Saturday, 23 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Polícia Militar intimida jornalistas

Na quinta-feira (19/5), o centro do Rio de Janeiro foi palco de um fato lamentável e que fez lembrar os anos – de triste memória – da ditadura. Quatro viaturas da PM e uma da Polícia Civil cercaram a entrada da Associação Brasileira de Imprensa (ABI), na Rua Araújo Porto Alegre 71. Dez soldados, sob o comando do major Levy, ocuparam o local “preventivamente”, segundo o militar.

No auditório do 9º andar da ABI realizava-se um ato público em solidariedade aos 13 presos na manifestação contra a presença do presidente Barack Obama, ocorrida em março último. À época, alguém, provavelmente agente provocador, jogou um coquetel molotov em um segurança do consulado estadunidense, o que serviu de pretexto para a violência das prisões.

No ato de solidariedade aos presos, que estão respondendo processo, estavam presentes representantes de movimentos sociais e parlamentares, entre os quais o vereador niteroiense Renatinho (PSOL). E é por aí que se pode entender o ato intimidatório da PM, cujo comandante supremo é o governador Sérgio Cabral. A força estadual de segurança quis dar o recado aos movimentos. Agiram como na época da ditadura.

Triste memória

O presidente da ABI, Maurício Azêdo, e este conselheiro deixaram claro a indignação no diálogo que mantiveram com os militares que ocupavam a entrada da entidade, no intuito de saber de onde viera a ordem para a operação. Dissemos em alto e bom som que o que estava acontecendo repetia tristemente a época da ditadura. Azêdo comunicou-se com o governador manifestando o seu protesto.

Enquanto isso, o major Levy disse a este conselheiro que poderia deslocar as viaturas e os soldados para o outro lado da rua, proposta que na verdade tentava apenas atenuar a intimidação, mas que em essência não resolveria o impasse. O major, alegando que apenas “obedecia ordens”, disse que a “missão” que cumpria naquele momento era “apenas preventiva e não de repressão”.

O governador Sérgio Cabral, ao receber o protesto do presidente da ABI, ordenou ao secretário de Segurança Mariano Beltrame e ao comandante da PM, Coronel Paulo Sérgio, que resolvessem a questão. Os contingentes da PM se retiraram da entrada da ABI, mas duas viaturas permaneceram do outro lado da rua até o fim do ato de solidariedade, mantendo, portanto a intimidação.

O ocorrido ilustra bem a forma com que o poder público do estado do Rio de Janeiro lida com os movimentos sociais. A responsabilidade recai sobre o governador Sérgio Cabral e de alguma forma demonstra que muitas vezes acaba prevalecendo um poder paralelo na PM.

Se o governador ordenou, se é que ordenou, o fim do constrangimento que ocorria na entrada da Casa dos Jornalistas, de quem veio ordem de continuar a intimidação aos movimentos sociais com viaturas em frente à sede da ABI?

Ficou claro que o governo do estado, em função dos megaeventos esportivos que se aproximam – Copa de 2014 e Olimpíadas de 2016 – pretende seguir intimidando os movimentos sociais, de forma a evitar que se mobilizem e protestem pacificamente, como aconteceu no 9º andar da ABI.

Cabral conta com o silêncio da mídia de mercado, que mais uma vez simplesmente ignorou a ação da PM que fez lembrar os tristes anos da ditadura imperante no Brasil após a derrubada pela força do presidente constitucional João Goulart. A imprensa foi informada sobre o fato, mas nenhum jornal, televisão ou rádio registrou a violência institucional.

Em compensação, passados mais de três meses que ladrões roubaram letreiros indicativos de nomes de fundadores e associados da ABI, na mesma entrada da sede da entidade dos jornalistas, a polícia até hoje não identificou os responsáveis pela ação. Como a polícia, militar ou civil, prefere se ocupar na intimidação aos movimentos sociais, desvendar roubos como no saguão da ABI fica muito mais difícil, até impossível.

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Jornalista