservadamente, nos conselhos de classe ou reuniões acadêmicas, é que os problemas coletivos ou individuais são analisados. Esse é o ambiente para que se busquem as razões das ‘pérolas’. A imagem do aluno deve ser preservada. Soaria como um deboche inominável a divulgação dos erros, mesmo sob anonimato, nos murais da escola, por exemplo.
Causa, portanto, estranheza que educadores e promotores de exame dêem essa dimensão pública à insapiência dos educandos.
Esse procedimento, hoje mais acirrado, é bastante antigo. Lembro-me de que há mais de 20 anos um jovem dedicado me procurou, munido de um jornal que exibia parte de sua redação no vestibular, o que o deixara transtornado. Apesar do texto razoável, um erro crasso lhe fora fatal como se confirmaria dias depois, quando a universidade divulgou o resultado. O sucesso, entretanto, sorriu-lhe no ano seguinte. Foi justa aquela humilhação?
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Professor de Língua Portuguesa no Colégio Técnico Universitário da Universidade Federal de Juiz de Fora e autor de Português; teoria e prática (Editora Ática)